És de posse ou de transições? O jogo que sai da pequena caixinha mental de cada um

Não poderia ter respondido melhor Jesualdo Ferreira quando questionado por um jornalista sobre o facto da sua equipa ser uma equipa de Transições.

O professor explicou que todas as equipas são de transições, porque Transição é o momento do ganho ou perda da bola. Nesse sentido, todas as equipas são equipas de todos os momentos do jogo. E a melhor equipa do mundo sê-lo-à porque é uma equipa de posse em Organização Ofensiva, mas também uma equipa de “transições” competentes, nestes momentos. Como será sempre uma equipa de Organização a defender.

É fácil e óbvio catalogar o Barcelona de Pep (o exemplo é tantas vezes este, porque naquilo que considero o bem jogar – Para Vencer, e não para agradar a uma dúzia de desinteressados no resultado por dele não depender nada nas suas vidas – foi a melhor equipa da história) como uma equipa de posse. Mas, terá havido melhor equipa que esta no seu momento de Transição Ofensiva?

Não me recordo, ou tão pouco acredito nisso. Recorrer ao aterrador 5 a 0 frente ao Real, com vários dos golos a surgirem após roubos de bola e saídas rápidas será pouco para o recordar.

Nenhuma equipa foi tão eficiente e eficaz nos seus momentos de Transição. A Ofensiva que lhe valeu um sem número de golos – e tantos com chegada na profundidade, mas também porque definia como ninguém o momento de terminar a investida no contra ataque para entrar no seu ataque organizado, e a Defensiva – Momento fundamental, onde a rotação e andamento de um meio campo perfeito garantia o roubo da bola nos instantes imediatos à perda. Muito do valor da melhor equipa da história residiu também no que fazia sem bola – Por isso estava tão pouco tempo sem esta!

Sim! Porque para se ser de posse, não basta tentar conservá-la – Importa também recuperá-la de forma rápida! Para se monopolizar um jogo em Organização Ofensiva, e sobretudo quando não há Xavis, Messis, Busquets e Iniestas que são capazes de guardar a bola para sempre, há que ser eficiente sem bola, para que a eficácia surja em forma de roubo para que novo ataque se inicie, sem que se passe demasiado tempo em Organização Defensiva.

E ser uma equipa ultra competente não significará necessariamente ser-se uma equipa que passa muito tempo com a bola em cada posse, embora tal seja um facto quase OBRIGATÓRIO (se condições individuais o permitirem) se do outro lado estiver um adversário MUITO BEM organizado a defender – Porque ai, envolverá outra elaboração ofensiva. Mas, e se enfrentarmos uma equipa desequilibrada e sem tapar o caminho para a sua baliza? Ser competente será chegar lá rápido e explorar tais problemas, e não ficar a passar a bola à espera do que afinal já estava criado.

Ataca-se para defender e defende-se para atacar. Poderá parecer um “cliché”, mas não é.

Porque defende Klopp com uma primeira linha a três? Não estaria a sua equipa mais segura defensivamente se optasse por se fechar em Organização Defensiva num 4x1x4x1 tão habitual em quem ataca em 4x3x3? A forma como defende já prepara a forma como ataca – O próprio convite aos adversários para atacarem por dentro nas costas dos avançados, não é inocente. Mas, não se deve fechar o meio? Porque é esse o espaço que Klopp abre nas costas dos seus avançados?

Defende armadilhando o ataque adversário para ser eficiente a atacar logo que rouba a bola.

Cada vez mais se procura colocar tudo em gavetinhas. A gaveta do bonito, a gaveta do defensivo, a gaveta do ofensivo, e partindo daí a catalogação de BOM ou MAU em função de um qualquer gosto pessoal. Como se um jogo desta complexidade se encaixasse na pequenina caixinha mental de cada um, e não fossemos nós que tivessemos de encontrar no jogo horizontes maiores.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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