Tiago Dantas, mais um episódio de “validações” e o que realmente importa

Tiago Dantas, à semelhança de outros jogadores talentosos fez emergir as “lutas” nas “redes sociais” como tentativas de validar opiniões. Umas mais bem fundamentadas que outras.

O triunfo dos que ignoram o jeito que dá ter potencial morfológico para o jogo surgiu com o interesse do Bayern – validado com a presença na equipa principal bávara – Quantas fotos foram partilhadas de Dantas ao lado do treinador em forma de “fina ironia”. Mas a eliminatória ficou rapidamente empatada com a não inscrição do jovem na equipa principal, facto que o relega para a terceira divisão da Alemanha.

Sobre a estupidez sem fim de quem por não ter talento para as suas próprias guerras, escolhe guerras de outrém muito haveria para dizer, mas para o caso importa é o talento de Tiago Dantas.

É óbvio que a questão física importa – Creio que qualquer pessoa com um mínimo de capacidade para expandir horizontes e tentar perceber um pouco sobre o jogo, reconhecerá que cada vez mais a cadência da passada é determinante para o rendimento – O jogo está tão rápido pela evolução técnica e tática, que conseguir chegar um segundo antes é muito diferente de chegar um segundo depois. Um segundo antes ajudas a fechar o espaço, ou és opção para poder receber e / ou finalizar no último terço. Assim como ter boas capacidades condicionais ajudará ao rendimento. Capacidades como a força ou a resistência são determinantes para o sucesso, ou para que o sucesso se expanda por mais tempo ao longo do jogo. Aliás, se a questão física não tivesse qualquer impacto, onde estaria agora um talento como Dantas?

Um miúdo que não perde uma bola, “limpa-as” para os colegas entregando-a sempre redonda, cria e embora pouco robusto fisicamente, enquanto a guarda ou trata não sente qualquer dificuldade porque sempre assim cresceu, e por isso desenvolveu argumentos na astúcia que lhe permitem não precisar sequer de ter confrontos físicos nos momentos ofensivos. Pensa mais rápido e executa a um nível superior a qualquer jogador comum.

Pois se Tiago ainda hoje procura encontrar espaço é precisamente porque a excelência da sua tomada de decisão e gesto técnico – que é o que é mais diferenciador num jogador de futebol, afinal é… mais difícil de encontrar! – não é acompanhada por capacidades físicas que lhe garantam sem bola o rendimento que tem com esta.

Outra falsa questão que tem surgido ao seu redor passa pela dissertações sobre a sua densidade muscular. Diversos jogadores do Bayern ficaram “maiores” e há a expectativa que tal possa acontecer com Dantas, beneficiando o jovem de tal para aumentar o seu rendimento. Lamento informar, mas não é de músculo que Dantas precisa. Daria muito jeito a tal maior velocidade para chegar aos diferentes espaços – Aquela passada larga que permite participar no pressing avassalador que hoje caracteriza os vencedores das últimas Ligas dos Campeões, mas essa não chega em forma de tamanho muscular, e não parece ser possível de obter ganhos substanciais.

Dantas como tantas outros jogadores ou situações está no meio termo entre as discussões que gera – Discussões cujo único intuito tantas vezes parece ser gerar validação de argumentos próprios e por momentos sentir que se poderia fazer parte do jogo que por certo se amará.

Não terá nível para jogar em qualquer equipa do mundo pelos seus traços físicos. PONTO.

Tal não significa contudo que se deva nivelar por divisões mais baixas! É mais questão de contexto do que de patamar ou nível competitivo.

Se calhar numa comum equipa da Segunda Liga ou da Liga NOS, não terá capacidade para ter rendimento – Há muitas perdas (a culpa não é sua, que nunca a perde, mas há!) e o jogo transporta-se para uma dimensão onde sai prejudicado. E obviamente nenhum treinador vai manter um jogador com pouca capacidade para ajudar a equipa a recuperar metros e bolas, quando outros há que são capazes de o fazer. Mas, porventura, poderá ter espaço em equipa de nível e talento diametralmente oposto às citadas. De forma simplista, Dantas é um 80 com bola, e um 8 sem esta – Não é assim nem com bola, nem sem ela – Vocês percebem o intuito do exemplo – então para ter rendimento e contribuir terá de ter o contexto que garanta muita bola – Que garanta poucas Transições – Momentos em que a tal velocidade do deslocamento se faz sentir mais. Dantas pode não ser jogador para o Desportivo de Chaves, mas se calhar pode ser para o Bayern. Faz sentido?

Talvez não totalmente, porque mesmo as melhores equipas hoje passam sempre tempo sem bola e encontram na capacidade de pressão e vencer duelos no momento defensivo a forma de ganharem a bola para depois a guardarem. E sim, o Dantas evita os duelos. Mas, como outros de elevado nível cognitivo, que pensam e executam mais rápido que os demais, evita-os quando tem bola. Sem bola não há como os evitar. Não é como se pudéssemos desviar-nos deles quando a posse está do outro lado… a menos que o intuito seja ver o oponente a marcar golo.

