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ISTANBUL, TURKEY - AUGUST 14: Liverpool celebrate victory following the penalty shoot out following the UEFA Super Cup match between Liverpool and Chelsea at Vodafone Park on August 14, 2019 in Istanbul, Turkey. (Photo by Michael Regan/Getty Images)

Do fantástico Mundo da Premier League para as Finais europeias pode não ir um instante. Durante anos se discutiu o porquê das equipas de topo britânicas não conseguirem o domínio do futebol europeu, e as explicaçoes avançadas foram sempre razoáveis e, tão, óbvias que nem sequer precisamos de as enumerar aqui. E, de serem tao óbvias, é natural que, em alguns anos apenas, elas fossem sendo resolvidas mesmo que uma ou outra escapassem (a enorme carga de jogos é ainda um problema na Velha Albion, por exemplo). No entanto, a enorme receita da Premier e a consequente viragem para a aquisição dos melhores jogadores, e treinadores, pôde finalmente resolver a diferença que se registava para Espanha. E em 2018/19 pudemos assistir a duas Finais europeias completamente inglesas, e que deram origem a esta magnífica Supertaça Europeia, entre Liverpool e Chelsea, jogada em Istanbul, à qual nem um spanish weather (que é como eles definem algo acima dos… 20 graus) impediu um embate que, em alguns momentos, foi de cortar a respiração.

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A intuição e todas essas coisas que o pensamento científico vira para o esoterismo nao é algo muito apreciado em futebol. Uma coisa é uma coisa, dirão os cientistas, e essa coisa física é factual. Tudo o resto, produto de mentes, pensamentos e energias, é coisa do oculto e por isso a ser evitada. Talvez por isso não seja científico dizer que quando Simeone se encontrava numa das suas primeiras experiências como treinador, no Estudiantes, a sua aura (?) e energia (?), que compunham a sua vibração(?) alertavam os nossos sentidos para que, somadas à competitividade que aquela equipa apresentava, sentíssemos que estávamos na presença de um dos grandes que ainda nao o era. Sim, sei que é difícil explicar e que ainda por cima a sua equipa não fazia 20 passes seguidos só para chamar a atenção (fenómeno que se seguiu depois de Guardiola revolucionar o futebol e colecionar imitadores que nunca perceberam realmente o Pep-Team), porém Simeone, anos depois, iria revolucionar por completo um clube que até então era presa-fácil nos palcos europeus (que o diga o FC Porto de Jesualdo). Ora, isto para dizer que as mesmas sensações que Simeone oferecia no Estudiantes, ofereceu também, a quem estivesse minimamente atento, Frank Lampard ao serviço do Derby County.



A aura, essa coisa horripilante, está sempre lá. Seja num Eusébio, já nos seus sessentas à porta da Adega da Tia Matilde, seja num treinador de baixo escalão que na sua mente já é de Premier League e de topo europeu. E Lampard é já – pelo futebol que preconiza e pela maneira como consegue que a sua equipa o pratique – um dos melhores treinadores da Premier League. Mais de meio Mundo ficará à espera que ele o confirme com resultados, mas ontem, uma pequena parte desse Mundo confirmou já que Frank Lampard é a escolha ideal para um Chelsea que começa a ver Liverpool e Man City a fugirem-lhe de umas mãos que já não cheiram tanto a petróleo. Isto porque ver estes blues jogar num 4x3x3 que evoca boas recordaçoes, é ver a base ideológica para aquele plantel (condicionado pela UEFA) crescer. São as combinaçoes a um, dois toques, a procura da verticalidade pelos extremos ou a horizontalidade para manter a redonda, e a temporização perfeita para ainda assim aquilo sair tudo a uma velocidade que foi supreendendo um Liverpool à espera de mais reverência e menos irreverência. E isso pôde confirmar-se numa linha defensiva que de tão ultra-confiante foi sempre demasiado estática para a dinamica que o Chelsea imprimiu. Contudo, Klopp, ainda zonzo pela primeira metade, teria sempre uma palavra a dizer.



Fosse ela Bobby, Roberto ou Firmino, o resultado seria sempre a cola que liga a sua temível linha da frente. E com isso, com esse playmaker que também é 9, o seu futebol poderia ser mais que a procura de Salah numa das alas. Com Roberto Firmino em campo apareceram a organização e transição ofensivas dos reds (Henderson e Milner ainda com os ouvidos a arder encostaram e ganharam duelo após duelo) e desapareceu, por largos minutos o Chelsea de um futebol que deixa água na boca. Isso e Mané. Ele que sem Firmino foi dado como AWOL, mas que com ele foi aquilo tudo do costume. Inteligente procura de espaço e venenoso e letal com bola. Sadio virou o jogo (aqui já saltámos para um prolongamento absolutamente desnecessário) mas o Chelsea não vergou. Mount ainda viu um belo golo ser-lhe anulado (no sempre cirúrgico e exacto assinalar de offsides por parte da equipa de arbitragem) mas Jorginho (ou Jorghino…) haveria de poder, com um só penálti, criar outra dezena deles, para deleite de quem nao era afectado pelo fuso-horário GMT+3. No fim, sim, ganhou o Liverpool (Abraham nao conseguiu dividir as águas com Adrian pela frente) mas também ganhou o Chelsea. E esta é daquelas que fica acima da dualidade Vitória/Derrota, pois ganhou um treinador e uma equipa, tenha Frank o tempo que tiveram Klopp e Pep e ficaremos a ganhar todos por uma Premier disputada a três e não a dois, como parece ser já assumido pela maioria dos seguidores do mais apaixonante campeonato europeu.

Liverpool-Chelsea, 2-2 (5-4) (Mané 48 e 95; Giroud 36 e Jorginho 101 g.p.)

PS: O FC Porto ficou de fora da Liga dos Campeoes, e ao contrário de alguns argumentos favoráveis que fui lendo, não sou rápido a recordar, ou a invocar, as conquistas de 2003 (UEFA) ou 2011 (Europa League) pois essas não nasceram de um playoff perdido. Nasceram de duas excelentes equipas criadas na pré-época e preparadas desde início para disputar essa competição. Ao FC Porto não falta ter um prémio de consolação por ser bom. Falta ser bom para ter um prémio de consolação. Daí que a casa de partida seja sempre criar uma equipa competitiva. Coisa que anda ainda longe de acontecer depois das saídas de Casillas, Militão, Herrera e Brahimi. O que bem vistas as coisas, e condicionantes, é mais normal do que anormal. Mas a vontade de fazer funerais…

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