Oh when the Spurs go waiting in

À boleia do Tottenham-City do passado domingo poderemos fazer várias viagens. Poderemos resvalar para o lado mais negro do black&white thinking e explicar a vitória dos spurs com o estilo que a equipa de José Mourinho escolheu/foi forçada a, ou poderemos preferir o outro lado e criticar a abordagem e estilo que Pep Guardiola, mais uma vez, desenhou. Pessoalmente não escolheria nenhum desses pólos, sendo que o 2-0 (que dá um balao de oxigénio à liderança do português) explica-se com um fenómeno transversal a todos os estilos. Um fenómeno do qual Mourinho já foi vítima também, um fenómeno que, de quando em vez assola Guardiola, e do qual, na Premier League, só Klopp (esta época) parece escapar. A eficácia, ou falta dela, é um assunto que muitos preferem evitar por nos alhear da importância que julgamos ter. Sim, ao pé das bolas que entram, e das que vão ao lado, a nossa inteligência, perspicácia, consciência (em suma, valor, importância) parece algo bem reduzido. E isso faz-nos sentir do tamanho de uma formiga num mundo impedioso.

Mas é um facto que as análises, e por consequência, o valor que nos dão enquanto treinadores está directamente ligado à eficácia dos nossos jogadores. Mas, tal como no desempate por grandes penalidades, como se explica que em condiçoes tão favoráveis para introduzir a bola na baliza, uma equipa falhe mais do que outra? Isto porque o City, dono e senhor do jogo, territorialmente e ideologicamente, criou várias chances, oportunidades favoráveis a um desfecho que levaria para o marcador a diferença de qualidade entre as duas equipas. Mas não o conseguindo por (chamem-lhe aquilo que quiserem) infelicidade, incompetência, pouca clarividência, deixou que um estilo superior dentro das quatro linhas saísse por debaixo de algo mais rudimentar mas que acabou triunfante. Sim, em White Hart Lane ouve-se, todos os jogos, oh when the spurs go marching in, porém, contra o City, deveríamos ter ouvido, desde princípio, oh when the spurs go waiting in.



Nas quatro-linhas, convençam-se, tanto faz! Tanto faz que pensemos em superioridade/inferioridade como escape à realidade do jogo e do resultado. Podemos sentirmo-nos melhor se arranjarmos um bode espiatório, é verdade, mas isso não anula que um estilo superior (e que a olho nu fez tudo para ganhar) não possa sair vergado pela espera do erro desse tal estilo superior. Desde princípio o City aproveitou a sua maior vontade de ter bola para jogar no meio-campo ofensivo. Desde cedo o City aproveitou também a falta de apetência dos spurs para elaborarem e atraírem os cityzens e explorarem o espaço nas costas. Foram assim mais as bolas que Sánchez&cia ofereceram do que aquelas que Son, Moura e Bergwijn aproveitaram entre a linha defensiva azul-celeste e Ederson. Estavam então todos os ingredientes reunidos para um cozinhado britânico-catalão ser um sucesso. Erro nosso. Faltava um.

Fosse o City mais eficaz, no penálti, nas bolas que foram à barra e o sublinhar do estilo, the icing on the cake, seria uma realidade inevitável num final de jogo previsível para as casas de apostas. Mas depois de tanto inexplicável falhanço (sim, o que explica isto e como se treina? Como se resolve?) o Tottenham aproveitou o fluir de um jogo cheio de erros crassos do City. Esses começaram por ser onde mais afecta no marcador mas menos no sentido do jogo – último terço. Esse era [sentido] único para os cityzens, mas à medida que a bola preferia beijar a barra ou a rede lateral do que tocar no cordame que dá pontos, outros erros se seguiram. E quantos mais passes fazes, diz a lógica que, mais passes errarás. E aí há que dar mérito ao Tottenham por ter aproveitado os erros mais centrais (em relação aos do último terço a culpa é inteiramente do Man City) da equipa de Pep. Há que dar o mérito, repito, porque que Agüero&cia foram desaproveitando, Bergwijn e Son não desperdiçaram. Ora em termos de dualidade (superioridade/inferioridade) isto não dirá muito. Bem sei, a necessidade de encontrar algo superior e associarmo-nos a ele, refresca o ego. Assim, se o estilo que eu prefiro ganha… eu também sou bom, eu também sei algo disto. Se não ganha, é porque alguma injusta lei universal assim o impediu porque, claro, eu também sou bom. Como treinadores, e até como adeptos, aconselho-vos a fugirem disto a sete pés. Não nos deixa compreender a realidade, não nos deixa encontrar aquilo que o jogo pede e, acima de tudo, nao nos deixa corrigir padrões de erro. Querem encontrar a ciência do jogo, deixem as redes da dualidade e sigam as do golo. A explicação há-de estar lá algures. Precisamos é de quem a(s) queira encontrar, ao invés de a(s) culpar por trair(em) a(s) nossa(s) expectativa(s). A era da realidade transcenderá a era da identidade, a era da estratégia e a era da dualidade. Essa identificará as reações dos jogadores a determinados momentos do jogo e ajudará a que eles os transcendam melhorando a eficácia. Aí será igual ao litro falar de estilo ou filosofia, como superior ou inferior. A energia será gasta a identificar e transcender as reações que assolam certos jogadores em certos momentos. Tudo para eles, tudo por eles. E se eles estiverem a topo, se eles aproveitarem o máximo potencial, até a nossa tacticazeca parecerá melhor! Ao invés, até um ideologia de topo é deitada abaixo pelo fenómeno contrário.

Tottenham-Man City, 2-0 (Steven Bergwijn 63 e Son 71)

4 Comentários

  1. Este jogo espelhou de forma perfeita a época do City e demonstrou o porquê de serem 22 e não serem 7 ou 8. Jogam muito, porque jogam, mas falham demasiado. E só por isso não são um sério contender ao título europeu.

  2. O que achas do Bergwijn? Fui apanhando uns vislumbres dele no PSV e parece-me um jogador interessante para o modelo do Mourinho, mas ainda não consegui perceber qual será o tecto real do talento dele.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*