Na equipa perfeita, Tiago Dantas teria lugar. A equipa perfeita não perderia a posse, não precisaria de passar tempo sem ela, viajaria junta pausadamente nas transições, sem precisar de ver os seus elementos a abrir em a passada para chegar à frente sem deixar demasiado espaço entre sectores. O problema de Tiago Dantas é que não há equipas perfeitas. E como não as há, estará sempre no limbo entre o triunfo retumbante – qualidade para isso todos o reconhecerão – e as dificuldades para se impor no contexto competitivo que o seu talento faz por merecer.

O que o Tiago precisa de saber, é que o melhor a fazer é não abrir sequer caixas de comentários na internet, porque ai não encontrará nada de absolutamente positivo a retirar. Não precisa dos elogios que como a outros antes, lhe provocarão sentimentos de injustiça, e poderão fazer baixar a guarda convencido que é um Messi injustiçado, nem das críticas tantas vezes infundadas. Até porque de um lado e do outro não está ninguém que se preocupe verdadeiramente com a sua carreira, mas apenas com o seu ego.

No mundo perfeito tu triunfas, menino. Mas, não queiras viver uma vida de lamento por não ser o mundo um lugar perfeito. Faz com que todos os dias sejam dia de evolução. Anda da perna. Por ti.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

9 Comentários

  1. Por curiosidade, e para um leigo na matéria, o que é que está aqui em causa quando se fala na inadequação física do jogador? Tem menos de 1,70m, certo, mas não faltam jogadores da mesma altura que prosperaram ao mais alto nível. Falta-lhe intensidade e força para os duelos, mas se isso, como dizem, não é corrigível com o aumento de massa muscular, de que é que se está a falar ao certo?

    • acho que mais do que a massa para os duelos… porque essa muitos outros com sucesso também naõ a tinham propriamente, era bom ter um deslocamento mais veloz, e mais capacidade para desarmar, que não está necessariamente relacionado com o tamanho… olha o Iniesta, como roubava bolas a um nível incrivel… beneficiando daquela destreza motora…

  2. Que grande texto. “e por momentos sentir que se poderia fazer parte do jogo que por certo se amará.” Ui, esta até me doeu! Muito bem.

    • já me arrependi de o ter escrito, mas estava realmente chateado por ver a euforia / depressão de malta que se está a borrifar para o Dantas ou para qualquer outro, e são tantas vezes odiosos só para ficarem com o sentimento de terem razão, como se o mundo ou a sua própria vida se tornasse melhor pelo seu ego estar alimentado. Seja ela em forma de: Está na Equipa A, está na Equipa B.

  3. Nao fomos esclarecidos ainda se existe ou não uma “possível cláusula” estilo Bernardo perdida no seu contrato de empréstimo, como tal, pensando que o Benfica emprestou o jogador ao Bayern porque o Bayern estava interessado numa pré avaliação do jogador antes de formalizar uma proposta….será que o interesse do benfica em emprestar não será tentar perceber num contexto físico mais forte como o jogador poderá evoluir, não esquecer que Aimar não fugia muita a esta arquétipo físico quando chegou ao benfica

  4. Uma coisa parece clara, se evoluir fisicamente e tiver uma boa adaptação não volta e isso custa-me um pouco. Será outro Bernardo que os benfiquistas não terão o prazer de ver jogar na principal equipa.

  5. Bouças, para mim disseste tudo mas com palavras simpáticas. Eu não acredito que ele possa atingir o nível que tantos profetizam. Por essas mesmas razões que apresentas: em termos físicos ele não apresenta nenhum parâmetro em que seja sequer mediano. Tu falas na “passada” como característica mais fundamental eu refiro-me à robustez. Quando olhamos para jogadores de baixa estatura (Messi, Suarez, Agüero…) eles apresentam o robustez impressionante que lhes permite combater com os outros. Porque é impossível argumentar que ele é mais inteligente que os outros e isso permite-lhe evitar confrontos. Por isso, não vislumbro uma margem de melhoria necessária em qualquer dos níveis físicos indispensáveis (força e/ou velocidade de reação e deslocamento) para poder ser um jogador de nível elevado. E é como dizes, quando o nível decrescer as dificuldades serão ainda maiores pela diminuição do tempo em que ele terá possibilidade de dar o jogo o melhor que tem… Por isso, não sei onde poderá jogar…

  6. Recuando a temporada 2010-2011 temos exemplo do Barcelona de Guardiola sendo provavelmente a equipa que melhor pressionava no mundo. Vamos ver os jogadores que compunham o meio campo e o ataque? Messi pedro villa iniesta xavi e busquets. comparemos fisicamente estes jogadores com grande parte dos campeoes europeus atuais>?
    A questao poe se?
    Tiago Dantas pode perfeitamente ser uma estrela no futebol mundial porque cerebro sera sempre mais importante que fisico

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