Sobre Chiquinho

No dia de ontem surgiu um comentário nas redes sociais do Lateral Esquerdo perfeitamente normal em função da forma como o grande público olha para o jogo.

É incrível como é que uma pessoa pode achar se um bom entendedor de futebol quando diz que Chiquinho tem mais qualidade que Pizzi. Aliás quando alguém afirma que Chiquinho é jogador para jogar num candidato ao título está tudo dito

Tendemos a olhar para o jogo sem o perceber para lá do golo ou do último passe, e naturalmente que para (quase) todos fará sentido que Chiquinho tenha menos qualidade que Pizzi.

O que poucos entenderão é que para que esse último passe ou remate surja é necessário que a equipa tenha fluência no seu jogo ofensivo. Mais, para que uma equipa vença um jogo essa fluência é necessária. É praticamente obrigatório para quem quer vencer de forma sucessiva que tal esteja presente. São precisos muitos golos todos os jogos para compensar dezenas de perdas de bola que expõem a equipa e não só a impedem de chegar à baliza adversária, como permitem ao oponente crescer no jogo. Contra atacar, retirar tempo de jogo porque tem a bola fruto dessa perda.

Pequenos gestos incorrectos, relacionados com incapacidade para perceber o envolvimento e incapacidade para se ser eficiente tecnicamente quer na recepção quer no passe, emperram todo o jogo ofensivo da equipa.

E para que se possa ter alguém incapaz de ajudar com essa fluência, com esse jogo que se quer que aproxime a equipa da baliza adversária sem estar constantemente a voltar para trás porque alguém perdeu a bola, ou porque alguém não a perdendo recebeu mal, ou passou mal, mesmo que esse passe encontre o colega (mas no espaço errado, para o pé errado…) esse alguém tem obrigatoriamente de compensar com uma tremenda eficácia na zona de finalização.

É isto que separa Pizzi de Chiquinho. Os números enganam os menos atentos. Pizzi precisa efectivamente de marcar muitos golos (e marca-os!) para compensar tudo o resto no seu futebol. Já Chiquinho aproxima o Benfica de ganhar a cada toque que dá na bola, mesmo que não apareça nesses números.

Se ofensivamente as diferenças são notórias e óbvias, defensivamente mais se nota a diferença de nível entre um e outro. Por um lado podes sempre sair para o ataque porque nunca dará recuperação e o espaço tardará a ser fechado, do outro mesmo que não um primor, há disponibilidade para.

Para haver números é preciso quem alimente esses números. Se não forem alimentados não há. Já o contrário acontecerá sempre. Se alguém alimentar, os números surgirão. É como formar uma equipa com onze Mários Jardel.
Acredita que cada um dos onze faria quarenta golos por ano, ou será que num um deles chegaria aos cinco?

A simplicidade na forma eficiente com que toma cada decisão e permite ao Benfica chegar consecutivamente ao último terço, ou ai a ter condições para fazer golo, sem nunca expor a sua equipa aos seus erros por forçar a que tal aconteça, tornam Chiquinho o jogador mais diferenciado do Benfica, e o grande erro de Bruno Lage na presente temporada, que o tirou da equipa depois de um longo período só de vitórias com o médio / avançado em campo.

Enquanto uns forçam e perdem dezenas de bolas para ter um lance de notoriedade, outros fazem tudo bem. Colocam a equipa à frente da sua própria “fama”, mesmo sabendo que depois nem sempre têm o devido reconhecimento.

Dados WyScout:
Chiquinho – 2 Perdas de Bola – 88% Passes Certos
Pizzi – 13 Perdas de Bola – 77% Passes Certos
Dados sempre passiveis de desvirtuamento – Passe Certo nem sempre é um Passe Certo, se não vai para o espaço certo, para o colega certo, para o pé certo do colega certo! Não há dados que marquem ainda as más recepções que impossibilitam a equipa de criar.

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12 Comentários

  1. Excelente post.

    Aqueles que dizem que o pizzi é um craque são os mesmos que antes colocavam o Bruno Fernandes e o Pizzi no mesmo patamar qualitativo com base nos tais critérios qualitativos de quem observa o futebol pelas lentes do flash score.

    • Mas por exemplo, o Bruno Fernandes também é muitas vezes o jogador que mais perde a bola em campo.. O Messi igual.. Por isso, essa coisa da estatística não me convence muito, pq é preciso analisar com cuidado. O pizzi não é nenhum portento técnico, mas também não é tão mau como aqui pintam
      Há melhores que ele para aquela posição no mundo? Ora pois claro, se calhar conseguimos enumerar uns 30 ou mais, mas tendo em conta o Benfica e a realidade onde está inserido, o pizzi é um dos seus melhores jogadores, perde muitas bolas mas também arrisca bastante, as vezes também aparenta estar um pouco dorminhoco em campo, mas lá está, são defeitos que ele tem, mas também se não os tivesse já não tava no Benfica há muito tempo

  2. Ontem o Chiquinho jogou e fez jogar muito. Nunca percebi o porquê de ter sido tirado da equipa.
    Já sigo o site/antigamente blog à imenso tempo. Felizmente já consigo diferenciar os números de um pizzi com o que faz jogar um Chiquinho.
    Agora, não sei porque os treinadores continuam a insistir no pizzi, e outros que não acrescentam à equipa.
    Será que o trabalho durante a semana é assim tão melhor que o dos outros para serem sempre aposta? Ou será devido ao estatuto e este estatuto manda mais que o treinador?

    Acho que nunca iremos saber.

