Bayern e os sacos de músculos

Nos dias pós vitória europeia do Bayern fomos bombardeados com imagens sobre transformação física de alguns dos jogadores bávaros, Como se os sacos de músculos vencessem partidas de futebol.

É verdade que a capacidade física da equipa alemã se revelou absolutamente tremenda e foi bem passível de ser perceptível na forma como até ao último apito do árbitro (quase) todos os jogadores foram capazes de manter a velocidade de deslocamento e agressividade defensiva.

Correr para reocupar posição defensiva, para dar cobertura ofensiva, para vir criar superioridade numérica sobre portador da bola provocando 3×4 no último terço forçando portador a cruzar sem critério porque caminho para desequilíbrio fechou

Importante que se relembre que a vinte minutos do término da partida, Flick substituiu aqueles homens que provavelmente maior desgaste físico têm de ter se cumprirem na plenitude todas as suas tarefas defensivas e ofensivas – Os alas do 4x4x2 em Organização Defensiva – Coutinho e Perisic jogaram os últimos vinte minutos. E no finalzinho Tolisso ainda ajudou a fechar o corredor central quanto Thiago dava sinais de fadiga que poderia ser prejudicial nas tarefas defensivas da sua equipa.

Contudo, associar a intensidade competitiva do Bayern – Tal como a do Liverpool, o último campeão Europeu, a uma transformação física e colocá-lo como rótulo para o sucesso é retroceder alguns anos na evolução do pensamento sobre o jogo.

É como acreditar que os tipos que disputam a final dos 100 metros poderiam vencer um jogo de futebol. Não podem, porque bem mais importante que tais traços – que são também, diga-se, tantas vezes o que separa a vitória da derrota – é a capacidade técnica e inteligência de cada um dos jogadores. De nada valerá correr muito se sem a coordenação demonstrada pelo colectivo encarnado. De nada valerá a capacidade para vencer duelos se não tiver a inteligência de os proporcionar – E para isso, é antes de tudo o mais, preciso ver acontecer antes dos demais.

O Bayern não se tornou uma das equipas mais monstruosas das últimas décadas porque fisicamente é impressionante. O Bayern atingiu este rendimento em primeira instância porque… joga à bola! Joga futebol

Em Maio, antes do regresso do futebol o Lateral Esquerdo apresentou este video demonstrando o porquê de ser a equipa alemã a favorita número um a vencer a Liga dos Campeões. É a equipa que mais joga futebol. É a equipa que mais qualidade tem na capacidade de ligar o jogo desde o seu primeiro terço até ao último, e ai chegada a posse tem jogadores verdadeiramente desconcertantes pela eficiência e eficácia das suas acções.

O futebol tem evoluído de tal forma que é impossível vencer-se competições grandes nos dias de hoje se a base da equipa for formada por jogadores sem capacidade para “andar”, por jogadores de enorme rotação que consigam chegar rápido e que o consigam fazer pela maioria do tempo de jogo. Mas, mais impossível é vencer sem jogar! Sem ter talento. Sem ter um caminho, sem ter ideias.

Metam os sacos de músculos a correr sem terem o cérebro e verão.

O jogo, senhores, é cada vez mais dos melhores. Os melhores têm sempre uma atitude competitiva positiva e um desejo por alcançar a excelência inolvidável. Mas, têm muito mais que isso – Têm talento para jogar este jogo. Sim, Talento sem compromisso e sem agressividade é um problema de difícil resolução para qualquer equipa técnica. Mas pior ainda é não ter talento. Não se esqueça disso. Nem que nos dias de hoje é mais importante ser-se completo / equilibrado – Defender e Atacar, Físico, Técnico e Táctico, que ter muito de um e pouco ou nada de outro.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

8 Comentários

  1. O que me supreende é a forma como se fala do Bayern como se tivesse cilindrado o PSG quando na verdade o Bayern cedeu várias oportunidades ao PSG (ou este as criou) e em organização ofensiva o Bayern esteve longe de ser letal.

    • O PSG poderia ter perfeitamente ganho o jogo… porque soube ser perigoso em alguns contra ataques… mas convenhamos que o jogo foi (quase) todo Bayern…

      • Mas ao contrário do City com o Lyon, independentemente do resultado, a posse do Bayern contra o PSG não foi sinónimo de maior número de oportunidades. A posse em si mesma só será um objetivo primário, posse essa que se deverá sim revelar uma forma de produzir mais oportunidades que as que concede ao adversário e não a posse pela posse.

  2. Realmente admito que sou fundamentalista nestas coisas: não há paciência para quem anda o tempo todo a falar em força, velocidade de deslocamento e músculos no futebol. Houve uma altura (acho que por causa dos Xavis, Iniestas, Messis, Guardiolas) que havia mais tolerância a outras ideias na opinião pública em geral. Mas por vezes penso que isto foi apenas um fogacho. Realmente os comentadores televisivos têm um poder incrível(mente exagerado e sem justificação evidente) na formação das opiniões.

  3. Mas, não importa, se usaram proteína VEGAN? Vi um documentário recente onde defendem a proteína VEGAN. Supostamente, os gladiadores eram VEGAN. Não comiam carne, nem peixe.

    É injusto ter cérebro, trabalhar duro e descobrir que usamos a proteína errada, porque a nossa mãe deu-nos carne e peixe quando eramos crianças e todas as pessoas que conhecemos comem carne e peixe? E, mesmo sabendo que a proteína VEGAN é um fator diferencial, não vamos trair essa cultura que herdamos, esses hábitos que adquirimos, os pratos de carne e peixe que fazem parte das nossas memórias e de todas as nossas interações sociais, certo?

    É importante ter cérebro. Mas, ajuda ser VEGAN. Ser um saco de músculos pode não ser suficiente, mas ajuda.

    Imagina que tens 2 jogadores de futebol, ambos com inteligência do jogo. Preferes um saco sem músculos ou com músculos?

    Podemos complicar e questionar se a proteína VEGAN é mesmo superior. Eu faço musculação e, depois de ver o documentário, pensei: “f****, não sou VEGAN”.

    Ou se todas as transformações deste tipo fazem um jogador melhor? É preciso inteligência, não só para jogar, mas também para pensar no treino, na nutrição, no corpo, na função, na saúde, na competição, etc.

    Sim, no fim, a inteligência importa sempre. Mas, não é tudo.

  4. A um nível onde já há por si muita inteligência individual, técnica, conseguir injectar músculo, processo e dinâmica para todos, é fazer toda a diferença. Não se a perde por dar “mais físico”. É conseguir incorporar.

  5. A designação “capacidades condicionais” diz tudo. Condicionam o desempenho de tudo o resto. Faz parte do jogador profissional de alto nível ser muito bom fisicamente. Não precisam ser todos Hulks, até porque em alguns casos seria contraproducente, mas cada jogador deve otimizar o seu físico para o seu perfil. O Iniesta, o Xavi e o Messi, acima referidos, eram fisicamente excelentes para o seu perfil.

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