Curtas da Champions

Começo por justificar o palpite. A saída (uma vez mais) de RDT no jogo contra o Gil Vicente, fugiu aquele que tem sido o padrão de liderança de Bruno Lage. Forçava um pouco um desconforto que já se notava anteriormente. Para que fizesse tal substituição com 2 a 0 no marcador, em vez de tirar quem nunca saiu antes (Seferovic)… dificilmente não haveria algo por trás – Nomeadamente – a preparação do jogo de hoje. A própria escolha por Seferovic na conferência de imprensa foi um indicador – Antes de tirar da equipa, dar protagonismo – Tudo uma questão de gestão do grupo onde Bruno Lage tem sido exemplar.

  • Independentemente das escolhas, e sem Florentino, Gabriel e Chiquinho, a diferença entre as equipas é muito grande, e notou-se na partida – Não apenas técnica ou física, mas acima de tudo de andamento! O Leipzig não tem um jogo “lento” (no que concerne à velocidade a que as situações de jogo se alteram e que obrigam a reajustes) ao longo de toda a temporada. O Benfica não terá mais de 4 ou 5 jogos “rápidos” em todo o ano, se lhe tirarmos as competições Europeias;
  • A velocidade de reacção, deslocamento e até de pensamento dos jogadores “alemães” mostrou-se muito superior à dos encarnados ao longo de todo o jogo, e com isso trouxeram sempre dificuldades para a construção do Benfica, ao contrário do que acontecia do outro lado – Também por isso muito raramente o Benfica conseguiu manter a posse por um período substancial da partida – Até porque não são muitos os jogadores encarnados que se sintam totalmente confortáveis sob pressão – Menção para Taarabt – Nestes jogos mesmo somando mais erros que o habitual no contexto Liga NOS, dá para perceber bem a diferença do marroquino para os restantes colegas;
  • Que estreia prometedora de Tomás Tavares. Já me tinha referido a ele na página de patronos. O perna longa tem classe. Qualidade técnica e capacidade para tomar decisões!
  • Jogo individualmente infeliz para RDT e Jota, mas importante referenciar que a incapacidade para levar a bola de forma trabalhada e com espaço para que pudessem receber prejudicou as condições para desenvolverem as suas acções;
  • Rúben Dias com uma exibição de enorme categoria no momento defensivo foi adiando por bastante tempo o que se foi adivinhando ao longo de toda a partida – O traduzir no marcador a superioridade no jogo;
  • O potencial de evolução de qualquer jogador e equipa numa Liga como a Bundesliga quando comparado com a Liga NOS é um absurdo – E a chegada do Leipzig ao grupo do Benfica foi um presente envenenado. Bem mais que o Zenit que chegou do pote um;
  • Resultado justo e que traduziu bastante bem as diferenças a todos os níveis das equipas. A Liga dos Campeões exige mais qualidade PONTO
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

25 Comentários

  1. Hoje o Benfica ganhou um grande lateral. Tem timing(defender e atacar), percepção, toque de bola. Só espero que o façam partir pedra, porque tem que mostrar que o é… Sei que os resultados valem tudo, mas gosto muito desta audácia do Lage. São aqueles momentos que se saí derrotado com um pequeno sorriso nos lábios.

  2. Pedro referes e muito bem a diferença de andamento da Liga Portuguesa para a Alemã. Eu pergunto-te a ti, como podemos nós ultrapassar essa diferença? Contratando jogadores com maior qualidade? Manter os bons jogadores da formação por um período superior a 3 anos? Como explicas o Ajax o ano passado? Qualidade individual aliada a um bom colectivo (trabalho do treinador) e manter a base por bastante tempo?

    Pergunto porque mesmo no caso do Ajax, haverá sempre a diferença de andamento não?

    Cumprimentos.

