O Brasileirão é uma zona?

É comum ouvirmos no futebol que não existe certo ou errado, melhor ou pior, que são ideias e não se pode ter juízo de valor sobre a ideia a priori e sim sobre a aplicação dela. Pois bem, em resumo, de fato, não existe conceito melhor que o outro, você pode ter afinidade mais com uma determinada ideia do que com outra, faz sentido esse raciocínio, porém, quem já treinou minimamente uma equipe sabe que existem princípios mais fáceis de aplicar do que outros e operacionalizações mais rebuscadas do que outras que impactam diretamente na construção de jogo de uma equipa. Por exemplo: pedir para um central quando está sob pressão executar um “chutão” porque é mais seguro e dar a possibilidade de brigar pela primeira e segunda bola lá na frente é, sem dúvidas, mais fácil que dar a ele ferramentas para sair da pressão com bola “limpa”, ou seja, com passe ou com condução garantindo a manutenção da posse da bola ao invés de colocá-la em disputa. Dito isso, eu acredito que um futebol mais rico geralmente vem acompanhado de operacionalizações mais complexas, não pela complexidade em si, mas por ser mais pormenorizada e levar em conta mais aspectos importantes daquele momento do jogo.

A marcação individual, processualmente, tem essa relação com a defesa a zona , ou seja, marcar de forma zonal é mais aprimorado. É mais aprimorado porque consigna o atleta sob as 3 referências de marcação: indivíduo, bola e espaço, isto é, o atleta sabe que protege um espaço vital, geralmente a suas costas, da entrada da bola e protege do portador adversário e do possível futuro receptor e nisso tá implícito que o atleta entende quais são os espaços vitais e sabe como protegê-los, que entende como direcionar o adversário para o seu lado forte ou denso, buscando superioridade numérica  com objetivo de controlar o oponente, que impede a entrada da bola no entrelinhas, que protege as costas da última linha e que defende-se da circulação rápida para evitar a invasão da bola pela lateral do lado oposto do bloco. A operacionalização disso implica em uma postura corporal assertiva tanto na abordagem do portador para direcioná-lo para lado forte como da última linha em sincronia para cobertura da bola, implica também  em automatizar a leitura da tomada de decisão para qual ação executar quando a bola entrar nos espaços que estão à defender e da mesma forma, definir, dentro da estrutura sistemática, quais são as prioridades dos espaços que estão a defender,  quer dizer, é desenvolver referências coletivas comuns para criar um bloco homogêneo. É complexo e apesar de provavelmente exigir menos fisicamente do atleta do que quando marca individual, exige mais do intelecto dele.  Mas então por que no Brasil defende-se tanto de forma individual?

Marcar individual por encaixes, seja setorizado ou não, é de muito mais fácil aplicação do que marcar por zona e no Brasil encontramos muito mais exemplos de defesas individuais do que zonal e isso tem relação forte com a cultura do futebol brasileiro, onde acredita-se que as individualidades resolvem os problemas do jogo, soma-se a isso o calendário que não entrega tempo para a aplicação de conceitos  que demandam mais sessões de treino, que são mais profundos e por fim, ainda tem alguns treinadores que são limitados em relação ao entendimento e aplicação de determinadas concepções. Isso gera várias equipes que não controlam os espaços: não sabem gerir amplitude e profundidade, não compactam e desorganizam o bloco, são facilmente atraídas e geram espaços nos desequilíbrios das linhas, permitem que o adversário ocupe e jogue em seus espaços vitais e sofrem com seguidas desvantagens qualitativas, o que, inclusive, não faz muito sentido porque se o atleta brasileiro é muito bom no 1×1, à última coisa que eu desejo é deixá-lo nessa situação. Por tanto, se faz necessário mudar os pontos citados acima, calendário que permita aplicar melhores conceitos ao longo da temporada e maior entendimento coletivo dos treinadores brasileiros em relação ao processo defensivo com objetivo de minimizar a quantidade de equipes com processos defensivos “pobres” e vulneráveis. Isto quer dizer que o campeonato brasileiro não é um zona.

Respectivamente, São Paulo, Grêmio, Internacional e Palmeiras marcando de forma individual e concebendo espaços:

Texto e imagens de Rafael Marques
rafaelmarquesfutebol@gmail.com
Instagram: @rafael.marques.oliveira

4 Comentários

  1. Sim o futebol é uma zona sim.. arcaico, velho e inoperante… Senão vejamos… Falta no ataque e é permitido barreira.. isso beneficia o infrator… Tá errado, somente o goleiro pode colocar as mãos na bola mas o lateral é batido como???
    Pênalti não é uma falta dentro da área? Então como pode decidir campeões batendo penais se não houve falta e pior, os penais são batidos depois do jogo encerrado.. háa mas está no regulamento… Por ainda, fizeram regras ilícitas para dar veracidade dos erros… Então eu digo: FUTEBOL É UMA ZONA SIM.

    • Não se bate pênaltis numa disputa título. São tiros livres diretos da marca de onde são cobrados os pênaltis. Penalti, como o próprio nome já diz, é punição a uma infração a regra do jogo dentro da área.

  2. É impressão minha (pode ser uma situação transitória de jogo, o que duvido face à abundância de marcações individuais mas que só é possível confirmar em vídeo) ou o Grémio joga com um central de marcação e líbero? Ou seria uma estrutura com 3 centrais e um deles pura e simplesmente não sabia em que adversário “agarrar”?

    • Não, é uma linha de 4 quebrada pela subida do lateral esquerdo para pressionar/encaixar mais alto. O Grêmio defendia-se nesse jogo no 1-4-4-2 com duas linhas de 4 e uma primeira linha de 2.

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