D. Sebastián

Se não sabíamos já, ficámos lembrados. Dá até a impressão que se os últimos minutos daquele fatídico playoff do Sporting contra o Lask (1-4) fossem jogados por estes dias, o leão de Rúben Amorim viraria aquilo sem problema. Sai esta tirada, obviamente, em relação a mais uma vitória leonina arrancada a ferros, desta feita sobre um operário Gil Vicente que, mesmo estando em vantagem, não aguentou a subida territorial do líder na 2.ª parte. E até lá (leia-se 1.ª parte) o Gil Vicente fez bem por merecer o galo que inflingiu ao leão, por lhe tapar as saídas, por não o deixar estabelecer-se no meio-campo ofensivo, e por ter aproveitado, com grande eficácia, uma das duas boas oportunidade que teve. No entanto, e como já é hábito, um golo solitário não travararia os verde-e-brancos. Isto porque as alterações de Rúben (aos intérpretes, e por arrasto à dinâmica, mas nunca ao sistema) levaram o Sporting para cima de um Gil Vicente que não aguentaria as investidas de D. Sebastián Coates na recta final.

Construção a 3 do Sporting raramente libertou os alas na 1.ª parte. Meio-campo gilista fechou espaços interiores, o que aumentava a responsabilidade dos centrais acharem soluções.



Mas para contarmos toda a história convém rebobinar uns dias e pegar num dos momentos decisivos da vitória do Sporting na Madeira. Ainda nos primeiros minutos (para não dizerem que é sempre no fim), Pedro Gonçalves (assistido por Gonçalo Inácio) rasgou toda a linha defensiva maritimista para, acto contínuo, abrir o marcador. E toda esta anterior frase estaria correcta se, nesse lance, existisse alguma linha defensiva digna desse nome. Aproveitando as marcações individuais à Brasileirão, o Sporting tornaria uma deslocação difícil em algo confortável. Algo que se opôs directamente ao que haveria de ser esta nova deslocação, desta feita a Barcelos. Uma história totalmente ao contrário muito por culpa daquilo que por aqui vimos avisando: as organizações (principalmente as defensivas) da nossa Liga têm subido de patamar. E não sendo o Gil Vicente excepção (como havia sido o Marítimo), foram enormes as dificuldades leoninas para abrir espaços.

O contraste notório com o último jogo dos leões não carece de grande explicação

Montado num 541 (que activava pressão aos três centrais se a bola recuasse até Adan), o Gil Vicente esperava pelo Sporting na linha de meio-campo. Não recuando a sua linha defensiva e não ficando estático se a bola fosse recuada ou endossada para a lateral, o Gil controlou quase por completo o líder do campeonato por 45 minutos. E quem olhava para o jogo naquele registo de bola de um central para o outro, sem romper quaisquer linhas, e sem ligar quer pelo meio, quer pelos corredores, rapidamente anteveu que este não seria um passeio turístico que havia levado o leão à ilha. E, para complicar, o Gil Vicente haveria de encontrar uma desmarcação relâmpago de Fujimoto para complicar baralhar ainda mais as contas às expectativas do líder.

O eterno dilema das linhas defensivas onde basta um comportamento contrário para poder comprometer. E neste caso foram vários. Fujimoto em movimento inverso ao da linha defensiva encontrou espaço para marcar. Antes, a bola sai recuada e a defesa sobe. Coates é o único a responder ao estímulo na saída do passe. Se Antunes também o tem feito…



E com o Sporting, sabemos, a conversa anda por estes dias, semanas e meses, à procura de ses. Com adeptos, sem adeptos, com pressão, sem pressão, com jogos durante a semana e sem eles. E na procura de todas as realidades paralelas que se possam encontrar para explicar o fenómeno criado por Rúben Amorim, o pessoal tem-se esquecido que o Sporting, mesmo estando em primeiro lugar, a oito pontos do FC Porto e a onze do Benfica, tem sabido sim (e muito bem) reagir à adversidade – não parecendo assim que dois maus resultados (que até já aconteceram) o tirem deste registo competitivo que o fazem ser o mais forte candidato à conquista final. E a enésima prova disso é que a equipa continua a encontrar soluções quase como um gato com sete vidas. Assim, se a primeira metade decepcionou, a etapa complementar trouxe algo que havia faltado nos primeiros 45 minutos.

Dois lances esporádicos na primeira parte mostraram caminho para a segunda. Com a construção a iniciar em zonas mais adiantadas os alas leoninas ficavam com outro espaço para criar. Algo que com a construção mais baixa (como acima demonstrado) nunca aconteceu



Falamos de um início de construção já no meio-campo ofensivo (coisa que raramente aconteceu na 1.ª parte) e que proporcionou que os alas (mais Pedro do que Nuno Santos – que substituiu Antunes nessa função) pudessem encarar o adversário em zonas muito mais altas que até então. Se antes o Gil fechava a ala ainda bem perto da linha de meio-campo (sendo a construção do Sporting a meio do seu meio-campo defensivo), na segunda parte a ligação pela ala deu azo a um-para-um com cruzamentos que dariam segundas bolas. E isto, apesar de estéticamente não agradar a todos os supostos amantes do jogo, fez abanar a estrutura do Gil Vicente como nunca tinha abanado até então. Não falamos de um sem número de chances, e de um espectáculo avassalador na criação de oportunidades, mas falamos de um forcing que por encontrar ligação entre o início de construção com a(lguma) criação acabou por fazer a diferença que criou a reviravolta – o que foi, sem qualquer dúvida, o oposto entre a primeira e a segunda parte.

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