    • Metendo-me na conversa, acho que a falta de andamento existirá enquanto existir a falta de competitividade evidente na Liga. Enquanto existir esta divisão bi(eventualmente, tri)-céfala, nenhum clube terá mais que 4 ou 5 jogos “rápidos”. E sem estes, a evolução de equipas e jogadores fica comprometida, servindo os tais 2 ou 3 clubes para consumo interno mas denotando dificuldades de ritmo (físico e de pensamento) na Europa.

    • acho q na verdade isso depende mais dos adversários de SLB, FCP, SCP do que propriamente dos proprios grandes em Portugal … Curioso que a Liga Holandesa com aquela anarquia q tem… tem jogos mt mais rápidos… pq a bola anda sp para cá e para lá… por cá… é tudo a 10 à hora… (embora, deixa-me referir que o meu conhecimento da Liga Holandesa é pouquissimo aprofundado, e possa ser só um cliché e erro meu – tenho essa ideia!)

      • Respondendo a ambos, a centralização de direitos é uma boa medida, mas para vermos resultados disso no andamento da nossa liga vai uma grande diferença. Não será no espaço de 2as épocas que se poderá evidenciar o impacto da centralização, a diferença entre clubes é enorme. Mas se pensarmos bem nisso o problema da nossa liga é não haver clubes intermédios que possam dificultar a vida aos grandes, temos o Braga e o Guimarães e pouco mais. Mesmo na liga espanhola há uma diferença gritante entre Barcelona, Real e atlético dos outros, tem é clubes intermédios que aumentam o nível e a dificuldade.
        Relativamente ao andamento da Liga holandesa, não conheço, mas podes ter razão sim. Noto semelhante nas peladas que faço cá em Inglaterra. Os meus colegas são piores tecnicamente e a nível de compreensão de jogo e decisões, mas jogam mt mais rápido e são muito mais intensos. Basicamente os 5 seg que em PT tinha para pensar aqui tornam-se em 1 seg, simplesmente porque eles correm que se fartam e não desistem de uma bola, saibam ou não jogar.

        Como mudamos nós a mentalidade para aumentar o andamento?

        Noutro perspectiva temos o facto de o Leipzig ter a equipa competitiva que tem devido ao aspeto económico. Tem 3 titulares da seleção alemã, este Benfica quem tem como titular de uma boa seleção?

        • A centralização, infelizmente para o campeonato português, nos próximos anos não vai ocorrer! Porque entre factoring e operações de titularizaçao os clubes grandes em Portugal já alienaram os seus direitos para os próximos anos! É uma boa ideia mas não pode ser feito 😉

    • Começar por centralizar os direitos televisivos seria um começo. Deixar de tentar controlar clubes mais pequenos através de contratações, empréstimos e demais jogos de bastidores, também não faria mal. A corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco.

    • Começa pela forma como construem o calendário. Vejam Outubro… jogos das Taças, paragem para seleção, os jogadores vão chegar aos jogos europeus sem ritmo competitivo (que por si, já é baixo).

    • Não querendo discordar totalmente das questões dos direitos etc, do meu ponto de vista é mais uma questão de mentalidade e cultura. Em Portugal o que se vê mais é quebrar ritmo, é faltas e faltinhas para parar o jogo, queimar tempo em reposições e tudo mais.

      Enquanto isto for mantido, e não se apostar noutra visão, teremos sempre estes problemas. A premier league muito antes de todos estes milhões, de direitos centralizados, já tinha essa mentalidade, não foram os direitos que mudaram isso.

      Aliás, pode-se olhar para todo o futebol sul-americano, em que pode haver muito equilíbrio entre equipas e mesmo assim ritmo muito mais lento que o nosso. Pelo menos é o que realmente sinto.

      • “Não querendo discordar totalmente das questões dos direitos etc, do meu ponto de vista é mais uma questão de mentalidade e cultura. Em Portugal o que se vê mais é quebrar ritmo, é faltas e faltinhas para parar o jogo, queimar tempo em reposições e tudo mais.”

        A minha questão era mesmo por ai… Enquanto as armas dos clubes forem tão desiguais, os pequenos são obrigados a recorrer a este sub-jogo…

        O campo estratégico vai até onde vai e, na grande maioria das vezes, melhores executantes (pagos graças à diferença de recursos) acabam por fazer a diferença!

