Atualmente, muitas equipas apresentam um modelo de jogo com uma intencionalidade clara de o dominar, controlando a posse da bola, preferencialmente no meio campo ofensivo e através de um jogo apoiado e associativo. Assim, é fundamental entender as responsabilidades e necessidades que um modelo de jogo com estas características acarreta. Ao ter posse de bola no meio campo do adversário, é recorrente que as equipas envolvam grande parte dos seus elementos no processo ofensivo. Neste sentido, é fundamental uma reação e sincronização macro no momento de perda de bola, de forma a impedir o êxito do adversário quando este a recupera.
“Penso que, quando se possui a bola, também tem que se pensar defensivamente o jogo.”
(Mourinho, citado por. Amieiro, 2007, p.131-132)
Vítor Pereira, numa recente entrevista ao programa “Quarentena da Bola”, afirmou: “quando eu vou ver o jogo (…) normalmente os meus olhos estão no momento seguinte, não estão no momento atual. Se a equipa tem bola, os meus olhos, como treinador, (…) estão no momento de perda de bola. Se a equipa está equilibrada ou não está equilibrada.”. A natureza inquebrável do jogo de futebol obriga a uma conexão total dos 11 jogadores. Independentemente da sua posição e distância da bola, todos os jogadores devem estar conscientes da sua função nos diferentes momentos do jogo. As funções sofrem constantes mutações e os jogadores devem ser capazes de se adaptar a estas variações. É fundamental entenderem que podem ajudar sempre a sua equipa e essa colaboração nem sempre implica estar em contacto com a bola ou estar nas zonas próximas da mesma.
A transição defensiva assume uma grande especificidade em função do contexto em que sucede. Carlos Carvalhal, num dos seminários online promovido pela ANTF, confessou: “Não quero uma equipa de posse que, no momento da perda de bola, tenha sempre o mesmo comportamento.”. As equipas devem saber interpretar este momento de forma a reduzir as hipóteses de sucesso do adversário na transição ofensiva, seja através de uma pressão imediata no portador da bola e nas áreas circundantes, caso a equipa esteja organizada e equilibrada, ou através de uma reorganização defensiva num bloco mais baixo, neste caso se a equipa se encontrar desorganizada.
O vídeo seguinte demonstra as dificuldades que o Ajax sentiu no momento da perda de bola no jogo contra o AZ Alkmaar, jogo que colocou frente a frente o primeiro e o segundo classificados da Eredivise. A equipa do AZ conseguiu chegar a situações de finalização através de transições ofensivas bem executadas, tendo inclusive chegado ao primeiro golo dessa forma, acabando por ganhar o jogo por 0-2.
A equipa do Ajax apresentou défices de equilíbrio ofensivo, dificuldades na interpretação do momento de perda de bola, nomeadamente nos timings de pressão, e falta de agressividade no momento da pressão.
“A nossa equipa vai ser, nitidamente, uma equipa de posse. Mas eu não quero que a minha equipa seja só boa a fazer posse, quero uma equipa que tenha uma boa capacidade de fazer uma posse agressiva, mas que tenha capacidade de estar equilibrada no momento de perda de bola, para a poder ganhar outra vez.” (Carlos Carvalhal, seminário online ANTF).
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