O derby de 1990

Será preciso recuar algumas décadas para recordar um derby com tão pouca qualidade individual. Quatro miúdos ainda em idade júnior chamados a jogo (e nenhum deles o Chalana) ajudam desde logo a perceber o nível actual dos eternos rivais.

Tudo o que fazem de bom relaciona-se com o trabalho sem bola. É a organização defensiva, são os timings bem trabalhados para trocar controlo por pressing, é a capacidade para condicionar opositores.

Ofensivamente é preciso saber-se dominar e tratar um objecto esférico, e logo por ai dificilmente as equipas poderiam proporcionar um grande espetáculo.

Em 1999 o Sporting deslocou-se ao Estádio da Luz na última jornada. Não havia muito talento de parte a parte, mas porque se vivia numa era de desorganização o jogo foi aprazível e trouxe um 3 a 3. Hoje, equipas organizadas e trabalhadas taticamente, foi necessário esperar uma bola parada para se ver um golo.

A superioridade encarnada na primeira metade foi evidente e começou num pormenor tão simples quanto eficaz. Enquanto o Sporting forçou sistematicamente a saída pelo chão e perdeu dezenas de bolas que só não se tornaram extremamente perigosas porque do outro lado faltou talento para definir, o Benfica mostrou estar preparado para contornar pressão usando Seferovic para receber o primeiro passe progressivo da construção que encontrava posteriormente Chiquinho ou Gabriel de frente para o jogo.

Saída do Sporting que perdeu sistematicamente a bola na pressão encarnada
Saída do Benfica – Seferovic referência receber de costas tocando em Chiquinho de frente

A falta de talento bem expressa na incapacidade para executar de forma eficiente qualquer gesto técnico, e a tomada de decisão errática de ambos os conjuntos foi apanágio num jogo, onde nem os muitos erros que possibilitaram ocasiões de golo foram aproveitados por falta de qualidade.

Não desperdiçou Sporar a oportunidade que Jardel ao travar o movimento que vinha a fazer para controlar o espaço nas costas, lhe proporcionou para empatar a contenda. Nota para a boa definição de Tiago Tomás no lance.

Foi Vinícius quem se tornou o melhor marcador da prova sentenciando também as possibilidades de terminar no pódio ao Sporting de Rúben Amorim, respondendo a um cruzamento ao segundo poste. Precisamente a forma como poderá tornar-se útil na época vindoura com Jorge Jesus. Ele que deverá ser um dos poucos da actual equipa com qualidade para poder continuar na equipa. Sim, ninguém acredita que Jesus tenha trocado um projeto vencedor pelo pior plantel que já treinou na última década (vamos esquecer aventura na Arábia) se não tiver garantias de o trocar.

Do outro lado da segunda circular o cenário não é mais animador. Individualmente este Sporting não está preparado para poder sequer competir pelo pódio tal como o fez na presente época. Urge a chegada de uma equipa nova a Alvalade, bem como encontrar um espaço mais correcto para o potenciar de jovens que ainda não estão preparados para este nível.

Notas finais:

Matheus Nunes e Acuña foram os melhores jogadores do Sporting. Fortes nos duelos foram tapando os caminhos da sua baliza ao Benfica, e mesmo muito longe de serem talentos têm segurança no seu jogo, não expõem a equipa e são jogadores capazes. Que ficam, porém, orfãos de talento no onze para se poderem integrar. Nota positiva também para Nuno Mendes – Com erro, pois claro. Quem na sua idade não o tem? mas a demonstrar que pode rapidamente tornar-se um lateral de desequilíbrio.

Eduardo Quaresma num jogo absolutamente terrível – O número de bolas que perdeu em zona perigosa não encontrará paralelo com nenhuma outra exibição de um defensor na Liga NOS nos últimos anos. Continua a ser um jogador de potencial gigantesco, mas no seu primeiro ano de júnior competir na Segunda Liga já seria “puxado”. Quanto mais entrar na casa do rival para disputar um derby.

Weigl destaca-se de todos os demais pela forma acertada como pensa o jogo. Do meio para a frente nos encarnados, só Chiquinho se aproxima do nível de eficiência e eficácia do alemão. Contudo, a incapacidade que vem demonstrando na zona de finalização prejudica-o e deixa dúvidas sobre a possibilidade que terá para dar um salto para outro patamar que não apenas o de bom jogador.