  3. O palpite é “repescado”…

    O jornalista da CMTV ontem à tarde já o tinha feito.

    Não querendo dizer que a originalidade do comentario é questionável, digo antes que ao contrario de comentador de futebol o Pedro é um analista.

    Continua forte e que o mediatismo não te tire aquilo que te levou até aí

    • não tinha visto… de momento as únicas pessoas que eu leio porque acrescentam, infelizmente para mim (porque perco quem acrescenta), e felizmente para elas, não estão a produzir porque estão a trabalhar em clubes (e vários são autores aqui, em pausa..) … por isso, poderei dizer muita coisa igual ou parecida a muita gente, mas sempre sem noção disso.

      obrigado pelas palavras

      • btw Maldini, viste o jogo pela TVI? Ouviste o comentador Luis Vilar? Pah… eu nao percebo muito de bola mas o tipo parecia cheio de lugares comuns e que não acertava uma. Para alguém como te deve ser desconcertante ouvir certos comentários.
        Eu gostava muito de ouvir comentários em que não se preocupassem tanto com a forma mas sim com o conteúdo. Os comentadores de futebol, especialmente na TVI, são super arrogantes. Faz-me lembrar um bocado o efeito dunning kruger quanto menos se sabe mais confiantes.
        Gostava de ouvir comentários que explicassem como é que é saída de bola das equipas, as alterações táticas das equipas no decorrer do jogo, conhecerem o histórico das equipas para comparar a forma como estão a encarar o jogo com base naquilo que fizeram antes etc.

        Bem, temos sempre o canal 11 🙂

      • Sou eu que devo agradecer, porque sem o LE, aquele antigo, formato “blogspot” estaria ainda hoje amarrado a dogmas que nos consomem, e ao quanto eu acredito que voces ajudaram a mudar a visao do jogo a todos os “treinadores de bancada” que tinham a paixao mas faltava o “resto”.

        Eu neste momento estou fora do paìs, sabes se hà a possibilidade de num futuro proximo o canal11 oferecer outra via para assistir ao canal?

        Fima isto, eu neste moomento estou fora do pais e gostava de saber se o Canal11 nao està a pensar em algum tipo de via online para ver o canal?

  4. Nada de alarmismos. A liga está de volta no fim-de-semana, e aí o Pizzi é o Rei, o Rafa a reencarnação do Overmars, a dupla de centrais remete para canto qualquer outra da Europa e qualquer pedregulho que saia do Seixal é uma pepita de oiro. Siga.

  5. Concordo com a questão do andamento mas sejamos sinceros, que estavam à espera quando o Benfica apresenta dupla não rotinada no miolo, dupla não rotina na frente e ainda um extremo e um lateral que pouco ou nada jogaram está época?
    Não estou a desculpar o Benfica, perdeu e perdeu muito bem. Mas diria que de entre tantos “achados” não posso ficar triste com o que vi.
    Para finalizar vou me repetir, neste momento no Benfica há o Adel e há os outros(que jogador…).

  6. Grande post meus parabens , este post traduziu tudo que eu senti durante os 90 mn , a diferença entre o ritmo de jogo em pt com os outros grandes campeonatos é simplesmente abismal…

  7. Boa análise, má opção do Lage (o avançado centro ontem tinha que ser o Seferovic pela capacidade física que tem e pela profunidade que dá ao jogo. O RDT teve muitas dificuldades nos duelos indiviudais, é um jogador mais “fino” mas os colegas estavam longe) e excelente análise do Nagelsmann que prevendo as alterações do Lage, alterou o sistema de um 3-5-2 para um 4-4-2. A quantidade de jogadores que o Leipzig mete na área em zona de finalização comparativamente com o Benfica é inacreditável. Acima de tudo há falta de intensidade no nosso campeonato, muitas paragens, muitas faltas… É uma questão cultural! Os únicos jogos que o Benfica tem em Portugal em que não há tempo para respirar são só contra o Porto. Invariavelmente, nestes jogos, o Pizzi desaparece. Como Rafa não é titular? Teve duas semanas na seleção e pouco jogou. Se está convocado, não está bem fisicamente? (não ouvi a conferencia do Lage).

