Como passas aquilo que não tens?

Todos conhecemos o sabor, ou falta dele, dos jogos amigáveis que precedem uma competição como o Europeu. Assim, acima de todas as outras questões que este Espanha-Portugal levantou está, obviamente, a da competitividade. O objectivo, até mais do que o resultado, é o de aferir o que é que a Seleção já é capaz de, ou pode, fazer para renovar o título de campeã da Europa. Porém, este jogo no Wanda Metropolitano, mais do que nos dizer o que a equipa das quinas pode fazer, diz-nos mais daquilo que ainda não é capaz de fazer. Contra uma Espanha já com uma intensidade competitiva próxima do que fará nas próximas semanas, Portugal facilitou e foi, na maior parte do tempo, engolido e dominado.

E se Fernando Santos nos tinha garantido que a visita a Madrid não seria para ver a Espanha jogar, torna-se determinante olhar para a incapacidade na pressão para explicar porque Portugal não realizou o desejo do Engenheiro. E se na 1.ª parte foi ver Cristiano Ronaldo, e o próprio Fernando Santos, pedirem, esbracejando, para a equipa circular, impõe-se a pergunta: como circular o que não se tem? Sim, e olhando para a Espanha como exemplo perfeito do que pede o futebol moderno, os momentos de pressão foram cumpridos escrupulosamente, sendo tão eficientes que deixaram a nu as tais deficiências que Ronaldo e Santos apontavam na circulação. Mas essa [incapacidade] parece-nos ser o segundo problema – e que surge por arrasto do primeiro. Ainda assim, importa referir que os poucos momentos com bola (ao intervalo a percentagem de posse rondava os 70-30) foram gastos em decisões precipitadas (ajudadas em muito por uma pressão cheia de ganas) e em correrias que não ajudaram a equilibrar um jogo que deixa algumas preocupações e sobretudo muitas questões.

A incapacidade para Portugal condicionar o jogo dos espanhóis foi gritante em grande parte do tempo, e será uma das chaves para aquilo que os campeões da Europa poderão fazer para (tentar) revalidar o título



Como querer ser protagonista sem ter nos momentos sem bola uma capacidade de pressão que iguale Alemanha e França? Como pressionar com Félix e Ronaldo na frente? Como responder com o meio-campo e linha defensiva a essa incapacidade? Na realidade, o jogo particular desta sexta-feira deixa-nos um feeling que pode ser atenuado pela cartada argumentativa de este ser, só isso mesmo… um jogo particular. Falta de rotinas, falta de entrosamento, mas, sobretudo, falta de ideias e plano claro para ser mais do que uma equipa que viu a Espanha ser protagonista, criar mais, correr mais, circular mais. Nada que assustasse em demasia se os momentos defensivos estivessem seguros e se as transições estivessem afinadas. No entanto, e com alguma normalidade, nada disso acontece. Não deixa é de ser paradigmático que quando Portugal subiu linhas para realmente incomodar a saída de nuestros hermanos, podia mesmo ter surpreendido por duas vezes. Mas mesmo que essa intenção (de ser mais pressionante) tenha tido mais protagonismo à medida que os minutos foram correndo na segunda metade, parece claro que num jogo deste género as saídas espanholas teriam que ser muito mais testadas do que o que foram. A questão para Fernando Santos nos próximos dias será mesmo: Como impedir que algo do género se passe no Euro? E para responder a isto, o que este jogo mostrou, claramente, não podia ter vindo em melhor hora!

Espanha-Portugal, 0-0

4 Comentários

  1. Fiquei com a sensação de que lá no balneário discutem como se pudessem ganhar (e jogar melhor) discutindo normalmente o jogo, em condições de ter bola e etc. Falta de estratégia e dos jogadores certos para essa estratégia.

  2. Incrível como é que uma equipa com jogadores como os que temos não consegue jogar em posse contra equipas do mesmo nível. Sem bola, a pressão é zero (a pergunta é mesmo “como fazer pressão com Ronaldo e Félix na frente?”). Como disse o Luis Enrique, Portugal não conseguiu fazer três passes seguidos. É só passes para trás; não há rasgo, movimentações de ruptura, velocidade; nada! Jogadas de ataque apoiado, sem ser em transição, também é mentira. Enfim. Uma pena que com jogadores deste nível tenhamos uma equipa tão fraca.

  3. Portugal simplesmente não tem ideias nenhumas.Nem sair a jogar, nem para jogar longo.Basicamene inexistente ofensivamente. Pior ainda, ao mesmo que não tem ideias ofensivas consegue nem ter timings de pressão nenhuns. Acho que não houve um momento do jogo que que parecessem preparados.

  4. Enquanto os jogadores espanhóis aplicaram a sua classe, os nossos passearam a sua classe. E esse é um problema não apenas na selecção. O talento está lá, falta a humildade do trabalho e o reconhecimento de tal facto.

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