O que a televisão não mostra: o golo da Champions e a pressão do City em plano aberto

Uns dias depois da final da Champions, muito ficou por refletir e aprender com uma final bem disputada, com duas equipas muito bem trabalhadas e dois dos melhores treinadores do Mundo no banco. Não podia ser de outra maneira, com dois fantásticos pensadores do jogo no banco, o jogo decidiu-se naquele que é o momento que considero mais importante no futebol de elite atual: construção vs pressão. Com duas equipas que utilizam a sua fase de construção para ganhar vantagem sobre os adversários, muitas das dores de cabeça para os seus treinadores passa por identificar como, quando e onde querem pressionar a equipa adversária. Após a final, muito se falou do plano falhado de Pep Guardiola, ou até de “invenções” (algo que me custa sempre ouvir quando pensamos que, mais do que qualquer um de nós, Guardiola e Tuchel sabem e fizeram o melhor que consideravam para as suas equipas chegarem a este jogo na máxima preparação). Como não gosto de bitaites, propus-me a tentar realizar um exercício sempre difícil: qual seria o plano de Pep Guardiola?

Imagem de Between the Posts

Ficou bastante patente que o Chelsea ultrapassou a pressão do City mais do que um par de vezes, apenas na primeira parte: minutos 3, 9 e 12 são alguns desses exemplos. O City tinha no seu 4-3-3/4-4-2 a pressionar ideias bastante fixas: Sterling e Mahrez a pressionar de fora para dentro os centrais de fora do Chelsea (Azpi e Rudiger) anulando a linha de passe para os alas (James e Chillwell); Gundogan como cobertura da pressão no meio-campo, sem ter um papel de marcação ou pressão mas sim como homem extra (talvez a decisão mais discutível por Pep); e Walker e Ruben Dias a controlarem os movimentos dos médios ofensivos do Chelsea (Havertz e Mount). Ora, numa ideia bem preparada e com a intenção de pressionar alto, Pep “decidiu” abdicar de pressionar o ala do lado contrário (muitas vezes Chilweel e James), algo intencional e não apenas uma falha ou esquecimento: como em tudo no futebol, para arriscar pressionar mais alto num lado, tem que se abdicar de pressionar no outro.

Passando para o caso específico do golo, deixo então a minha visão sobre o lance, com recurso a plano aberto que ajuda bastante a mostrar aquilo que na televisão não foi possível ver. Liguem o som para seguirem a análise:

Apesar das ações estarem todas relacionadas, o que falhou?

  • Sufocar a equipa do Chelsea na zona de pressão e não permitir uma linha de passe para sair dessa zona
  • Coordenação Walker-Stones: quando Walker sai (após ligeira indecisão), Stones pode recuar a linha defensiva ou acompanhar Mount, ficou entre uma posição e outra
  • O papel de Gundogan na pressão: cobertura, mas quase sempre longe após passe longo, sem compensar na linha defensiva (excelente o Chelsea a desmontar a pressão)
  • Acompanhamento das desmarcações em ruptura: Zinchenko nunca ganhou a zona central a Mount, Ruben Dias apesar de ter acompanhado bem num momento de perigo inicial, acaba por sair demasiado da zona central
Sobre RobertPires 82 artigos
Rodrigo Carvalho. 25 anos, analista na USL Championship, segundo escalão dos EUA. Podem seguir muito do seu trabalho em @rodrigoccc97 no Twitter.

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