
Para o segundo clássico num curto espaço de tempo, Sérgio Conceição decidiu deixar de ser o surpreendido para surpreender. Depois de ter visto o FC Porto ter sido condicionado pelas alterações estratégicas do Benfica, o técnico portista desenhou um esquema parecidíssimo ao de Rúben Amorim para, no seu entender, conseguir o melhor de dois mundos. Primeiro, jogar com as ausências (Sérgio Oliveira a juntar-se a Otávio e a Luis Díaz) e depois encaixar perfeitamente no já habitual 343/523 do Sporting. Uma surpresa que trouxe um jogo amarrado que só nos deixou ver espaço… a espaços. Muito também pela primeira reação à pressão adversária ser a de bater na frente para ganhar primeira ou segunda bola. Uma pressão, lembramos, que encaixava perfeitamente entre avançados e centrais e que obrigava a um risco e paciência para encontrar espaços que as equipas raramente tiveram. E seria nas alas, onde Zaidu encontrou Porro e João Mário (o do FC Porto) encontrou Antunes, a outra forma de se garantir algum espaço para jogar. Isto porque, já o dissemos, a paciência não abundou e o risco não se quis correr para se encontrar o espaço que este sistema deixa nas respectivas linhas médias.



Algo que já se reparava desde os seus tempos em Braga, o calcanhar de aquiles do sistema de Amorim (que Conceição replicou para este jogo) surge nos espaços ao lado dos médios. E sendo que o FC Porto teve neste jogo Felipe Anderson e Corona nesses espaços (a fazerem companhia a Marega na frente) foi curioso observar que nesse espaço nuclear a bola só chegava (na esmagadora maioria das vezes) pelo ganho de segundas bolas provenientes do tal jogo directo que falámos acima. E foi dessa forma que o FC Porto conseguiu algum ascendente na fase inicial, com Corona (a aproveitar essas bolas para aparecer) e Zaidu pela ala a ser mais lesto do que Porro. Contudo o tal ascendente territorial não se materializou em golos, sendo que quando chegou a vez do Sporting de pegar na partida, o leão utilizou mais vezes esse tal espaço por via de bola no chão, tentando superioridade nos lados de Grujic. Foram João Mário e Pote que deixaram a nu algum desequilíbrio proveniente do facto de Uribe estar encarregado com mais liberdade para aparecer na frente. Esses momentos de domínio sportinguista a fechar a primeira metade fizeram soar algumas dúvidas em relação à estratégia escolhida por Sérgio Conceição – que, ainda assim, a manteve para a etapa complementar.


Manteve Sérgio o desenho (e os jogadores) mas com uma nuance que permitiu à equipa ser mais equilibrada e não permitir durante largos minutos o tal domínio que o Sporting evidenciou a fechar a primeira parte. Fechando em 532 e 541, ficou mais difícil ao Sporting encontrar esse espaço. Pelo contrário, mais equilibrado o FC Porto ganhou algum ascendente que, ainda assim, não passava de pólvora seca – como tudo até ao devaneio de Marega e à entrada de Jovane Cabral. Três ações selvagens e que não vêm nos livros desamarraram o clássico que, como vem sendo habitual, traz sensações negativas de déjà vu para os portistas. E se o golo de Marega parecia dar a tranquilidade necessária para os dragões fecharem o seu bloco e as contas do jogo, o forcing final do Sporting, encabeçado por Jovane, lembrou o padrão mais vezes evidenciado pelo Porto Conceição na fase decisiva da Taça da Liga: golos sofridos nos minutos finais; empates com derrota nos penáltis. Algo que em nada belisca o mérito da crença sportinguista, num jogo em que estrategicamente ninguém meteu a pata em cima de alguém, mas que a eficácia que surgiu dos momentos Jovane foi absolutamente decisiva.



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