Lições de Luís Freire

Luís Freire foi o convidado da sessão da Quarentena da Bola por Rémulo Jónatas, e uma vez mais da conversa saíram uma série de ideias e experiências que importa dar a conhecer. Para quem se inicia ou não, aqui fica uma série de considerandos sobre os quais importa reflectir:

Se pudesse escolher, jogadores têm de ter qualidade técnica forte, que isso facilita muito a vida ao treinador. Quero jogadores atrás capazes de fazer passes interiores. Jogadores rápidos que controlem bem os espaços em profundidade. Onde o treinador tem mais intervenção é na tomada de decisão… agora sem técnica e sem velocidade dificilmente consegues jogar a ter a bola e alto.

Treinador tem de se ir adaptando para chegar o mais longe possível

Ideia de jogo evoluiu com o nosso percurso

O que eu dominava do jogo era a vertente defensiva, entrei na Universidade a beber Mourinho, a vertente estratégica do jogo, a adaptação ao adversário… tudo o que era a aura Mourinho… então agarrei-me ao que dominava melhor e foi por ai que começámos… 

Procuramos ter oposição no treino, baliza, que a tomada de decisão esteja sempre emergente no treino… 

Eles não ganhavam nada, mas se chegassem um minuto atrasados o autocarro arrancava… foi uma forma de me afirmar, na altura. Não era fácil… éramos muito jovens…  houve sempre desconfiança associada, e nós temos de provar … e fizemos acreditar que vale a pena trabalhar e lutar pelo que nós queremos

Deu-nos muito trabalho, mas principalmente muito prazer (Mudar de privilegiar OD para OO). Na Distrital tivemos um laboratório de experiencias… fomos testando, errando, melhorando… tivemos 3 anos com o mesmo modelo de jogo, mas um dia olhamos para o campo e pensámos… ninguém vai pagar um euro por isto, então mudámos… apanhámos equipas que não eram obrigadas a ganhar, e isso também é importante.

Nós com bola sabíamos que éramos bons, e se empatássemos um jogo ninguém nos ia crucificar… a equipa sentia-se confortável com bola e era uma arma que tínhamos para controlar… quando existe uma pressão maior sobre os objectivos é mais complicado tranquilizar e controlar emocionalmente os jogadores para perceberem que o melhor caminho é ter a bola…

No Estoril tivemos jogos contra equipas superiores, e depois contra equipas mais frágeis com a obrigatoriedade de ter de ganhar, nem sempre fomos tão bons.

A missão do treinador acaba por ser também valorizar os seus jogadores

Fomos sempre evoluindo, tentando aprender com os outros também

Para termos uma equipa de qualidade com bola, a construção é fundamental. Qualquer bola que atrases ao guarda redes ou ao central se não tens as linhas de passe, vais bater na frente e acabas jogar um pouco na lotaria. 

Utilizamos o lateral direito (construção baixa) a partir do Pero Pinheiro, inspirados um pouco pelo que o Guardiola fazia no Bayern. E há uma parte muito importante que são os jogadores… O treinador não pode ter um jogador que não tenha caraterísticas para a ideia do treinador e depois o treinador tem de mudar tudo e já não é ele. 

Construção se tiver um guarda redes que não se sinta seguro ele vai bater… mesmo que eu ande aos gritos com ele. Sob pressão vai sempre achar que não tem linhas de passe, ainda mais quando os objetivos são altos.

No Estoril tínhamos um guarda redes com uma capacidade para sair a jogar fantástica, tínhamos jogadores que gostavam de assumir e isso ajuda muito. 

A 2a Liga tem isto… (equilíbrio) a diferença entre jogadores na 2a liga não é assim tão grande… e há muita pressão. Não é fácil jogar bem e ter resultados com a responsabilidade toda que temos.

Temos prazer em dominar o jogo mas para isso é preciso qualidade. Qualidade dos jogadores e tempo.

O ataque posicional era sempre o mesmo… No Estoril éramos bons mas era sempre igual e as equipas baixavam muito as linhas e tínhamos muitas dificuldades. No Nacional decidimos querer a mesma capacidade de ter a bola, mas dar menos referências posicionais ao adversário, até na construção. O que quero dizer? Adoptamos duas formas diferentes em ataque posicional. 

