
O resultado final não o deixará antever. Mas a verdade é que o FC Porto, mesmo batendo o Moreirense por 3-0 no Dragão, andou mais perto das exibições mais cinzentas da temporada do que daquela equipa que vai habituando, ou forçando, o Portugal do futebol a dar valor a coisas que pareciam ter caído em desuso. Falamos da verticalidade, da intensidade, dos duelos… que, em boa verdade, nesta recepção ao Moreirense não pareceram ter, até bem perto do final, a mesma eficácia. Foi assim, claramente, um Porto desinspirado em boa parte do jogo, encontrando bastantes dificuldades técnicas para depois ser muitas vezes surpreendido pelo desenho que o Moreirense apresentou quando fazia uso da bola. O já bem conhecido 343 a atacar que se transforma num 523/541 a defender (usado também pelo líder da Liga, Sporting) trouxe então dificuldades inesperadas, apenas atenuadas pela clara falta de rotina e confiança dos de Moreira de Cónegos, de um erro crasso de um dos seus defensores (quando travou Corona dentro da área), e de uma parte final onde os minhotos cederiam à força do FC Porto.

Poderia o enquadramento ser feito de outra maneira, enaltecendo a vitória dos dragões em detrimento das dificuldades? Poderia sim, mas sempre correndo o risco de fugir à verdade. Sendo que o resultado toldará sempre as interpretações, parece-nos importante frisar que o FC Porto, apesar de não ter tido problemas nas rotas e até na criação de oportunidades, teve claras deficiências técnicas (umas fruto de desinspiração, outras fruto de alguma inabilidade) que impediram a construção de algo mais próximo ao que já lhe vimos fazer. Com o tal 541 pela frente (que era apenas 523 mais acima no terreno) Sérgio Conceição pensou em Corona e Taremi para os espaços intermédios (posicionavam-se não só entre central e lateral, mas também entre ala e médio para dar linha de passe), e para Marega e Díaz para a profundidade. O que, bem vistas as coisas, parecia poder ser uma eficaz teoria. Contudo a realidade trouxe a falta de fluidez e o desacerto que nunca deixaram os portistas ser aquela equipa de último terço que prende os adversários num colete-de-forças.


E assim não foi, não só por falta desse acerto técnico. Também nos momentos sem bola, o FC Porto foi algo surpreendido por um Moreirense que começou tímido, e a circular perigosamente muito baixo, mas que, pouco a pouco, se foi soltando para encontrar as valências do seu sistema. O FC Porto, recordamos, tentava encontrar o seu balanço ofensivo para contrariar duas linhas bem formadas. E para isso precisava de balancear laterais e médios, o que deixou que o Moreirense encontrasse muitas vezes o homem (ou homens) livres para ir assustando.


Assim, a questão do enquadramento poder ser focado nas oportunidades que, ainda assim, o FC Porto foi criando aparte do penálti que deu origem ao 1-0 (Taremi e Marega poderiam ter alargado ainda na primeira metade) as dúvidas surgirão sempre quando um Moreirense claramente abalado pela saída do seu treinador e com muitas dúvidas existenciais, conseguiu manter o jogo em aberto até aos 88′, como também ter ficado a centímetros (Walterson, 54′ e 75′) do golo por duas(!) vezes. Foi fazendo uso dessa desinspiração individual com bola e da falta de ligação ao jogo sem ela dos portistas, como também do ponto de vantagem que o seu sistema lhe dá, que parece justo que se enalteçam dificuldades visíveis que foram atenuadas apenas bem perto do fim – provocadas por um desgaste notório do Moreirense e por entradas em grande de Toni Martínez e Evanilson, que fizeram esquecer a desinspiração evidente de Taremi e Marega.


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