Tudo sobre a vitória do FC Porto na Luz

O FC Porto levou a melhor no clássico e de maneira inequívoca. Para se perceber o quão raro é o adversário sair do Estádio da Luz sem sofrer golos, a última equipa tinham sido os dragões há mais de um ano (0-1 com golo de Herrera, a sentenciar o campeonato) e antes disso o Sporting na primeira época de Jorge Jesus, ou seja, há 4 anos (resultado de 0-3). Para além disso, nunca nenhuma equipa tinha permitido tão poucas oportunidades a este Benfica de Bruno Lage e tão poucos remates (apenas 2 remates e nenhum no alvo). O que demonstra bem a superioridade azul e branca no jogo.

O Porto foi  igual a si mesmo, uma equipa muito poderosa fisicamente, pressionante, agressiva com e sem bola, vertical e com muita procura dos seus avançados quer para disputar quer na profundidade. A construção a 3 com Pepe, Danilo e Marcano é agora mais eficaz, o espanhol foi um claro upgrade em relação à época passada, porque por ser esquerdino no lado esquerdo, é mais difícil de condicionar e pressionar, mesmo que a decisão seja jogar longo. Também Marchesin é mais importante que Casillas neste momento, bem expresso na quantidade de bolas que foram atrasadas sempre que não tinham vantagem no centro de jogo, quer quando em posse ou quando a recuperavam (na 2ª parte, ao contrário da primeira que lhe deram muito tempo com bola no pé, o Benfica foi mais pressionante sobre este, obrigando-o a jogar mais rápido e assim com menos critério e qualidade). O argentino tem uma bola longa de muita qualidade, com bastante precisão e foram várias as vezes que solicitou quer os laterais (mais Telles que Corona) como os 2 avançados (principalmente Zé Luís).

E uma das chaves do clássico foi essa 1ª bola. Enquanto Marega e, principalmente, Zé Luís ganharam quase a totalidade dos lances no ar à defesa encarnada, os avançados do Benfica perderam praticamente todos os duelos para Pepe e Marcano. Também a 2ª bola ficou marioritariamente para o Porto que jogou a partir daí. A força na profundidade dos dois avançados azuis e brancos ficou igualmente bem evidente neste jogo. Tanto no Corredor Lateral como no Corredor Central (e não raras vezes ambas, pois quando um cai no corredor outro agride o espaço que é deixado entre os dois centrais), muita potência, velocidade e bons movimentos com excelentes timings, sendo que em espaços largos são muito difíceis de segurar pelos dois centrais encarnados (principalmente para Ferro).

Tal como Bruno Lage referiu, faltou capacidade ao Benfica para ter bola controlada no chão. Os encarnados foram uma equipa com muito erro, técnico e de decisão, e consequente perdas. A muita pressa, excesso de verticalidade e demasiada procura pela profundidade, bem como os erros técnicos que se iam repetindo, levaram a que o jogo fosse mais físico e partido e aí o Porto leva vantagem. Também a Transição Defensiva ficou afetada por esta pressa em acelerar sem condições, a equipa não chegou junta à frente e não só não permitiu que a reação no Centro do Jogo fosse agressiva como os jogadores do equilíbrio não estavam preparados para a perda, anulando as referências de transição do Porto. Só Adel, quando entrou na 2ª parte, conseguiu dar qualidade à posse encarnada, saindo de zonas de pressão com bola controlada, colocando pausa no jogo coletivo e descobrindo as melhores rotas para o ataque, deixando sempre colegas em condições mais vantajosas.

Outra das chaves do jogo foi a forma como o Benfica nunca conseguiu acionar o seu jogo interior (com Pizzi e Rafa) e aí muito mérito para a forma como os azuis e branco defenderam esse espaço. Muito sacrifício para Zé Luís e Marega que tiveram de pressionar os 4 da construção do Benfica, para que Danilo e Uribe saltassem menos vezes da linha média, ficando a fechar o espaço entre eles para que a bola não pudesse entrar por dentro e estando posicionados para se quando esta entrasse conseguissem recuperar posição. A verdade é que nas vezes que a bola entrou dentro nos jogadores benfiquistas entre linhas, muito fortes os dois médios do Porto a recuperar posição e Pepe e Marcano com bons timmings de saída da linha defensiva para encurtar nos jogadores que iriam receber. Aspecto importante na linha defensiva do Porto que por ser tão forte condicionalmente, pode retardar bastante o retirar da profundidade (porque individualmente conseguem chegar primeiro ou ir buscar os avançados), abrindo assim menos espaço entre linhas e apenas mais tarde. Assim o Benfica não conseguiu associar-se por dentro como tão bem faz e colocar os seus jogadores mais decisivos em situações perante a última linha adversária.

Nota importante para o trabalho de Danilo e Uribe, já realçado aqui no blog. No primeiro jogo grande do colombiano em Portugal, aparentemente com passada menos larga que Herrera e menos chegada à área, mas mais forte defensivamente na ocupação dos espaços e na forma como rouba e saí simples para fora do Centro do Jogo. Já o português foi mesmo um dos jogadores mais importantes no clássico. Porque fisicamente é um monstro quer na ocupação dos espaços, quer em todas as divididas e com bola, apesar não ser um criativo, percebe bem o contexto e consegue dar saída e seguimento em cada posse, sem perder a mesma.

Última nota para 2 jogadores. Nuno Tavares é uma autêntica bomba, mas a jogar pelo lado esquerdo. A sua época de estreia está a ser marcada por jogar à direita e o mesmo até tem tido bastante sucesso o que lhe tem permitido somar muitos minutos importantes para a sua carreira. No entanto, quando o nível sobe e o tempo e o espaço aperta, nota-se a falta de um lateral direito destro ao Benfica. O seu jogo perde lateralidade em todas as recepções, conduções e passes do jovem português, bem como muitas decisões do miúdo são condicionadas por saber que eventualmente é mais vantajoso jogar seguro na cobertura que arriscar envolvimentos e combinações que para um destro ali seriam fáceis. Não obstante, não foi por ele que o Benfica perdeu e terá um futuro brilhante à sua frente, mas que debilita e muito o jogo encarnado em jogos grandes, isso é inequívoco.

O outro jogador a merecer destaque é Luís Diaz. O colombiano é um jogador com características físicas e técnicas muito marcantes. À passada larga junta muita velocidade em condução e capacidade de desequilíbrio impressionante. Falta melhorar os movimentos sem bola e a tomada de decisão, para que perceba essencialmente os timings para soltar. No entanto, promete ser um dos destaques da presente época e ser decisivo nos Porto, até porque já demonstrou ter baliza e ficou perto de marcar mais uma vez no clássico num gesto muito difícil mas de grande qualidade.

2 Comentários

  1. hey – a revisão deixou passar! Mas – TD – Transição Defensiva; CL – Corredor Lateral, CC – Corredor Central, CJ – Centro Jogo

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