A mudança, a ausência de Marega no pior FC Porto


…ao contrário do que alguns papagaios dizem, não é chegar de qualquer maneira à baliza adversário. Sabemos o que fazemos no ataque. 

Sérgio Conceição

Ainda que num estilo nem sempre bem aceite ou até correcto, Sérgio Conceição teve toda a razão do mundo quando se insurgiu contra quem, por não ter qualquer noção do que é a dinâmica de uma equipa referiu que o FC Porto não tem trabalhado o seu ataque organizado.

Quem analisou com cuidado para entender o pormenor do ataque dos azuis, percebeu que havia até maior variabilidade e mais condições para marcar que qualquer outra equipa em Portugal. Porque especialmente forte no ataque à zona de finalização a explorar o jogo exterior, e as bolas paradas. Algo que em Portugal mais ninguém apresenta tal poderio. E recorde-se que um golo após um cruzamento ou após um pontapé de canto vale a exacta mesma pontuação que um outro que envolva uma elaboração interior maior.

Também os movimentos de Marega, foram sempre determinantes na organização ofensiva do FC Porto. o maliano foi sempre o jogador que esticou as linhas defensivas adversárias – Que lhes provocou desconforto e obrigatoriedade de constantes reajustes, que depois possibilitam falhas posteriormente exploradas, mesmo que por outros colegas. A importância de Marega no modelo de Sérgio Conceição, vai portanto mais além daquilo que é normal vermos no próprio maliano. Não é o que faz, ou apenas o que faz, mas o que provoca.

Curioso que após o jogo de Famalicão se tenha pretendido passar uma imagem de um Porto mais forte sem Marega, quando tal jogo teria até tido condições bastante mais profícuas para um resultado mais avolumado se com a capacidade de pressão e saída com espaço que este oferece, se nos recordarmos de como a equipa de João Pedro se expõs na sua saída para o ataque.

Da mesma forma que todos são capazes de reconhecer as dificuldades técnicas do avançado agora preterido, é impensável não se perceber como acenta e o que traz ao jogo que Sérgio defende e acredita.

No “Futebol Total”, programa do Canal 11, João Tralhão referiu-se a um estudo da UEFA que provou que as equipas mais bem sucedidas são as que fazem golos após menos passes. As coisas nunca são tão lineares – Recordo que a melhor equipa da história, o Barcelona de Pep Guardiola contrariaria de forma tremenda tal estudo. Mas, se há algo que está ai para quem for suficientemente inteligente tentar perceber sobre este jogo, é que não há uma forma mais eficiente para se vencer uma partida. Tudo é contextual, e qualificar uma equipa com base no estilo que adopta é um erro crasso. Como um erro teria sido colocar o Barcelona de Pep como uma equipa menos focada em dominar o jogo com bola, ou colocar o Liverpool de Klopp como uma equipa de travão após cada recuperação – É nas acelerações e jogo vertical que faz toda a diferença!

Sérgio Conceição mudou por duas vezes o sistema do FC Porto nos últimos 4 jogos – E se contra o Famalicão os azuis rubricaram uma exibição bastante positiva (sem esquecer a forma injénua como o Famalicão deu ao Porto exactamente o que mais o beneficia), os jogos seguintes trouxeram um Porto muito menos capaz na criação de oportunidades de golo.

Do 4x3x3 ao 5x4x1, com losango no meio, o FC Porto sentiu as dificuldades habituais quando pretende chegar pelo espaço interior e entre sectores, e não “desembrulhou” ofensivamente as partidas como é seu apanágio quando junta dois avançados de traços físicos bem marcantes – Um na profundidade (Marega), e outro na área de finalização (Soares ou Zé Luís).

Organização Defensiva – Impedir Entrada para Criação
Organização Ofensiva – Construção

Causa – Efeito?

O que é certo é que a troca do 4x4x2 demonstrou-se apenas benéfica no jogo contra o Famalicão, porque foi a equipa forasteira bem ingénua ao cair na armadilha de progredir para cima da zona que o Porto definiu para recuperar – Por isso três golos de contra ataque em Transição Ofensiva.


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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Papagaios também podem ser vocês, que andam a nos tentar convencer há dois anos e meio que o FCP tem um jogar coerente. Pois não tem, acho que é evidente. Lamento mas vocês não têm sempre razão. Ninguém tem. Podem dourar a coisa como quiserem mas depois a realidade é sempre (bem, às vezes) maior do que a ficção. Até julgo que os dois primeiros parágrafos são de certa forma contraditórios com o que se diz a seguir. Tanto não é de grandes ideias que para lá da profundidade e do corre Marega as coisas são como são. Algo visível também nas contratações que o FCP fez este ano, onde gastou muitíssimo e contratou tudo gente supostamente feita mas com determinadas características (tipo o Tomás Esteves nem um minuto, Manafá até a extremo é opção). Julgo que as críticas ao modelo de jogo do Sérgio Conceição são estas e sempre foram estas. Se acham que é um modelo muito elaborado em organização ofensiva, ao ponto de ser o mais poderoso à face da terra, lamento, mas estão cegos.

    • Edson, sou portista e gostava de perceber, sem acinte, porque até acho que, por vezes, dizes coisas acertadas, que equipas do FCP, desde que vês futebol, consideras terem jogado bom futebol. Honestamente, a intenção com esta pergunta é discernir a objectividade do clubismo. P.S.: não sou fã do estilo de jogo do FCP com o Sérgio Conceição, a minha tarimba é outra, mas não acho que seja só pontapé para o Marega.

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