Depois de uma campanha de sucesso no Championship, que garantiu o título e consequente subida na época passada, aguardava-se com alguma expectativa o impacto que Marcelo Bielsa teria na sua época de estreia na Premier League. E o início não desiludiu: dois jogos espetaculares contra Liverpool (3-4) e Fulham (4-3). Neste artigo vamos então começar a dissecar um pouco do modelo de jogo dos Whites para a época 2020/2021.
Uma daquelas pessoas em que o conhecimento não está relacionado com os títulos.
Guardiola, Pep (2020)
Momento Ofensivo
- Estrutura base de organização ofensiva em 1-4-3-3/1-4-1-4-1 (dependendo do posicionamento em profundidade dos médios-interiores, muitas vezes muito altos, nas costas da linha de médios adversária).
- Saída em construção em 2+1 pelo corredor central, sendo o médio-defensivo (Kalvin Phillips, geralmente) referência tanto para uma saída apoiada (preferencial, com criação de superioridades ao longo do campo logo desde o GR, no caso de Meslier, confortável na relação com bola) como para o jogo direto com os extremos posicionados em largura máxima (muita tendência da equipa em atacar pelos corredores).
- Médios interiores geralmente muito profundos (raramente baixam em apoio ao 6), seja em ameaça ao espaço central-lateral ou em chegada à área. Laterais em projeção ofensiva, muitas vezes até em simultâneo.
- Preenchimento das zonas de finalização em momento de cruzamento com muitos elementos (por norma, no mínimo, ponta-de-lança, interiores e extremo do lado contrário presentes) gerando, por vezes, até superioridades face à última linha contrária.
- Em transição ofensiva, a verticalidade expressa-se pela procura constante de apoios frontais (principalmente do PL – Bamford – forte nessas ações), dinâmicas de terceiro homem e combinações curtas para progredir de forma vertiginosa (não existe a tentação de entrar imediatamente em ataque posicional).
Momento Defensivo
- Em organização defensiva, mais que uma estrutura, um princípio: marcação individual com a nuance “-1 na 1ª fase de pressão, +1 na última linha”.
- Marcação individual com jogo de pares pré-definido (sabe-se que Bielsa valoriza muito a análise exaustiva dos adversários) no campo todo (vemos muitas vezes os jogadores fortemente atraídos pela marcação para fora de posição).
- -1 na 1ª fase de pressão: consoante a saída do adversário, condicionar em inferioridade numérica (1v2, 2v3, etc.) para o lado desejado.
- +1 na última linha: com menos um na frente e o resto da equipa com referências individuais, um dos homens da última linha (normalmente um central) fica livre, podendo ficar responsável por controlar os ataques à profundidade, garantir coberturas e ganhar duelos/segundas bolas.
- Em transição defensiva, a pressão é inicialmente orientada pela bola: um/dois jogadores saltam agressivamente a pressionar o portador, executando um princípio de bola coberta que permita à equipa ter tempo para ajustar rapidamente para a marcação individual.
O que esperar?
As idiossincrasias do modelo vão provavelmente fazer com que o rendimento da equipa seja de tal forma volátil que qualquer tentativa de prever uma classificação final é, para já, um tiro no escuro. Com El Loco, podemos apenas contar com a fidelidade a um estilo arrojado (de jogar em campo e de estar na vida).
No meu caso, em que já foi escrita uma parte importante da vida, compreendemos que do passado o que verdadeiramente valeu a pena são as emoções que lembramos.
Bielsa, Marcelo (2020)
É tão arrojado e teimoso que te deixou fora do Mundial 2002 Juan Román …