Tivemos que gastar [no Nacional] muito tempo na Organização Defensiva, estamos bem, agressivos, com várias formas de pressionar o adversário.

Com bola o nosso objectivo principal é conquistar espaço interior entre linhas, mas se está constrangido aproveitamos os nossos jogadores que são muito velozes… trocamos muito de posição lateral – extremo, para beneficiar da capacidade de desequilíbrio do extremo

O Nacional é obrigado a ganhar, está a empatar e não é bom, é preciso seres muito equilibrado … atacas, procuras o que queres mas de uma forma extremamente segura. O equilíbrio que deixamos é muito superior, o extremo do lado contrário sempre marcado. No Estoril tínhamos debilidades na Transição Defensiva, crescemos muito na nossa ideia este ano.

O objectivo da nossa posse é encontrar espaços para acelerar o jogo, O caminho mais perto para a baliza é o meio. A lateralizarão do jogo só me interessa para ganhar espaços vitais ao adversário. A circulação passa pela capacidade para atrair adversários para jogar-lhes nas costas. É preciso muita qualidade técnica para jogar entrelinhas… implica muita confiança, muito treino, muita capacidade dos jogadores e vamos perder bola ali, mas é preciso desmistificar. Calma, perdemos mas não vai acontecer nada, estamos equilibrados. 

A malta no futebol perdoa pouco… o que fica é se subiste ou não, não é o jogaste bem

Tudo fomos amadurecendo com a segunda liga… é uma liga que nos testa ao limite (pela variabilidade táctica)

Importante que tenham respeito pelo objectivo de todos nós [jogadores]. As grandes armas [da liderança] são autenticidade e apresentarmos competência. Os jogadores detectam logo se é organizado, se dá o exemplo, se tem boa ideia, se é honesto… são características fundamentais para liderar

Uma coisa é liderar jogadores que treinam três vezes, são amadores, e outra é guiar jogadores que têm carreira de curto prazo, que precisam de aparecer, que vivem do futebol

Quanto de estratégia levas para operacionalização do treino?

Levamos muita coisa, mas temos as nossas ideias. As características do adversário condicionam-nos a semana de trabalho, mas com base na nossa variabilidade de ideias. À terça feira já temos tudo pronto e planeamos em função também fruto das características do adversário. Tem uma influencia grande não na nossa forma de jogar, mas na nossa semana de trabalho. Só na quinta feira começamos a contextualizar no campo o adversário. Tem influencia ofensiva e defensiva. Tudo isto (observação de características do adversário) inserimos na nossa semana de trabalho.

Subimos as divisões todas e o nível 3 não abriu para mim e para outros treinadores. Abriu para ex jogadores… gostava que a ANTF falasse sobre isto

Temos de ganhar se não fazemos as malas

Na 2a Liga as equipas não te perdoam os erros que tens no teu modelo de jogo. Em Mafra levámos um banho de bola do Filipe Martins porque não estávamos bem na Organização Defensiva… Fomos adaptando em função do projecto… adaptação constante, e se calhar esta ideia de jogo do Nacional é mais complexa, mais dinâmica e implica mais capacidade do jogador.

Temos uma forma de organizar quase a mesma, temos nuances que eles conseguem identificar. Já consigo meter ataque posicional, troca posicional, mantendo equilíbrio. Estamos muito iguais ao que quero, independentemente do adversário. Temos é preocupações no equilíbrio, se um adversário deixar um ponta fazemos uma coisa, se deixar dois outra, temos essa preocupação em função do adversário.

Na distrital apanhámos muitos homens a homens. É um jogo de pares, o jogador livre ao trazer a bola é que vai dar a vantagem. Todas as formas de jogo são pressionáveis, tens é de saber como. E o adversário também te vai conseguir desbloquear se fizer as coisas bem… Jogar contra linhas de 6 implica mais qualidade individual também. Podes optar por ruturas, tabelas, mas passa sempre muito por isto, implica qualidade individual para ir no 1×1 para rematar de fora, para acertar uma tabela. Equipas que pressionam mais alto, se tiveres boa construção… podem-se por a jeito…

Se a pressão alta for bem feita, tens de trabalhar bem uma segunda bola e começar a jogar a partir daí

Actualmente é impensável ir para um jogo de olhos fechados. A observação prepara-nos para os perigos.

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