Ruizada sem Remontada

O SC Braga, com uma primeira-parte de tremenda eficácia (onde emergiu o ponta-de-lança Abel Ruiz) gelou o Estádio do Dragão e colocou a nu a falta de ritmo e agressividade que os dragões só já tiveram quando o marcador mostrava um esclarecedor… 0-3. Uma diferença de golos que foi criada ainda antes da meia-hora de jogo e que forçou, por exemplo, Sérgio Conceição a mexer na equipa pouco antes de Piazón materializar de forma espectacular uma diferença que se demonstrou sempre inalcançável para os portistas. E na senda das piores primeiras-partes com que Sérgio Conceição foi confrontado já várias vezes esta época (em Paços, e no dérbi da Invicta) juntam-se uns primeiros 45 minutos apenas atenuados por uma chegada à área de Otávio que, vindo bem detrás, teve tempo para dominar e reduzir. Antes disso, já o referimos, houve Ruizada, com Abel Ruiz a bisar, a estar também bem perto do terceiro (atirou ao travessão) que foi conseguido pelo já referido Lucas Piazón com um livre cobrado de forma irrepreensível.

Muitas dificuldades do FC Porto para jogar por dentro do bloco do Braga, criaram um desconforto que perdurou pelo jogo



Uma diferença que (mesmo com o golo de Otávio) forçava o FC Porto a ter que marcar três golos na etapa complementar, e que desenhou um jogo que empurrou o SC Braga para junto de Matheus – num forcing em que os minhotos se sentiram estranhamente confortáveis. Um domínio territorial que se foi acentuando com alterações que culminaram num remember a Co Adriaanse, e num 334 que até tinha Pepe (tal como em 2005) ladeado por Zaidu e Corona. Lá na frente os avançados (Evanilson, Taremi e Evanilson) gladiavam-se por tocar na bola, num jogo a pender para um lado direito onde emergiu novamente Francisco Conceição. No meio, Otávio encarnava o papel de playmaker e Sérgio Oliveira entrou ainda a tempo de tentar fazer render as inúmeras bolas paradas que o FC Porto ia conseguindo. Contudo, num registo que ia sempre pelo lado de fora dos gverreiros, a defesa do Braga e Matheus iam conseguindo parar as bolas que sobravam. Mas, dada a falta de espaço (já reduzido a dez, o Braga deixava Sporar sozinho na frente), o sucesso do FC Porto dependeria sempre das bolas que sobrariam na área arsenalista. A exemplo disso, note-se o segundo golo (com Marega a aproveitar uma sobra de Matheus) ou as oportunidades mais claras – onde existiu sempre um desvio que sobrou para alguém. Mas à falta dessas sobras, desses desvios, que desposicionariam eventualmente aquela muralha, emergiram cruzamentos, dribles pelo lado de fora, alguns remates de longe. Mas quase, quase sempre, havia uma perna de alguém do Braga, ou um par de luvas, a sacudir e acabar a jogada, sendo que, como já referido, quando a jogada não acabava e a bola sobrava o FC Porto conseguiu marcar ou criar as suas melhores ocasiões.

FC Porto, mesmo com as alterações que tornaram a equipa hiperofensiva no desenho, via-se forçado a criar de fora para dentro. Algo que permitia às linhas do Braga juntarem e resolverem na maior parte das vezes. Um desenho que forçou também os portistas a tentarem criar em 20/25 metros onde os criadores (Corona, Diaz, Conceição nas alas, com Oliveira atrás do bloco adversário) apareciam por fora e os finalizadores por dentro. A excepção era Otávio, que foi dos mais inconformados.


Fica o registo de uma primeira-parte para não esquecer para dragões e bracarenses, com a falta de ritmo dos portistas a impedi-los de controlar o jogo como gostariam. E o porquê dessa lacuna poderá ter imensas razões, sendo que para uma equipa tremendamente emocional, a ideia de ver o principal objectivo da época fugir-lhe cada vez mais não ajudará a certezas como não ajudará certamente a que o fogo se mantenha – algo que ainda assim foi corrigido ao longo do jogo para níveis habituais. E a complicar ainda mais as coisas, o facto do Braga provar a cada jogo que está a um nível muito acima daquele que prometia mas não mordia (com uma eficácia de aplaudir que em anos anteriores não aparecia) completou uma justa Ruizada sem Remontada.

Lance do primeiro golo do Braga demonstra a ineficácia nada habitual do pressing portista, que deixa sair o passe do central para uma zona estranhamente descompensada. A partir daí os erros sucederam-se em catadupa (Diaz é o elemento mais recuado da linha média, Sarr nunca aparece no lance e força Pepe a ter a abrir uma clareira já impossível de compensar.

5 Comentários

  1. O aburguesamento das estruturas do FCP e SLB resultaram em duas épocas de futebol miserável, jogadores medíocres e táticas que exploram as qualidades físicas desses mesmos jogadores medíocres. A política desportiva do FCP é o Conceiçao. Não há mais nada. Isso vê-se na desastrada política de contratações. No SLB, a política desportiva depende dos ares do seu presidente. A restante estrutura destes clubes está ali para encher bolsos. Basta um Sporting muito competente e ambicioso e um Braga de qualidade para ficarem para trás. E ainda bem.