    • Não estava bem fisicamente, o Rafa, tal como o Pizzi (que mesmo assim jogou) e o André Almeida. As “invenções” de que se fala do Lage foram mesmo por necessidade.

  8. Acho que se o resultado fosse um empate haveria outras reações! Um jogo equilibrado e, se alguém tivesse que vencer, seria o Leipzig! No entanto não deixou de ser um bom jogo do Benfica e, com certeza, viraremos os resultados adversos. Um abraço e viva o BENFICA!

  9. A diferença de andamento é verdade mas é apenas uma pequena parte. Na época passada no dragão e até na Alemanha não se notou diferença de andamento. O que notei ontem foram outras coisas, mas essas o adepto não quer saber. desde que a equipa ganhe no próximo volta a ser a mais maior. Abraço e que venham mais análises do jogo pelo jogo.

  10. Seguramente que a pedalada faz diferença e a publicação é interessante, tanto na abordagem ao jogo quanto à sua preparação. No entanto fiquei também com a ideia que a superioridade – nesta fase da época, pelo menos – é quase total dos alemães. Mesmo em termos colectivos e de modelo de jogo, para lá da diferença de potencial em termos individuais ou de intensidade. Agora, há uma vitória para o Benfica e até para o treinador: ganhamos mais um jogador fantástico. Adorei o Tomás Tavares.

  11. Objetivamente, o Leipzig foi mais forte, mas objetivamente também o Benfica comseguiu criar oportunidades na mesma quantidade do adversário e mesmo tendo baixas importantes.
    O Florentino dá muito ao equilíbrio e gere muito bem as transições e o Gabriel pode libertar o Taarabt para jogar entre linhas como segundo avançado (algo que defendi no fds passado e que se subentendeu poder vir a acontecer pelas palavras do próprio Lage).

    Agora, mais que o “andamento”, o que observo (e que já vem da época passada como aqui já referi várias vezes) é a falta de thesholds.
    Ou seja, faltam thresholds (ou gatilhos, como colocaram na análise Fla vs Santos) que demonstrem uma relação causa/efeito estudada, treinada e executada, que adapte p jogar ao que o jogo pede em cada momento. O Benfica, mesmo fazendo adaptações estratégicas (e bem) seja pelo número de centrais do adversário ou pelo tipo de saída de bola, etc, acaba por jogar quase da mesma forma todo o jogo sem se verem ajustes substanciais ao longo da partida seja no tipo de pressão seja na gestão da largura e profundidade, no juntar de linhas, na subida/descida do bloco, etc. A equipa joga muito estendida e larga.
    É como se o Benfica sofresse do que tenta causar aos outros, isto é, da mesma forma que tenta estender o jogo para criar espaço entre linhas e corredores para chegar ao último terço (espaço que tão bem explorado foi pelo Felix na época passada), acaba por oferecer esse mesmo espaço ao adversário.

    Concordam?

  12. Para mim o que falhou mais que tudo foram os alas. A ligação era feita invariavelmente pelo meio, através do Taraabt (que craque!). Os alas não davam ligações, não criaram desequilibrios, e quase nunca se conseguiram juntar aos avançados, que estavam muito sozinhos e se tornaram presas faceis de anular.
    Enquanto tiverem medo dos jogadores e o Pizzi for titular em jogos de Champions, dificilmente iremos lá. O Rafa não ter jogado é um mistério. Espero sinceramente que tenha sido por indisponibilidade fisica ou isto está mais grave do que aquilo que eu já penso.
    A melhor equipa do Benfica é Florentino, Gabriel. Jota, Taraabt, Rafa e um dos pontas, ainda não sei qual deles. Deviam treinar o Rafa para explorar as costas da defesa. Acho que têm treinos todos os dias.

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