O socorrista com Tino

A primeira regra dos primeiros socorros será evitar que a situação escale ou se prolongue, e Nélson Veríssimo, homem que foi chegado à frente para substituir Bruno Lage, estancou – pelo menos – o sangramento de resultados negativos – não evitando, ainda assim, um empate contra o Famalicão que colocou o FC Porto com uma mão no título. O problema é que essa promoção para o braço-direito de Lage surge como a aceitação do facto de que a Liga estaria irremediavelmente perdida, facto que poderá gerar algum desapego essencial para o regresso de alguma tranquilidade, mas também uma descrença que provoca falta de desejo e de ambição. E quem viu o Benfica-Vitória, desta terça-feira, pôde aperceber-se de que todas essas características do momento encarnado estão lá. Muitíssimo tempo sem bola, falta de reacção à perda, número de duelos ganhos baixíssimo (até à entrada de Florentino) e displicência notória em figuras como Pizzi e Rafa (que entrou já no segundo tempo).

Por outro lado também a tal aceitação de que o título está irremediavelmente entregue pode ter ajudado a que o Benfica recuperasse uma característica que andou presente não só na 1.ª volta desta edição da Liga, como aqui e ali com Jorge Jesus e Rui Vitória. A capacidade de marcar estando por baixo no jogo foi comprovada por Chiquinho e por Seferovic que em diferentes, mas ao mesmo tempo iguais, momentos deixaram os vimaranenses sem hipóteses de reacção. Diferentes porque Chiquinho facturou na primeira metade – depois do Vitória ter acertado nos ferros (de uma acentada Edwards apanhou no travessão e no poste) e de Vlachodimos ter sido chamado duas vezes a intervir e a salvar a equipa – mas iguais porque a semelhança de ser o Vitória a equipa que mais procurava o golo resultou, por duas vezes, no oposto do que Ivo Vieira pretenderia.

E aqui, numa altura em que o descontentamento com a prestação do técnico se vem acentuando em Guimarães, há que referir que a falta de acerto no último terço tem sido o ponto baixo de um colectivo que muito prometeu e que, aqui e além, fez jus à expectativa. Mas se recuarmos uma volta e recordarmos a recepção a este mesmo Benfica, veremos um Vitória que faz tudo bem até chegar perto das zonas de definição. E lá são já clássicas as finalizações a 200 à hora, ou com o coração junto aos atacadores, que um dia a ciência há-de conseguir explicar com bloqueios nos corpos de identidade, e nos corpos mentais e emocionais dos atletas. Até lá, fiquemo-nos com as explicações de que não chega controlar o Benfica em 451, oscilando com uma linha de 5 sempre que a bola chegava à ala (Mikel juntava aos centrais) ou até de 6 (quando Edwards e Ola John fechavam os flancos) e não chega porque o Benfica marcou o primeiro golo numa situação dessas, e porque mesmo que o Vitória preenchesse muito do tempo a dividir protagonismo, a falta de killer instinct não só enviesará as análises como os marcadores. E o Benfica, nesta terça-feira, encontrou parte da sua eficácia como ponto mais importante do jogo, sendo que o segundo é a constante descrença e desacerto de um Vitória que jogou ao tiro ao boneco com Ody e com os ferros, e que no lance em que fez abanar o cordame o marcador do golo estava… em posição irregular. Sintomático. E se falámos dos dois momentos do jogo, é também de referir que a entrada de Florentino )por Weigl aos… 33 minutos) resultou numa ocupação de espaços e num raio de acção que há muito não se via no futebol das águias.

Benfica-Vitória SC, 2-0 (Chiquinho 37′ e Seferovic 87′)

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*