    • O “aburguesamento” é uma explicação pouco científica, a meu ver.
      O Braga de Carvalhal faz sobressair o melhor dos jogadores. Não sendo isento de pecado (ou de erro, se quiser), a equipa minhota está muito bem trabalhada e isso revela-se na forma como os indivíduos – os jogadores – saem valorizados.

      Já o Benfica tem sido vítima do contrário. Porque o modelo não se encaixa nos jogadores (nem os jogadores no modelo), porque os adversários estudam até à exaustão as dinâmicas do Benfica e as características dos seus jogadores, porque houve n problemas durante a época a impedir o treino, porque há uma crise de confiança… por um magote de razões, os jogadores do Benfica estão “desvalorizados”. Ou imagine como seria um Everton no Braga. Ou um Rafa, ou um Walschmit, ou um Verthongen. Ou mesmo um Chiquinho.

      Já o Porto parece-me diferente. Não creio que se esteja perante aburguesamento. Mas sim perante uma crise de valores, porque o dinheiro escasseia e as novas apostas não têm o valor de caras passadas. Manafá, Zaidu, Nanu… não sendo maus jogadores, não são “de nível Porto”. Sarr, Grujic e Andersson, não são da casa e não vestem o espírito Porto. Por razões que só Conceição poderá explicar, Diogo Leite, Fábio, João e Baró foram ostracizados. E no meio de tudo isto, Conceição cria uma equipa de choque, formatado para a luta das segundas bolas, da superioridade física nas bolas paradas e para a verticalidade de Marega… tudo ingredientes que não beneficiam a tal valorização dos jogadores.
      De qualquer forma, mais uma vez, tente imaginar Corona, Diaz, Taremi ou Sérgio Oliveira no Braga…

      Em suma, em que ficamos? Num… aplauso, justo, para o excelente trabalho de Carvalhal.

      • Deixo a ciência para os cientistas. Há muito mérito do Braga, disso não há dúvida. Apesar do mérito do Carvalhal, há muito mérito de uma estrutura que tem privilegiado um certo tipo de jogador e treinador. É fácil olhar para trás e ver nas opções do Braga escolhas coerentes. Abel, Rubem Amorim, Paulo Fonseca, Carvalhal… nos jogadores igual.
        De quem é a culpa dos jogadores não se adequarem ao sistema nem o sistema aos jogadores? Quem tem culpa que o Benfica tenha gasto fortunas em jogadores como o Gabriel e tenha jogadores emprestados como o Gedson ou o Florentino?
        No FCP igual. Quem tem culpa da desastre financeiro do clube? Que jogadores como aqueles que mencionou são ostracizados e quando jogam, jogam fora de posição – o Baró ou o Vitinha encontrados a um flanco… e são despachados a primeira oportunidade para depois comprarem jogadores com perfis e posições idênticas (o Porto vive o síndrome do media punta, como dizem os espanhóis).
        Não sabemos o que jogariam esses jogadores no Braga, nem sabemos o contrário. Sabemos sim o que tem sido a filosofia dos clubes na última década, que levaram a um campeonato nivelado por baixo, sem qualidade e que tem não tem equipas de dimensão europeia, como temos visto.

        • Concordo, caro Brás, que há muito mérito na política desportiva do Braga – da qual Carvalhal faz parte.

          Mas também tem havido erros. Antes de Amorim, andou por ali Sa Pinto, lembra-se? Mas prefiro não apelidar esse “erro” como aburguesamento.

          Tal como a compra de Gabriel é um erro. Como a dispensa de Tino é um erro.
          Mas a compra de Weigl, Lucca ou Everton, a aposta em Renato ou Félix, a compra de Taremi, a recuperação de Sérgio Oliveira… não são sinais de aburguesamento.
          Mesmo a aposta em Jorge Jesus não é sinal de aburguesamento.

          Tal como a compra de Paulinho não o é. Nem a compra de Tabata, ou João Pereira ou Antunes. São escolhas. Umas com acerto. Outras, não.

          Não me leve a mal pelo debate. E volto a concordar com uma parte do seu comentário: há escolhas (de jogadores, de treinadores, dos modelos de jogo, das estratégias de formação… bem como da gestão económica das SADs), em todos os clubes, que revelam pouco critério ou pouca racionalidade.
          E é sempre mais fácil acertar, quando a exigência é menor. Tudo fica mais difícil quando a margem para erro é diminuta.

          Prefiro é ver o copo meio cheio. Não temos equipas de dimensão europeia? Discordo. Equipas portuguesas estiveram, nos últimos 10 anos, em finais europeias (da Liga Europa, da Youth League). Somos 6os classificados no ranking UEFA… em quantas “coisas” é que Portugal é o 6o melhor país da Europa?

          Aceito as críticas que faz. Devemos querer sempre mais e melhor. Mas… Às vezes, na crítica, vai tudo a eito.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*