As ideias de Jesse Marsch a caminho de Leipzig – Linha de sucessão Red Bull

Após o FC Bayern voltar a abalar o futebol alemão ao contratar Julian Nagelsmann – provavelmente um dos treinadores mais promissores do momento e claramente “da moda” – ao RB Leipzig (atual 2º classificado da Bundesliga, portanto, a um dos principais rivais), as engrenagens da estrutura Red Bull não perderam tempo e rapidamente promoveram o norte-americano Jesse Marsch do RB Salzburg como substituto. Outra decisão não se esperava, uma vez que o mesmo está como treinador na estrutura desde 2015 (começou na formação RB nova-iorquina), foi adjunto no próprio RB Leipzig em 2018/2019 e é um dos mais fiéis seguidores da metodologia de treino e ideias para o jogo de Ralf Rangnick (o treinador que provavelmente mais influenciou a vanguarda do futebol alemão e a atual geração de técnicos alemães – a própria UEFA o refere numa recente reportagem). Contudo a exigência vai subir exponencialmente, a exposição será muito maior e o contexto muito mais competitivo (vai ter pela frente uma das equipas mais dominadoras do mundo a nível doméstico) em relação ao que encontrou na Áustria sendo que a fidelidade às ideias que absorveu e defende poderão ser essenciais para ter sucesso em Leipzig.

As ideias e princípios

Altamente influenciado pela metodologia do grupo Red Bull (que por sua vez tem um cunho enorme das ideias de Ralf Rangnick com um predomínio do jogo de transições e Gegenpressing), o modelo orienta-se pelo acrónimo S.A.R.D. que representa os princípios fundamentais de pressão das equipas de Marsch:

  • S de Sprinting – as cargas que os jogadores têm nos jogos e a intensidade que aplicam (que neste contexto específico vamos aqui quantificar pelo número de sprints por unidade de tempo) reflete-se na constante predisposição para pressionar, reagir e contrapressionar o adversário.
  • A de Alle Gemeinsam – ao iniciar o sprint e o deslocamento de pressão sobre a bola fazê-lo de forma compacta e coletiva, com grandes números e fazendo com que o bloco esteja sempre muito curto principalmente em largura pela deslocação de muitos jogadores sobre o corredor da bola.
  • R de Reingehen – ao observar que muitas equipas e jogadores, ao efetuarem os encurtamentos de pressão sobre os adversários, muitas vezes travam para contenção a 1m do portador ou da bola, a ideia aqui é “ir até ao fim a 100%” sempre no intuito de recuperar a bola e não tanto com a preocupação de fechar linhas de passe ou ser batido em drible.
  • D de Dazukommen – manter uma continuidade na pressão com 2ªs e 3ªs levas de encurtamentos sobre o portador mesmo que a primeira pressão seja batida.

As ideias são materializadas na mensagem para os jogadores, com o treinador a utilizar muitas vezes uma forma de discurso que incita muito à agressividade e emotividade dos jogadores (foi viral a palestra o intervalo em Anfield que fez a equipa recuperar de um 3-0 para um 3-3 na segunda parte).

Contextualizar em treino

A ideia em treino é continuar a experienciar os princípios do modelo em contextos que sejam representativos do jogo que se quer jogar. Para tal, o próprio refere que adota muitas vezes a forma integrada sob a forma de jogos de posse, jogos reduzidos ou formas de organização com manipulação dos constrangimentos para dar aos jogadores um ambiente de aprendizagem jogado o mais próximo possível às condições do (seu) jogo. O vídeo abaixo detalha dois exercícios-tipo das suas unidades de treino, sempre com a intencionalidade do modelo presente:

  • Jogo tipo “rondo” 10v5 com mini-balizas exteriores ao campo – a equipa com coletes, em clara inferioridade, deve aplicar o princípio de pressão orientada pela bola encurtando de forma coletiva e em espaço curto tanto o portador (com até 2 ou mais jogadores) como as linhas de passe mais próximas, podendo de seguida marcar golo nas mini-balizas. Isto ativa comportamentos de contrapressão da equipa sem coletes que deve imediatamente encurtar sobre a bola para impedir um golo dos coletes que neste caso seria equivalente, em jogo formal, a uma tentativa de tirar uma bola da zona de pressão (as próprias mini-balizas estão exteriores ao traçado da posse para que em momento de perda os vermelhos sejam atraídos à bola e não à proteção do alvo).
  • Jogo reduzido GR+6v6+GR com dois jokers interiores – a criação de superioridade numérica pelos jokers impede que os jogadores sejam tentados a exercer uma marcação individual e apliquem os princípios da pressão orientada pela bola, deslocando-se em grande número para o corredor do portador (o campo é marcado para que tenham essas referências). Deste bloco, há sempre um jogador a dividir um comportamento de encurtamento com uma orientação dos apoios para a rutura sobre a última linha em caso de recuperação e aplicação do subprincípio de saída de pressão com passe diagonal para profundidade.

Contrapressionar para marcar

“We’ve got a high-press, a high-energy style of play, but it’s not just that; it’s a way of life – this daily intensity leads to the pressure that constantly takes you to the next level: react even faster, make better decisions, expect even more from each other.”

Jesse Marsch

A objetividade dos princípios reflete-se na capacidade que as suas equipas têm, por exemplo, de sair dos momentos de Gegenpressing agressivo com atração de muitos jogadores sobre a bola para transições ofensivas vertiginosas na profundidade que muitas vezes resultam em golo.

Sobre Juan Román Riquelme 97 artigos
Analista de performance em contexto de formação e de seniores. Fanático pela sinergia: análise - treino - jogo. Contacto: riquelme.lateralesquerdo@gmail.com

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*