Benfica 4.0%

A atração principal deste Benfica-Lech Poznan seria sempre a possibilidade dos encarnados se apurarem já esta quinta-feira para os 16avos da Europa League, mas na retina, no jogo de ida, ficou o entretenimento provocado por um Poznan que partiu o jogo, recebendo no final da partida merecidos elogios do técnico das águias. Do ponto de vista futebolístico a abordagem dos polacos na Luz seria assim também algo a ter em conta, até porque o momento que o Benfica atravessa desperta também alguma curiosidade quando a oposição sobe de tom. Pois bem… não foi o caso, num jogo que me fez lembrar uma simpática senhora polaca que, quase insistentemente, me recomendou uma cerveja oriunda do seu país. A Tyskie, dizia ela, deveria ser consumida com responsabilidade da minha parte dado o seu elevado teor alcoólico. Mas do que a encantadora Olivia se esqueceu foi que no Reino Unido o imposto sobre o teor de álcool tem mão de ferro, sendo que à poderosa Tyskie na Polónia a viagem até Terras de Sua Majestade lhe corta a potência necessária a fazer-me a mossa que ela me havia prometido. Algo parecido com o que aconteceu ao Lech Poznan na viagem até Lisboa. Sendo que pelo caminho algures se perdeu a inebriante vertigem com variação de flanco que havia tornado o jogo na Polónia tão interessante.


Interessante porque o Lech o partiu, e mais interessante, para Jorge Jesus, porque assim sendo o quarteto ofensivo do Benfica tinha espaço para decidir em velocidade. Mas mudando a estratégia (e jogadores) do Poznan para algo mais de contenção, o Benfica passava a ter que jogar a maior parte do tempo em organização ofensiva, demorando tempo até encontrar uma versão que realmente convencesse quem assistia a partida. Não no resultado – porque Super Jan saltou mais alto que toda a gente para fazer o primeiro aos 36′ – mas porque a fluidez do jogo nos três corredores deixava a desejar. Pelo meio (porque os polacos o selaram com um 4141 que ainda recebia a ajuda do ala a acompanhar o lateral) e pelas alas, onde Gilberto e Grimaldo nunca foram capazes de dar aquela acutilância capaz de prender o Lech (ou qualquer outro adversário) às cordas.

Como referido o Lech trocou aquela vertigem alcoolizada do primeiro jogo por algo mais paciente e equilibrado, ao que o Benfica respondeu sempre bem com a linha média como siamesa de uma linha defensiva que controlou sempre bem o espaço nas costas
Darwin a ganhar as costas e a ligar com Pizzi foi uma solução para os problemas de fluidez no primeiro tempo. Com o uruguaio os encarnados andarão sempre perto de marcar e Rafa sempre com a interessante solução de deambular para a zona central


Contudo, o golo marcado num pontapé-de-canto conferia a tranquilidade necessária ao Benfica, como conferia também a obrigação de o Lech assumir mais o jogo. E se períodos houve onde os polacos demonstraram até ser capazes de fazer algo em ataque continuado (escassos e ainda na 1.ª parte), com a obrigação de correrem atrás do prejuízo dois erros em organização ofensiva (passe do guarda-redes para Gabriel no 2-0; excelente recuperação de Chiquinho no 3-0) bastaram para disparatarem toda e qualquer possibilidade que (ainda) tivessem nas contas do grupo. Assim se fez a história de um jogo (ou de dois, se quisermos) onde o Benfica demonstrou ser mais forte que o adversário quer quando o jogo partiu (na Polónia) ou quando teve de o controlar com bola (na 1.ª parte) e sem ela (em alguns períodos na 2.ª). E isso, convenhamos, não tem sido um hábito assim tão constante no 2020 que finda. Assim, ainda que o jogo termine com a esmagadora diferença de 4 golos (Weigl ainda facturou já ao cair do pano) restará às análises tentar perceber se aquilo que o Benfica fez já é algo parecido com o que Jorge Jesus almeja e visualiza na sua célebre promessa d’arrasar E a verdade é que o Benfica demonstra ainda grande insegurança quando o adversário rodeia o seu portador da bola, não só somando erros notórios, como também não fazendo a bola girar pelos melhores caminhos. Isto a somar-se, claro está, ao afunilamento exagerado e desnecessário que lhe fecha os caminhos da baliza (algo notório numa primeira metade com escassas situações dignas de registo) e às dúvidas no duelo para recuperar o imenso tempo em que o Benfica costuma conceder a bola aos adversários. A melhorar com ela e sem ela, portanto, mas já com o faro de golo habitual em Darwin e em Pizzi, e com Chiquinho a crescer na posição 8.

4x1x4x1 dos polacos tapava ligações interiores e exigia mais ligação com as alas, onde a (falta de) vertigem de Gilberto e Grimaldo não atraiu o suficiente para desposicionar e aí sim ligar por dentro. As alas seriam também importantes para fixar o Lech mais atrás – algo que acabou por não acontecer com a regularidade desejada
A recuperação autoritária de Chiquinho (que origina o terceiro golo) confirma os erros em construção dos polacos e lança a discussão sobre os duelos defensivos no Benfica. Conseguirá Jesus o seu melhor futebol com uma equipa pouco dominante, pouco autoritária e pouco confiante nos duelos?

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