Um Luxo cá no Burgo

Quando se fala no Luxemburgo há por agora uma certa desconfiança. Se era uma das seleções que costumava ser um cliente fácil noutros tempos até menos abonatórios para a nossa Seleção, hoje por hoje é reconhecida a evolução dos luxemburgueses no que toca ao desporto-rei. Contudo, nesta terça-feira no Estádio do Algarve, o já tradicional embate entre Portugal e Luxemburgo foi de encontro a tempos passados onde a passadeira se estendia e onde adivinhar a quantidade certa de golos era um exercício complicado. Assim, ficou bem patente desde o início a enorme diferença de qualidade entre as equipas, com Portugal a ter (finalmente) a ligação entre meio-campo e ataque e a ter também várias coisas que, por exemplo, faltaram no Euro ’21. E para isso, obviamente, o adversário terá ajudado. Manter-se-á no futuro?



Falamos da capacidade individual de Bernardo Silva e do forcing no um para um que ficou ausente do primeiro Euro inter-nações. E se a isso juntarmos um Bruno Fernandes muito mais próximo da influência que tem no Manchester United, e um João Cancelo sempre muito interventivo, talvez tenhamos aqui já algumas explicações para Portugal ter ficado aquém das expectativas. Outra das diferenças em relação aos jogos do Europeu passou pela inclusão de André Silva que substituiu Diogo Jota. E se a alteração, à primeira vista, parecia poder retirar Cristiano Ronaldo de uma posição mais central, na prática André Silva acabou por desempenhar a mesma função de Jota no campo. Fechou a ala-esquerda a defender, apareceu mais central no momento ofensivo mas deixou CR7 deambular por sítios que são reconhecidos hoje como sendo os mais aceitáveis para o jogador que é hoje. Mas serão mesmo?



E este é um dos assuntos onde Fernando Santos se poderá focar para contemplar uma possível evolução. É que ninguém pede, caso Ronaldo parta da esquerda, que seja um ala (como Rafael Leão que entrou mais tarde no jogo e deixou água na boca). Mas será descabido aproveitar a qualidade de desmarcação de CR7 partindo da esquerda e oferecer uma posição mais central a quem oferece mais retenção de bola e capacidade de assistir (não perdendo finalização)? Poderá ser uma alternativa, até porque a prestação do trio da frente tem sido uma das incertezas desde que Jota, Ronaldo e Bernardo têm assumido essas posições. E, desta feita, apesar da enxurrada atacante convirá ser realista e pensar que do outro lado esteve uma seleção que se auto-mutilou constantemente e que teve bastantes dificuldades em tornar viável o plano que trazia para o jogo. E se algumas das bolas de saída dos luxemburgueses até furaram linhas, mais seguimento não houve a partir daí. E aproveitamos aqui para lembrar o monstro Palhinha que se junta a Bruno Fernandes e a Bernardo Silva (que apareceu com muito maior disponibilidade para o drible) com direito a figurar no quadro dos melhores em campo, como uma das razões para o adversário não ter conseguido materializar o que trazia na cabeça para o jogo – ele que ainda aproveitou para facturar um dos golos da noite. Mas a maior razão de todas foram claramente os erros não-forçados de um Luxemburgo que não mostrou eficiência, nem qualidade, para arriscar o plano de sair constantemente de trás e tentar saídas limpas que Portugal foi sujando. Um jogo que se decidiu bem cedo (aos 17′ estava sentenciado) e que deu oportunidade a Ronaldo de chegar aos 115(!!!) golos pela Seleção nacional, e que deu períodos de entretenimento, recordando goleadas antigas entre as duas equipas. Juntou ainda Matheus Nunes, Rafael Leão e o regressado João Mário em campo, e mostrou o extremo do Milan como alguém capaz de solucionar aquela equação do trio-da-frente. Mas realisticamente, com o Mundial na mira, há arestas para limar com e sem bola. E já nomeadas acima foram a ligação entre os três da frente, e as bolas que romperam linhas portuguesas com facilidade e que outro adversário aproveitaria certamente. Um resultado luxuoso, exibição para highlights, mas a expectativa que esta Seleção provoca não a pode deixar deslumbrar-se no caminho para chegar ao nível que se pretende.

Portugal-Luxemburgo, 5-0 (Ronaldo g.p. 8′, g.p. 13′ e 87′, Bruno Fernandes 17′ e João Palhinha 69′)

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