A maior mentira do futebol que também o poderoso Bayern desmente

Talvez seja a crença de que uma equipa de posse pode ser nos dias de hoje construída sem jogadores com “andamento” e ser bem sucedida (não apenas nos resultados, mas até nesse intento de guardar a bola a maior parte do tempo) a maior mentira associada ao futebol que corre nos dias de hoje.

Não pode. Há dois factores muito simples para que se possa ser uma equipa que monopolize o jogo com bola:

a) Ser bom em posse, valorizando a bola, não a perdendo sem critério e guardando posicionamentos que preparem a perda;

b) ser bom sem posse. Ter jogadores com o tal “andamento” e capacidade de recuperação – Não apenas da bola, mas também de metros!

Sem jogadores capazes de o fazer, a cada perda demorar-se-à eternidades a voltar a ter a bola. Sem essa recuperação rápida, as linhas terão de baixar e se do outro lado até estiver uma equipa competente, depois de recuperada a posse, uns valentes segundos depois e já em posição mais baixa, será até difícil conseguir sair da pressão pós ganho da bola para voltar a respirar.

Não é portanto surpresa que os dois últimos campeões Europeus aliem à qualidade do seu jogo em posse, uma tremenda capacidade sem bola. O pressing constante, a capacidade e disponibilidade para comer metros dos seus jogadores seja para roubar a bola, seja para recuperar posicionamentos defensivos naquelas vezes em que por mérito do adversário se foi obrigado a recuar para defender porque não se recuperou a bola na pressão, é determinante para… não sofrer golos e… ter a posse!

Ser um portento físico e não dar seguimento a cada bola por dificuldades técnicas ou falta de inteligência vale zero. Como zero vale tratar bem a menina e ser-se um criativo se sempre que a bola está do outro lado, há ali um ponto onde os adversários saem e respiram. Da mesma maneira que basta um para fazer perder a posse, basta um para toda uma intenção de recuperar rápido a posse se esvair.

Eis o Bayern a trabalhar para ter a bola na final da Liga dos Campeões:

Sobre a verdadeira maravilha que é a equipa germânica em posse, já o “Lateral Esquerdo” havia falado, prevendo a conquista Europeia aqui.

Já és nosso Patrono? Clica na Imagem abaixo e ajuda-nos a chegar aos 400. Por 1$ mês acesso a conteúdo exclusivo:

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

7 Comentários

  1. Viva Maldini!
    É sempre um prazer ler os teus posts.
    Acrescentava ainda mais uma “mentira” que um jogador do Bayern desmascarou.
    Refiro me a Thiago Alcântara.
    Ainda há muita gente que acha que um jogador tem que ter “cabedal”, pois bem o Thiago demonstra que a inteligência e qualidade técnica está muito acima disso.
    A quantidade de passes que fez a passar a linha média do PSG e as temporizações que faz deixam me maravilhado. Toma sempre a melhor opção e deixa sempre os colegas em condições de acelerar. Que craque.
    Abraço

  2. Bom post Maldini e concordo em geral.
    Mas faço o seguinte comentário:
    A final pareceu-me um bom jogo. Duas estratégias distintas. Claramente o PSG aceitou a inevitabilidade de o Bayern ter mais bola e manteve o bloco mais baixo e procurava as transições, mas curiosamente a posse do Bayern não se traduziu em mais oportunidades e até foi numa transição que chegou ao golo. E é aqui que acrescento uma alínea c) (ou um complemento à alínea a)) que é a necessidade de a posse ter também claramente de ter o objetivo de criar mais oportunidades que o adversário (posse à Guardiola por exemplo), e, no caso, sendo o Bayern um justo vencedor, podia perfeitamente ter havido golo do PSG.

  3. Este é um texto muito interessante porque (pelo menos a mim) deixa no ar a ideia de que, no jogo moderno, o jogador tem de ter algumas capacidades condicionais sem as quais dificilmente terá sucesso, independentemente de qualidades que tenha com bola (qualidade técnica, criatividade). Não tendo de ser portentos físicos, têm de ter um mínimo de resistência e de capacidade de “comer” metros sem bola – e claro, ter essa disponibilidade mental para se sacrificar pela equipa.

    Foi isso que entendi deste texto. O que levanta a questão: qual o lugar daqueles jogadores talentosos que são pouco dotados a esse nível, que têm pouca velocidade, escassa resistência – no futebol moderno? Estou a pensar, por exemplo, num Riquelme – como arquétipo desse tipo de jogador. Mas poderia falar a um outro nível (e mais próximo de nós) num Francisco Geraldes ou (um caso que conheço melhor) num Bruno Xadas…

    • Creio que a própria carreira do Xadas e do Francisco pode ajudar a responder a esse quesito…

      Numa equipa onde escasseie o talento eles podem ser aqueles tipos que têm um “free pass” para defender menos ou ser menos capazes, porque ofensivamente dão muito mais que qualquer outro – Lembro-me do Iuri no Boavista… o que ele fazia com bola comparado com todos os outros do Boavista era tão diferente que compensava largamente o que não fazia sem ela…

      agora em equipa que lutam por troféus… acho que o Benfica deste ano com Pizzi à cabeça ajuda a perceber que não dá… precisas de um pouco mais de tudo… a excepção é o Messi. Esse até pode sair de campo o tempo que quiser, desde que com bola apareça 🙂

  4. Há uma pequena nuance na tua resposta. Uma coisa é um jogador não cumprir sem bola porque não quer (atitude mental) ou porque, estrategicamente, o seu treinador acha que o deve poupar a essas tarefas (embora o teu raciocínio vá genericamente contra esta ideia). Por exemplo, o Messi pode não fazer trabalho defensivo porque “não lhe apetece” ou porque o seu técnico acha melhor preservá-lo. Mas, se quisesse e lhe fosse pedido, poderia fazê-lo. Não é um monstro físico mas também é capaz de “comer metros”.

    A minha pergunta ia mais no sentido daqueles que não têm capacidades condicionais para isso (ou para fazê-lo bem) – que muitas vezes o adepto típico diz que “não têm atitude” (confundindo atiude mental com capacidades condicionais). Já não há lugar para esses jogadores no futebol moderno, ao mais alto nível? É possível (ainda) esconder estas deficiências? Ou frente a um adversário implacável como o Bayern (ou como o Liverpool da época passada) isso (já) não é possível?

    • nas equipas que lutam pela champions… acho que não cabem… se reparares, até aqueles baixinhos que ninguém dá nada por eles, mas que andam lá no alto nível tem essa capacidade… creio q trouxemos, por exemplo, o Mundial do Modric aqui para falar sobre isso… O Iniesta e o Xavi eram duma agressividade defensiva incrível… pastelões ao nível dos grandes da Europa… acho que só mesmo o Messi é que ainda compensa…. mesmo o seu grande rival, começo a achar que já não compensa o que não faz sem bola… (atacar e defender)

      • Ya, só Messi é que compensa não defender porque dá muito ofensivamente à equipa, já Ronaldo que bateu recordes de décadas na Juventus (esta época), não compensa… Era vendê-lo e deixar lá o Higuain.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*