Paços do Concelho?

Fica difícil preparar uma retoma onde o enfoque, subitamente, é todo ele dirigido à eficácia. Segundo Sérgio Conceição – com muita razão, aponte-se – os maus resultos no período pós-confinamento explicaram-se em grande parte à falta de eficácia do FC Porto, que em todos os jogos criou chances mais que suficientes para vencer. Talvez por isso – mesmo que tenha passado despercebida – a mensagem do técnico (revelada pelo próprio) ao intervalo do jogo com o Boavista tenha sido nuclear. Depois de um período inícial pós-retoma onde chegou mesmo a criticar a atitude dos jogadores, Sérgio Conceição percebeu que uma das maneiras mais eficazes de lidar com a malfadada bola que não entra, não será culpabilizar, exigir mais ou criticar. Tranquilidade e calma, pediu Conceição aos jogadores nessas palavras aquando do meio-termo no dérbi portuense, como que a retirar-lhes um peso emocional que lhes toldava a vista na hora de acertar com o cordame. Pois bem, enfoque na eficácia e jogo com o Paços a revelar carências onde o FC Porto até se mostrou em bom plano até aí. Sim, em Paços, os portistas marcaram na primeira oportunidade que tiveram e ficaram, desta feita, bloqueados a criar.

A transição que Vitinha conduziu desde o seu meio-campo criou uma excelente oportunidade para o FC Porto (89′)



Um treinador, lembramos, pode muito bem tentar controlar tudo. Saber até a marca do perfume que os jogadores adversários usam, mas esse é um esforço inglório e impossível. Agastado, no final da partida, Conceição foi sincero ao dizer que não estava feliz porque queria ter ganho de outra maneira. É que o FC Porto, como já dissemos, sofreu a bom sofrer para levar os três pontos para a Invicta. E se o Paços, na primeira metade, não aproveitou a circulação excessivamente horizontal e a falta de ligação com os avançados (desta vez sem grandes culpas dos próprios, pois raras foram as bolas em que tocaram), a equipa de Pepa partiu para uma etapa complementar onde, finalmente, meteu em sentido os azuis e brancos.

Num raro exercício de jogar directo e procurar subir para o meio-campo adversário ganhando a 2ª bola, Corona tentou encontrar Luis Diaz aos 77′

Se até aí, mesmo sem ligar com o último terço (salvo alguma mobilidade de Soares anulada por fora-de-jogo), o Porto tinha (na medida do possível) o jogo controlado, a acutilância da 2.ª metade trouxe uns castores que se meteram na cara do golo duas vezes. Luiz Carlos e a mira torta (uma vez ao lado, outra em cheio a Marchesín) poderia fazer destes segundos 45 minutos algo parecido ao que se disse do Benfica em Portimão. Equipa recuada e sem iniciativa, temeráriamente à espera de um desfecho que lhes permite estar cada vez mais perto de festejar nos Paços do Concelho. É que se defendemos Sérgio pela falta de eficácia de Famalicão ou da Vila das Aves, também teremos que usar o mesmo prisma para esta exibição do Paços de Ferreira. Que Pepa é um osso duro de roer já o sabíamos, mas que o FC Porto passasse largos minutos confinado ao seu meio-campo sem se lembrar de jogar directo e (tentar) ganhar a segunda bola, dessa não esperávamos. Só aos 77′, os portistas se lembraram de fazer o que tantas vezes são criticados por tentar em demasia. Corona, ainda no seu meio-campo, procura a diagonal de Luis Diaz, numa jogada que deixou o cafetero na cara de Ricardo Ribeiro, num desfecho dividido entre a já regular inabilidade do colombiano para facturar, e a redenção do guardião no lance que deu origem ao golo solitário de Mbemba (7′). E até ao fim, assistimos ainda ao desenho em 451 do Porto a defender e uma transição conduzida por Vitinha, cruzada por Marega e que, por acaso, não acabou em autogolo. Pouco, dirão os adeptos; suficiente para estar mais próximo do objectivo, dirão Sérgio e os jogadores.

Paços de Ferreira-FC Porto, 0-1 (Mbemba 7′)

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*