  3. Em 2017, neste blogue, Pizzi era Deus. Tudo o que era bom no Benfica passava por Pizzi.
    Chegamos a 2020 e, pelas análises que se lêem por aqui, nem qualidade para a B tem…
    Há claramente uma ideologia vigente e tudo o que não corresponda a essa ideologia (ou deixe de corresponder…) não presta.
    A análise parece-me incompleta. Não tem em conta as diferenças nas dinâmicas ofensivas da equipa, que existiam e foram deixando de existir.
    Pizzi é um jogador que tem um nível superlativo se a equipa tiver movimentações que lhe permitam exercer aquilo que sabe. Numa equipa de posse estéril, Pizzi não vai mostrar o mesmo que já mostrou antes.

    • É o normal… são cada vez mais pessoas a escrever no blog, e a cada vez maior notoriedade também obriga a um certo tipo de serviço diferenciado. Depois também se aplica a lei dos grandes numeros. Eles escrevem tanto, que é muito fácil encontrar algo e o seu contrário. Eles seletivamente só selecionam os textos passados em que acertaram esquecendo os outros 80% em que fora tiros ao lado. Mesmo o Chiquinho que hoje está a ser elogiado daqui a uns tempos se der em flop já vai ser crucificado… futebol!

    • se as nossas ideias em 2020 forem exactamente as mesmas que em 2017… alguma coisa esta errada. Nem pizzi é o mesmo, nem nós paramos de pensar. se andamos nisto sem mudar de ideias, é porque andamos nisto sem reflectir. De qualquer forma gratos pelo comentário e pela pesquisa de 2017!

  4. Erro crasso de Bruno Lage ao metê-lo no banco para colocar Rafa a segundo avançado. Tive o cuidado de rever os jogos do Benfica, e Rafa não sabe tomar decisões sem bola. Via-se imensas vezes o Nuno ou o Grimaldo a pedirem a movimentação entre lateral e central e Rafa simplesmente vinha dar apoio quando podia “rasgar” a defesa com uma simples desmarcação. Chiquinho contra o Marítimo fez isto tantas vezes e foi tão perigoso que praticamente todas as oportunidades que o Benfica teve vieram dessas mesmas movimentações. Quer a dar profundidade na ala, quer a vir buscar entrelinhas, Chiquinho leva o jogo do Benfica para outra dimensão. Apenas tem de melhorar o capítulo da finalização (não é nenhum João Félix) porque de resto, até na transição e organização defensiva ajuda bastante. Viu-se ontem Chiquinho a recuperar bolas em frente à área do Benfica, algo que Rafa nunca fez. Erro tremendo de Lage que nos custou muitos pontos.

  5. Em relação ao Pizzi, dizer que sou defensor acérrimo das suas qualidades técnicas. Mas tem um enorme defeito: o mental. O Pizzi é daqueles jogadores que os adeptos chamam de “chorões” e é verdade. Não pode ter algo que lhe corra mal, não tem resiliência mental para superar adversidades. Em todos os jogos importantes, Pizzi acaba por ser dos mais apagados, porque não lida bem com as dificuldades que o adversário lhe propõe. Inclusive, acho que veio dele (sendo ele um dos líderes do balneário) a iniciativa no balneário de que o treinador Bruno Lage estava errado. Viu-se ontem uma ala direita do Benfica a funcionar, com André Almeida (amigo e companheiro de Pizzi) a dar tudo em campo, a pressionar, a subir pela linha, juntamente com Pizzi que se moveu pelo último terço como já não se via há jogos. Foram os dois jogadores que mais senti diferença após a saída de Lage. E como se sabe, basta ter 2 jogadores (essenciais) a fazer “birrinha” para que uma equipa desça de rendimento. A verdade é que Pizzi desceu de rendimento, e com ele, a equipa toda.

    Há jogadores influentes no balneário, Pizzi é um deles, e tenho esta crença (suspeição se quiserem) que foi dele que surgiu a revolta contra Lage. Basta repararem nas reações de Pizzi para o banco e durante os últimos jogos. Inclusive disse em flash interview (ele e André Almeida) que “fizeram tudo o que lhes foi pedido”. Isto reflete muito aquilo que os jogadores pensam das ideias do treinador. Outro exemplo: o primeiro golo do Marítimo em que André Almeida vem a passo para defender.

    Resumindo, a qualidade está lá e Pizzi é dos melhores do Benfica nos últimos anos, mas no que toca a liderança e resiliência mental, comporta-se como um menino mimado com um ego demasiado grande. Ontem, contra o Boavista, era a oportunidade de Pizzi e André, provarem, que a culpa não era deles, e assim o fizeram.

    Com isto não quero dizer que o boicote tenha sido propositado, mas em qualquer ambiente de trabalho, sabe-se que as pessoas têm sentimentos que influenciam o trabalho em equipa.

    • Que perspectiva diferente! errada ou não, não deixa de ser interessante. Uma coisa é uma certeza (e quem já jogou futebol sabe), há muitas coisas que se passa no balneário que passa ao lado da grande maioria.

  6. Eu estranho é o Pizzi conseguir ser titular num grande, com ele e Almeida no 11 o Benfica está sempre mais perto de perder.
    O primeiro porque não ganha um único lance, fisicamente débil não passa por ninguém em velocidade, se passa com drible o adversário apanha-o logo. Não defende, perde bolas, é menos um que às vezes aparece na área a marcar, só isso.
    O Almeida porque é limitado tecnicamente, a bola atrapalha,não consegue jogar de primeira nem sob pressão, é mandar a bola para fora. E se leva com um extremo minimamente rápido ou tecnicista também é facilmente ultrapassado.
    Espero que JJ venha e encoste estes donos do balneário, juntamente com o Ferro obviamente, ele e o Pizzi não têm atributos físicos para uma liga profissional.

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