Que infância tiveste, Chiquinho?


E jogar na rua nada tem a ver com freestyle. Não tem a ver com organização, mas com tudo o que tem faltado nos programas orientados. É a bola a bater no chão irregular desenhando diferentes ângulos, obrigando a uma adaptação técnica, a um ganho de agilidade. É o estimular da criatividade usando os obstáculos. É o saltar por cima de um muro e deslizar por baixo dum carro para recuperar a bola que se perdia. A velocidade a que tudo decorre quando enfrentas miúdos com mais três anos, e a forma como tens de te adaptar se pretendes continuar a ser escolhido. É a persistência que adquires enquanto na baliza esperas pela tua oportunidade. Nada é oferecido! É o levantar permanente da cabeça porque não há equipamentos ou coletes, e tu tens de ver tudo. É o driblar quatro amigos porque não conseguiste vislumbrar um colega. É o tempo totalmente gasto a jogar. É o saber onde a bola não pode entrar, porque naquele quintal o vizinho vai furá-la! A variedade de situações… de jogo!

Deixem as crianças ser crianças. Deixem os miúdos driblarem, os defesas ter a bola no pé, não apressem o guarda redes nas reposições de bola e forcem apenas no sentido de os fazer perceber o jogo e não a posição.

“Joguei à bola todos os dias da minha vida desde os três anos” Messi.

In “Construir uma equipa Campeão” por Pedro Bouças

Cada lance em que Chiquinho intervém remete-me para um texto que escrevi há já alguns anos – Ninguém incorpora tão bem a importância da habilidade motora quanto o médio encarnado. A forma como enquadra, como roda sobre si mesmo, como muda de direcção. A agilidade que tem, como essa habilidade lhe permite ligar o jogo a 360º por uma eficiência absolutamente invulgar na forma como usa o corpo, é algo de absolutamente invulgar de encontrar nos dias que correm.

Não sei a quantas árvores subiste ou quantos muros saltaste enquanto fugias do vizinho, Chiquinho, mas a noção que tens do teu próprio corpo remete-nos para os apaixonantes jogadores de outros tempos.

Sobre Chiquinho, que foi por cá referenciado bem antes do sucesso no Benfica (aqui) na Académica, e (aqui) no Moreirense, não sobram muitos adjectivos para lá da evidência que a sua entrada na equipa do Benfica, pela sua qualidade motora, técnica e de decisões elevou para um nível não antes visto a equipa de Bruno Lage.

Com Chiquinho, cresceu também e muito Pizzi, e tornou-se para o Benfica fácil construir e criar.


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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Junta lhe a isso o profissionalismo ( vê se pelo tempo Record com que recuperou da lesão) e a humildade que parece ter e está tudo dito. Parafraseando o mister Lage “é craque”. Espero que fique por cá uns bons anos mas a continuar assim já fico feliz se não for vendido no próximo verão…

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