![Canada v Sweden: Gold Medal Match Women's Football - Olympics: Day 14](https://i0.wp.com/www.lateralesquerdo.com/wp-content/uploads/2021/08/vitoria-vitoria.jpg?resize=678%2C381&ssl=1)
E foi desta! Depois de duas medalhas de bronze nos jogos Olímpicos de Londres (2012) e do Rio de Janeiro (2016), a equipa do Canadá chegou ao Ouro. Capitaneada por Christine Sinclair (a mítica Canadiense que já representou a seleção por 305 vezes e marcou 187 golos) e liderada por BREV PRIESTMAN, eliminaram Brasil (7ª), EUA (1ª) e Suécia(5ª), três potencias do futebol mundial.
A conquista do troféu foi dura. Na fase de grupos (Grupo E) defrontaram o Japão (1-1), venceram o Chile (1-2) e empataram novamente por 1-1 contra o Reino Unido com um auto-golo de Prince aos 85′, passando assim para o playoff em 2º lugar com 5 pontos (atrás do Reino Unido com 7). 4 golos marcados – 3 sofridos.
A fase de grupos não convenceu. Uma equipa que vivia muito à base da sua organização e da sua competência individual, sem nunca deslumbrar o espetador e sem nunca apresentar uma dinâmica ofensiva muito forte. A verdade é que foram sempre a equipa que a defender mais dificuldades causou aos adversários, tendo uma organização defensiva quase impenetrável, com as linhas muito próximas e uma entrega incrível nas constantes coberturas e equilíbrios que iam fazendo.
Nos quartos de final defrontaram o Brasil, a equipa que na minha opinião era a mais completa pois conciliava um enorme talento individual (como Debinha, Marta, Andressinha e Duda) com dinâmicas e um modelo muito consolidado, que potenciava as suas individualidades através da projeção das laterais e o jogo interior das extremos e muita liberdade para as Avançadas explorarem os espaços em profundidade e largura. (4x4x2 com duas linhas de 4) No entanto, era também a equipa que defendia apenas com 2 centrais +1 média e que se expunha muitas vezes na transição defensiva, e o Canadá conseguiu aguentar o seu momento defensivo e quando conseguia recuperar a bola era extremamente eficaz nas transições ofensivas com a bola a chegar às duas avançadas em 2/3 passes e num curto espaço de tempo.
Como pressionou o Canadá?
![Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é tenta-650x352.png](https://i0.wp.com/www.lateralesquerdo.com/wp-content/uploads/2021/08/tenta-650x352.png?resize=650%2C352&ssl=1)
Nesta imagem percebe-se que quando as adversárias, neste caso o Brasil, se apresentava numa linha de 4 havia uma pressão imediata e individual das duas avançadas sobre as duas centrais e a Médio ofensivo encostava na Médio mais recuada do brasil fechando assim as linhas de passe mais próximas. De realçar que a avançada que está a pressionar fecha a linha de passe para a lateral desse mesmo lado, obrigando muitas vezes a adversária a jogar para trás ou jogar longo com menos critério.
![Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é pressao-lateral-650x336.png](https://i0.wp.com/www.lateralesquerdo.com/wp-content/uploads/2021/08/pressao-lateral-650x336.png?resize=650%2C336&ssl=1)
Não jogando com extremos, e pressionando as 3 jogadoras que indicámos anteriormente, e se a bola entrasse em largura numa das laterais (como na imagem) quem saía na pressão era uma das médios interiores, sendo que a médio interior do lado contrário fechava na linha da médio defensiva para criar o equilibrio e compensar a saída da colega. A lateral acompanhava a movimentação da extremo condicionando também essa linha de passe. Esta dinâmica para além de obrigar a que existam muitas deslocações, são deslocações longas e que requerem competência física também, um dos parâmetros muito evidenciados nesta equipa do Canadá que parecia estar sempre fresca no momento defensivo, mesmo quando ofensivamente começava a cometer mais erros na decisão.
No momento de pressão houve também um elemento chave: Christine Sinclair. Inteligência, saber e experiência. A velocidade de deslocação já não é a mesma mas o número de vezes que recuperou a bola ou causou constrangimento para uma má receção ou um mau passe, foram imensas, o que proporcionava que a sua equipa conseguisse ser uma equipa perigosa em transições e que causasse constantemente situações de perigo. Alguns desses momentos na vitória sobre os EUA nas meias-finais:
A vitória sobre os EUA surge da pressão alta que causa um penalti a favor do Canadá que é então convertido por mais um dos destaques desta equipa: Jessie Fleming.
![](https://i0.wp.com/www.lateralesquerdo.com/wp-content/uploads/2021/08/fleming-1-513x410.jpg?resize=317%2C253&ssl=1)
Jessie Fleming é incrível: Posicionamento, técnica e decisão.
23 anos de puro talento! (para os mais curiosos: https://www.youtube.com/watch?v=ZeDhTjhiIO4)
E com bola, como jogou o Canadá?
![Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é 2-4-650x340.png](https://i0.wp.com/www.lateralesquerdo.com/wp-content/uploads/2021/08/2-4-650x340.png?resize=650%2C340&ssl=1)
Na saída, na 1ª fase de construção, projetam as laterais para a linha das médios e formam uma linha de 4, criando muitas vezes superioridade nessa zona, onde a bola é colocada rapidamente, quando a pressão das avançadas começa a chegar. Lawrence e Chapman as laterais mais utilizadas, são ambas muito fortes em condução com bola controlada mas diferem nas ligações que fazem: Chapman a ligar bem com o corredor central, jogadora que se envolve muito em tabelas e no jogo curto para progredir no terreno, enquanto que Lawrence desequilibra mais através da velocidade em progressão no momento ofensivo, acelerando tanto para o corredor central como para fora, mas sempre impondo o seu físico e capacidade de decisão em velocidade.
Na fase de criação, ultrapassada a primeira linha de pressão adversária:
![Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é CRIACAO-650x336.png](https://i0.wp.com/www.lateralesquerdo.com/wp-content/uploads/2021/08/CRIACAO-650x336.png?resize=650%2C336&ssl=1)
Mantém-se a linha de 4, uma das laterais projeta-se mais quando vê o espaço (nesta imagem percebe-se que Lawrence(DD) vê a vantagem numérica e espacial no corredor dela e começa a apontar) e a outra fica mais em apoio/equilíbrio, e as outras duas médias, Sinclair e Fleming, têm total liberdade para explorar atrás da linha média adversária. A profundidade e movimentos de rutura assim como a largura ficam a cabo das avançadas que muitas vezes se posicionam fora para romper para dentro, entre central e lateral.
No último terço ofensivo são práticas e maioritariamente recebem a bola no espaço em ruturas para finalizar de primeira, privilegiando muito as caracterisiticas mais fortes das duas avançadas: velocidade. Sendo que destaco neste sector Janine Beckie, a jogadora do Manchester City que consegue aliar a técnica à procura de espaços vazios e cujo timming de desmarcação é quase sempre certo. Não se destacou neste Jogos Olímpicos em particular, mas tem muita qualidade!!
![Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é 11-mais-utilizado-canada-270x410.png](https://i0.wp.com/www.lateralesquerdo.com/wp-content/uploads/2021/08/11-mais-utilizado-canada-270x410.png?resize=323%2C491&ssl=1)
Uma equipa que venceu pelo seu coletivo. Venceu pela sua organização.
Não venceram as individualidades. Não venceu o espetáculo.
Mas venceu a entrega e competência.
O Futebol é assim!
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