E quando a oportunidade surge?

Se há coisa que já foi provada ao longo do tempo no futebol é que o sucesso depende muito da oportunidade. Essa questão tem levantado inúmeras questões no posicionamento de jovens promessas em plantéis mais fortes ou, pelo contrário, em plantéis que lhes permitam disputar pelo lugar no 11 titular semana após semana.

A oportunidade depende de vários fatores, uns que os jogadores controlam melhor e outros que não controlam, portanto terá de ser nos fatores que controlam que os jogadores têm de mostrar que estão bem e preparados para responder quando surge a tal oportunidade.

Fatores que controlam: Rendimento técnico-tático e preparação física
Fatores que não controlam: Aposta do treinador e Adversários Diretos

Para exemplificar, trago dois casos da Liga BPI 2021-2022: Ana Seiça e Joana Prazeres.

A Ana Seiça (Defesa-Central, 20 anos, SL Benfica) tem, para disputar o lugar com ela, as duas centrais com mais internacionalizações em Portugal, Carole Costa e Sílvia Rebelo, e portanto, uma tarefa muito complicada para se assumir como titular numa equipa que luta pelo título e que se expõe a momentos de alta competitividade e alta pressão, como é o caso da Liga dos Campeões. Na época transata, Ana Seiça cumpriu muitos minutos na equipa do Benfica mas… a lateral. Com Carole e Sílvia bem fisicamente e sem lesões, e a sua equipa com poucas opções nas laterais, Ana Seiça acabou por ser chamada à função – que cumpriu com rigor – apesar de não ser a sua posição natural. A atitude, a entrega e a qualidade nos processos acabou por chamar à atenção de quem a acompanhava principalmente por ter aceite o desafio com tamanha dedicação. Em janeiro o treinador de 2021 o treinador mudou, houve o regresso de Lúcia Alves para a posição de lateral esquerdo e o espaço de Ana Seiça voltou a ser menor. No entanto, o trabalho e irreverência que tinha demonstrado serviu para mais tarde, agarrar a oportunidade de entrar no 11 titular com alguns problemas físicos da sua colega e capitã Sílvia Rebelo. A Ana Seiça tem sido muito utilizada, incluindo a titular na Liga dos Campeões na equipa campeã nacional, aos 20 anos. Porquê? Porque respondeu sempre bem quando teve a oportunidade.
Isto não quer dizer que vá jogar sempre, ou que não vai perder o espaço com algumas contratações, mas a verdade é que sempre que foi chamada a jogar demonstrou que tinha capacidade para estar ao mais alto nível. A Seiça aproveitou a(s) oportunidade(s) que lhe foram dadas porque se manteve focada, porque nunca baixou a guarda e porque sempre acreditou que a oportunidade podia aparecer. Quando apareceu ela respondeu.

É por isto que trago este exemplo. Os jogadores muitas vezes têm que ser capazes de esperar, mas esperar trabalhando ainda mais para que consigam responder bem quando forem chamados. Muitas das vezes é a única oportunidade que vão ter aquele nível, e se não estiverem preparados, quem lhes diz que terão outra?

(O jogo escolhido para a Análise da Ana Seiça foi um jogo de alta dificuldade, contra a equipa nº1 do ranking – para a Liga dos Campeões – outro nível de exigência)

A Joana Prazeres, jogadora do Famalicão, 18 anos apenas, é o segundo caso que gostaria de analisar.

A Joana tem passagens seguras pela formação do Sporting e do Benfica. É também uma central de qualidade, e que este ano teve a oportunidade de sair de um clube onde era titular, Amora – 1ª divisão, para um clube fora da sua zona de residência e com um plantel mais competitivo, pondo em causa assim a sua utilização. O Famalicão.

O Famalicão disputa o apuramento de campeão e por isso, joga com as melhores equipas mais vezes, no entanto, a Joana não joga contra essas equipas. Muitos questionaram esta decisão, mas realmente demonstra estar bem acompanhada pois é sem dúvida a oportunidade (que ela agarrou!). A oportunidade de trabalhar como profissional, a oportunidade de treinar com profissionais e ser exposta a este estímulo que não teria se continuasse a ser titular no Amora, pois o clube ainda não oferece essas condições. O que será melhor para o desenvolvimento dela? Vai depender de vários fatores, mas a verdade é que foi chamada à seleção do seu escalão – Sub-19 – e liderou a equipa para a manutenção na Liga A, sempre a titular, rigor, agressividade, preparação física, posicionamento.
Isto só é possível porque ela treina bem, está sempre no máximo, e está inserida num contexto que a estimula – contexto profissional. E também só é possível porque a Joana mantém a mesma capacidade de trabalho e está a saber esperar. Caso contrário, porque seria uma jogadora não utilizada convocada para uma seleção nacional? O facto de não ter a competição garantida ao fim de semana não serviu como desculpa para trabalhar menos, não serviu como desculpa para não aceitar o desafio, serviu sim como mais um estímulo, mais um risco a ser tomado para que possa ser mais forte no futuro. Quando a oportunidade surgir na Liga BPI? A Joana vai estar preparada.

Sport Lisboa e Benfica - Futebol Feminino 2019/2020 in Futebol Feminino
Joana Prazeres a representar a Seleção Nacional Sub-19

(A Joana foi agora emprestada ao clube que representava anteriormente, o Amora, e vai então ganhar os minutos que não tem tido no seu clube. Provavelmente estarão a prepará-la para aquilo que será, na próxima época, a possibilidade dela integrar mais vezes os momentos competitivos. No entanto, é certo que, a Joana está hoje mais capaz de trabalhar porque tem consigo um contrato profissional que a motiva e que a suporta no seu desenvolvimento. E só o tem porquê? Porque soube aproveitar a oportunidade que lhe foi dada. O futuro? Será risonho com certeza.)

Para finalizar, a competição tem um fator PREPODENRANTE no desenvolvimento das jogadoras. Uma coisa é treinar, outra é jogar. E por isso, analisar detalhadamente cada situação é muito importante para diminuir a probabilidade de errar. O futebol tem tantas variáveis que é muito mais difícil tomar a decisão certa do que aquilo que aparenta ser.

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