Ideias portuguesas em título sul-americano – Renato Paiva e o seu jogar

Depois de vários anos ao serviço da formação do SL Benfica, Renato Paiva embarcou numa aventura no Equador ao assumir o comando técnico do Independiente del Valle e tal não poderia ter corrido melhor com o treinador português a conquistar o primeiro título de campeão nacional na história do clube. Para tal contribuiu a implementação de uma forma de jogar mais “europeia” e numa entrevista recente o próprio explicou um pouco o modelo de jogo que tentou implementar na formação equatoriana e aproveitámos para citar então algumas das ideias chave que tentou transmitir:

  • Exigência do sistema para os alas – “dois alas com função de fazer todo o corredor em amplitude – uma função muito exigente tanto física como mentalmente, corre-se muito e têm de perceber quando se projetam em organização ofensiva, quando integram a linha de 5 em organização defensiva ou reagem localmente à perda na transição defensiva. Muitas pessoas fazem alguma confusão ao ver a linha de 3 mas é uma linha de 3 a atacar e uma linha de 5 a defender. O ideal ao defender em bloco é defender com 5 homens pois é muito difícil fazer um golo a uma linha de 5 organizada pois se, por exemplo, o ala vai pressionar continuas com 4 jogadores para defender a área; se há uma rotura nas costas do ala que vai pressionar o central perto pode acompanhar e continuas com 3 jogadores a defender a área.”
  • Ponto de partida para algo mais – “dois avançados e uma situação no meio-campo que pode variar consoante o nossos adversário no sentido de termos o meio-campo em 2+1 para que a construção tenha mais qualidade e jogando com um “10” ou, se entendermos que o jogo nos pede outras coisas, jogamos em 1+2. O sistema não é nada mais que um ponto de partida para o teu jogo: podemos dizer que isto tudo é um 1-3-5-2 mas se os alas se projetarem em profundidade e largura máxima já podemos dizer que é um 1-3-3-4. É a dinâmica do jogo que vai dizer como jogas.”
  • Os centrais que se querem protagonistas – “em construção é essencial que os 3 centrais tenham uma saída de bola muito forte porque são eles que te vão permitir colocar jogadores mais à frente dentro da equipa adversária e como muitas vezes defrontamos equipas em bloco baixo precisamos de ter gente por dentro e por fora a diferentes alturas em relação ao bloco adversário. Assim, estes 3 jogadores ao estarem mais livres devem ter uma boa condução de bola, uma boa relação com bola e técnica refinada bem como uma boa interpretação do jogo porque eles sabem onde estão as linhas de passe, têm o mapa mental do jogo. O jogo de futebol para mim é isto: tentar gerar superioridades numéricas com a bola controlada e depois criar e ocupar espaços. Estes centrais têm muitas vezes a responsabilidade de progredir, provocar a pressão e quando a marcação do ala ou do interior saltar nele, um destes ficará livre e depois ou ativamos esse jogador livre diretamente em passe ou através de dinâmicas do 3º homem.”
  • A tomada de decisão, o centro de tudo – “estas dinâmicas também se geram devido aos comportamentos defensivos dos adversários. Por exemplo, se eu tiver os dois avançados marcados, o meu central a progredir com bola e o meu ala baixa atraindo a marcação do lateral abre-se um espaço de rotura no espaço central/lateral onde pode entrar o interior, o avançado (que pode arrastar assim um central com ele e abrir outro espaço no corredor central) ou o ala após contramovimento de engano sobre o lateral. Assim o portador tem de decidir de acordo com os companheiros (longe e perto), adversário (onde está, como pressiona) e o espaço. E o colega próximo tem de decidir de acordo com isto tudo e a bola – tem de se mover de forma a receber ou a gerar espaço para outros colegas.”

Rating: 5 out of 5.
Sobre Juan Román Riquelme 97 artigos
Analista de performance em contexto de formação e de seniores. Fanático pela sinergia: análise - treino - jogo. Contacto: riquelme.lateralesquerdo@gmail.com

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