Cervi, Gabriel e Seferovic no nível habitual. Esforçados, muito fortes no trabalho sem bola mas sem talento para jogar. Deles saíram várias recuperações que permitiram ascendente encarnado, mas também por eles o Benfica não materializou em perigo as recuperações altas contra uma equipa aberta no campo.

Um derby esforçado com os mais esforçados a serem os melhores. Não poderia ser mais sintomático o final da Liga NOS.

6 Comentários

  1. Na próxima época, caso o Ruben não saia, diria que transitam 4 jogadores para o 11 daqueles que jogaram hoje, curiosamente 1 por sector: Vlacodimos, Ruben, Weigl e Vinícius. A estes 4 adicionar-se-á o Grimaldo e quem sabe, o Rafa.

  2. “Ele que deverá ser um dos poucos da actual equipa com qualidade para poder continuar na equipa.”

    Portanto, só um jogador com qualidade e pouco mais e só esse(s) pode(m) ficar?

    A perceção da qualidade individual é afetada pelo que é treinado e pela forma de jogar de cada equipa.
    Ninguém acredita que o Benfica e muito menos o Sporting possam comprar um plantel novo e nem mesmo um 11 novo ou nem mesmo 7 ou 8 jogadores claramente acima da sua média.
    Se, cada clube, conseguir comprar 2 ou 3 jogadores que de facto tragam, claramente, mais qualidade individual, já será muito bom.
    Eventuais outras compras/empréstimos mais baratas, já terão mais que ver com o perfil que o treinador gosta do que com a qualidade individual efetiva.

    A não ser que haja vendas sonantes. Mas aí, será que essas vendas não representarão a saída da qualidade individual que há?
    No caso do Benfica, dificilmente o JJ não terá que trabalhar com vários que já ali estão e ser pela via do treino que puxa cá para fora o que eles têm para dar.

    “Sim, ninguém acredita que Jesus tenha trocado um projeto vencedor pelo pior plantel que já treinou na última década (vamos esquecer aventura na Arábia) se não tiver garantias de o trocar.”

    Só no Benfica ele poderá tee esse estatuto de pôr e dispôr e se assim for é porque sabe que o LFV falhou desportivamente o seu projeto. É uma correlação de forças que dificilmente o JJ não teria hoje noutro clube europeu de dimensão e do patamar Benfica para cima.
    Objetivamente, algum clube bom europeu anda doido por contratar o JJ? Finalmente tem experiência internacional, é certo. Mas objetivamente, qual o patamar de adequação de modelo de jogo, comportamentos coletivos, etc, que têm 95% dos adversários que defrontou? Viram a final da Libertadores? Podemos dizer que o Flamengo mereceu ganhar a um adversário que se preparou comcretamente para o Flamengo de JJ ou terá tido boa sorte?

    Concerteza que o Benfica vai melhorar. Concerteza que o JJ sabe bem mais do que tem sido feito ali. Mas para chegar onde? Campeonato e melhorar na europa? E para isso é preciso passar de um staff técnico de 1,2M€/ano para 9M€/ano e possivelmente tornar a relação Seixal/equipa principal mais distante?

  3. O “resultadismo” está a tomar conta do Lateral Esquerdo.

    Onde estão as loas de outrora a Ruben Dias? A Florentino? Até mesmo a Tomás Tavares, a quem apontaram grande potencial?

    Há jogadores, há projetos de jogadores e há jogadores que, este ano, mostraram pouco do que valem.
    Mas Rafa continua a ser um jogador com enorme potencial. Pizzi tem números incríveis (pese embora o desempenho sem bola), Gabriel tem capacidades que JJ pode explorar. E Ruben… bem, podia aqui linkar n notícias deste mesmo site.
    Este funeral generalizado ao plantel do Benfica não faz sentido.

    Concordo que um upgrade a Jardel, André Almeida e Seferovic se impõe – e que aí haverá pouco a discutir.

    • Potencial é diferente de rendimento. Continua a ter um grande potencial, e o Dias e o Florentino são precisamente dos poucos que JJ aproveitará…

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