A teor… prática de Darwin

Se a evolução das espécies cria algum desdém, a espera pela evolução dos jogadores provoca também bastante exasperação nas franjas de adeptos que muito esperam dos seus novos recrutas. E no Benfica, depois do frenesim mediático que o defeso provocou, a coisa nunca é feita por menos. Darwin Nuñez, um big jogador que não só é grande como vai ser top, concentra hoje por hoje quase toda a atenção. Pelas características físicas invulgares, pela relação (ou falta dela) com bola e, claro está, pelo preço, do uruguaio se espera algo especial. E este Benfica-Belenenses – igual a uma carrada de jogos que o Benfica vai disputar nesta edição da Liga – é o terreno ideal para Nuñez passar da teoria à prática. Isto porque o Benfica de Jorge Jesus é sempre uma equipa que começa a criar vantagem em Portugal quando os jogos ainda não começaram. É nas dúvidas que provoca ao adversário que poderá surgir um controle do jogo pelo qual não só Jorge Jesus exaspera, como também todos os adeptos das águias desesperam.

Notas: SofaScore

Vão mais de dez anos a jogar no mesmo sistema (talvez com um hiato de meses com Rui Vitória a ser a excepção) e vão mais de dez anos em que as críticas são, basicamente (sublinhe-se o básico da situação), as mesmas. O Benfica tem bastantes dificuldades quando pressionado e tem ainda mais dificuldades para controlar as partidas. Mas para percebermos estes clichés vintage teremos também de perceber o que é mesmo o controle de um jogo. E esse envolve uma mescla tão grande de factores que não admira que uma equipa claramente em construção (e a anos-luz do rendimento de qualquer outro Benfica versão JJ) ainda não tenha conseguido ser consensual no que toca às suas exibições. Controlar o jogo é, também, controlar o adversário. Impedi-lo de criar. É isso mas é também ter a pata no jogo ao mesmo tempo que se consegue criar oportunidades, dúvida, caos na organização contrária. E mesmo que seja mais do que isto, controlar não foi coisa que o Benfica conseguiu fazer em muitos momentos da recepção ao B SAD. Porque mesmo tendo muito mais tempo a bola que o adversário, a inépcia com que a circulou nunca provocou a dúvida que paralizaria a equipa de Petit – que deu várias vezes a sensação de poder causar algum dano nas pretensões encarnadas.

Associação de Darwin desmonta linha defensiva e abre espaço para Everton entrar. Foi pela esquerda que o Benfica decidiu atacar mais vezes na primeira metade

Mas se assim é, se o Benfica não controla uma boa percentagem das suas partidas há dez anos, porque é que esse é um período até de bastante sucesso do clube da Luz? Isto porque o Benfica do 442 (chamemos-lhe assim para não dizermos que a década foi toda de Jesus) tem outras valências importantes e que lhe permitem, mesmo não controlando alguns jogos totalmente, controlar… os resultados. E o que se observou com o movimento padrão da 1.ª parte (Everton a receber entre-linhas na meia-esquerda, criando a partir daí), e com as rupturas de Darwin na segunda metade, é que o Benfica, mesmo estando em remodelação, ainda tem golo suficiente para a mais que evidente falta de controle dos jogos não se reflictam em resultados. O objectivo final andará muito longe de ser parecido ao que se tem visto, mas para já, mantendo essa característica, o Benfica segue construíndo e liderando – o que será nesta altura manifestamente mais importante do que a medição de uma qualidade de jogo que persiste ainda em algumas parecenças com a época passada, apesar de nesta noite a linha defensiva aparecer mais organizada. De resto, a pouca apetência para roubar bolas e o jogo muito afunilado que resultam em muitos períodos de incerteza ainda por lá andam. Vale a notável eficácia e a extrema categoria e potencial de uma transição que castigará quem se destapar contra o Benfica. E este B SAD não foi mais perigoso porque o Benfica lhe criou sempre essa dúvida. E sabemos o quanto Jesus gosta de provocar essas dúvidas que são terreno fértil na nossa 1.ª Liga.

Os extremos (Rafa e Darwin) que se tocam, o espaço para Grimaldo e Seferovic no lado cego do oponente. Tudo imagens de marca do primeiro golo desta noite



Benfica-B SAD, 2-0 (Seferovic 6′ e Darwin 75′)

2 Comentários

  1. A falta de controlo para mim está no quão este Benfica está ou não preparado para recuperar defensivamente caso a reação à perda não resulte em recuperação.
    Toda a linha defensiva atual é evidentemente pouco experiente nos detalhes das ideias do JJ e as posições 6 e 8 são interpretadas de forma pouco consistente ou até de forma caótica.
    Acresce que, exceção feita à primeira época do JJ no Benfica, demorou meses em cada época a implementar as suas ideias na Luz.
    Se por um lado parece-me apenas uma questão de tempo para afinar a linha defensiva e até a posição, na posição 8 seria preciso mudar radicalmente algumas das características dos jogadores que têm sido opção.
    E essa é umas das posições charneira neste modelo, quando pretendes por defeito atacar com vários jogadores à frente da linha da bola e ter soluções para manter equilíbrio com poucos e recuperar sempre que necessário.
    Fará Jesus um milagre na posição 8?

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