Do not Chill Well que isto ainda não acabou

O golo de Chilwell, aos 85′, pode parecer um Mount (32′) intransponível para o FC Porto, mas numa noite em que o resultado não se ajustou (de forma alguma) a uma exibição impressionante tacticamente dos dragões, o sonho europeu não pode terminar na mente de todos os portistas. A eficácia clínica dos blues vai ser puxada para título em todas as crónicas, artigos e peças sobre esta 1.ª mão dos quartos da Champions League, mas a forma como os campeões nacionais congelaram o habitual jogo do Chelsea foi deveras impressionante. E só duas abordagens desmedidas, primeiro de Zaidu e depois de Corona, puderam desequilibrar uma contenda que em tudo o resto pareceu favorável aos dragões. Impressionantes na ocupação de espaços, desdobrando-se entre a pressão à 1.ª fase de construção, na luta no miolo (ganha por Grujic e Uribe com preciosa ajuda de Otávio) e na contenção no último terço (alternando entre o 541, o 532 e o 631) o FC Porto foi gigante e conseguiu transportar o jogo para terrenos desconfortáveis para o Chelsea.

Mount e James decisivos a abrir espaço na linha defensiva em movimentos que antecederam o primeiro golo dos blues. Na 1.ª circulação longa do Chelsea (~2 minutos com posse), o plano de Tuchel funcionou. FC Porto foi imperial a travar à nascença mais situações semelhantes



Avisámos aqui que os blues estão formatados para empurrar as equipas para o seu último terço, para de lá controlarem o jogo tocando por fora do bloco até acharem a brecha. E com a linha de três centrais bem acampada no meio-campo ofensivo, ajudada por uma pressão intensa à perda, por norma o Chelsea consegue (por via da ideologia de Tuchel) manter aí a bola, o jogo e a gestão do mesmo. Contudo, quem visse hoje o Chelsea pela primeira vez não julgaria, de todo, que esta fosse uma equipa totalmente desenhada para esse efeito. É que o FC Porto, que actuou como um acordeão quase perfeito, não se coibiu de subir linhas para apanhar os de Tuchel onde cometem mais erros (junto a Mendy), como não recuou para perto de Marchesín quando perdia a bola. Ao invés, superiormente guiados pela visão de Conceição (que não merecia este resultado), os azuis-e-brancos aguentavam-se altos o maior tempo possível, trocando posições entre avançados, médios e defesas, conforme a posição da bola ou dos jogadores do Chelsea. Era assim com Díaz – que ajudava Marega numa fase adiantada, mas que se juntava ao miolo ou à linha defensiva quando o Chelsea batia a pressão -, era assim com Otávio – que fazia superioridade no meio-campo e que numa fase mais recuada se podia juntar mais a Zaidu-, e era assim com Corona – que foi membro da linha de cinco atrás, fez linha de quatro e de cinco mais à frente, e ainda teve tempo para aparecer mais adiantado. Ufa!

Pressão do FC Porto fundamental para impedir conforto do Chelsea no jogo como também para dar ao FC Porto mais hipóteses de atacar e poder discutir a eliminatória. O resultado acaba por não se ajustar àquilo que foi a excelente estratégia portista


Tudo em prol de tornar o Chelsea o mais desconfortável possível em todas as fases da partida, num desiderato só capaz de acontecer pela excelente leitura dos jogadores aos momentos que o jogo lhes pedia. Assim, e durante a maior parte do tempo, o FC Porto foi capaz de bloquear os blues, como foi capaz de aparecer no seu meio-campo ofensivo olhando olhos nos olhos o Adamastor e fazendo-o armar uma organização defensiva que, por exemplo, mal se viu na deslocação a Madrid nos oitavos. Porém, tudo isto saberá a pouco porque o FC Porto não resistiu a dois erros não forçados. E esses são nucleares neste tipo de jogos.

Foi lá para a meia-hora inicial que o Chelsea conseguiu a sua primeira circulação longa no meio-campo adversário. E se isso quer dizer muito sobre a ação olímpica do FC Porto até aí (recordamos que a ideia de Tuchel vive para obsessivamente para isso), o golo conseguido por Mount também quererá dizer o quão importante foi evitar isso na maior parte de todo o jogo. Foi de facto na única demonstração a sério da sua maneira preferida de jogar que os de Tuchel encontraram uma brecha na armadura de Conceição. Não pelo mau posicionamento, mas por uma investida desatempada de Zaidu que à queima foi presa fácil para Mason Mount.



Mas o FC Porto não desistiria do seu jogo. Não desistiria de aparecer. Não desistiria da sua imagem de marca, daquilo que o tem agigantado nesta edição da Liga dos Campeões. Uns são mais pela posse, outros mais pela organização, outros mais pela técnica. E sem aparente descriminação possível, o FC Porto é mais pela pressão, é mais pelo duelo, é mais pela intensidade. E com isso congelou, de novo, aquele jogo habitual do Chelsea, num registo que foi mantendo os dragões perto de Mendy mas que a falta de definição e finalização no último terço acabou por não materializar no marcador electrónico do Sánchez Pizjuán. Uma demonstração cabal de competitividade que acabou mais uma vez traída por outra abordagem desatempada. Um corte que saiu curto a Corona foi como que uma prenda para uma equipa e como que uma facada para outra. Chilwell não se fez rogado e provou que um erro não-forçado na Champions pode ser um quebra-sonhos. Porém toda esta demonstração de competitividade não poderá cair em saco roto, tendo obrigatoriamente que servir de combustível para o segundo embate. Assim sendo, chill well and sleep tight, Thomas. Mas não te rias que ainda não acabou!

FC Porto-Chelsea, 0-2 (Mount 32′ e Chilwell 85′)

1 Comentário

  1. Boa tarde,

    Penso que Tuchel fez um bom resumo do jogo.

    Chelsea aceitou este Porto, sem problemas. Não me parece ter tido tantos problemas defensivos ou pelo menos, mais que os que Porto teve.

    Ofensivamente o Chelsea sempre que foi, foi com perigo. Bola na trave, remate defendido para a frente por Marchesin, bola de cabeça na pequena área de Azpiclueta e os golos.

    Porto tem um problema defensivo, desde início de época. Basta olharmos os golos sofridos e quantidade de bolas que já leva nos ferros. Esse problema é de alguma forma “escondido” quando equipa baixa e aí está confortável (até com equipas menores da liga, dá em grds períodos do jogo a iniciativa ao adversário). Neste jogo particular o problema no meio campo até não existiu tanto (quando entrou pulisic sentiu mais), mas na esquerda voltou a ser notório.

    Porto poderá fazer mais na eliminatória, depende se marca cedo e intranquiliza Chelsea.

    Cumprimentos.

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