Passe para atrair: como convidar adversário a pressionar e jogar nas suas costas. O caso do Manchester City vs Southampton

“Circulamos a bola para mover o adversário”. É uma das frases mais citadas de Guardiola enquanto treinador. Vem isto a propósito do City vs Southampton. Com efeito, os jogos dos Saint vs Top6 costumam ser muito interessantes e imprevisíveis no resultado.

A citação não é inocente. Como habitual Hasenhüttl optou por começar a pressão bem à frente em 442. O Manchester City respondeu com o reforço da base (espaço à frente da linha média adversária) juntando Bernardo na linha de Rodri e puxou Foden ligeiramente para dentro

O posicionamento do inglês é a principal novidade nos jogos desta época. O City versão 22/23, não opta muito por jogar entre sectores, apostando mais em circular à largura. Quais foram então as consequências de todas estas premissas?

Os alas do Southampton juntavam-se simultaneamente, ou à vez, aos avançados na pressão + adiantada mas em posições interiores para evitar o passe entre linhas que expunha a equipa. Quando bola ia à largura para um lateral do City, era o lateral que normalmente saltava à pressão, pois os alas não chegavam a tempo. E foi o espaço deixado nas costas dos laterais subidos que o City mais aproveitou para progredir e criar perigo.

A inclusão de Foden entre linhas deu maior variabilidade às saídas do City. O City teve mais um homem do que habitualmente em zonas interiores do campo e criou dúvidas: se Amstrong fechava a linha de passe dos centrais, Cancelo teria espaço para receber, se condicionava o lateral abria espaço entre ala-médio nas suas costas. Como no exemplo abaixo

Quando o Southampton pressionava à entrada do seu meio-campo, as distribuições eram semelhantes ainda que com algumas variantes: Bernardo podia abrir à esquerda, atraindo Amstrong e Cancelo recebia com espaço mais à frente. Neste caso, o lateral podia não se expor e quem ia à largura pressionar era o médio centro. Consequências 1. Saints não conseguiam pressionar no corredor lateral por estarem em inferioridade numérica 2. a exposição de Amstrong e as posses longas do City levaram a alguns erros de posicionamento do ala que, por vezes, não sabia se havia de se juntar aos avançados numa linha de 3 ou baixar, abrindo espaço. Ter a bola muito tempo também serve para desorientar quem está à nossa frente.

É a redundância na circulação que exacerba as dúvidas de Amstrong. Quando a bola vai e vem, obriga o adversário a mover-se

No final da jogada, o clássico aproveitamento do espaço ganho pela atracção do City. Especialidade do modelo de Guardiola.

Outro aspecto importante do ataque Citizen na 1ª parte foram os passes entre linhas verticais para Haaland. Novamente, posse para atrair antes e depois criar problemas e a justificação para muito poucas equipas de abdicarem de 9 elementos entre linha média e defensiva vs City.

Além da excelência colectiva, há detalhes micro que fazem a diferença como, neste caso Ruben Dias. Na sequência de passes do City, um jogador do Southampton ficou para trás e espaço aproveitado

Apesar de estarmos perante 45 minutos do melhor que se viu esta época, sem surpresa, Guardiola trouxe novas ideias para enfrentar a pressão contrária e, até pela desvantagem, o Southampton com maior risco a saltar mais vezes na pressão.

O que mudou? Na distribuição Bernardo passou a estar + vezes do lado direito e Rodri à esquerda. No restante: 1. interior mais dentro, deliberadamente no half space e tinha espaço para receber porque Cancelo começava + adiantado e fixava o lateral do Southampton que não acompanhava o adversário directo 2. maior uso do corredor direito com exploração das costas do lateral adiantado (exemplo abaixo)

2. Utilizar mais vezes o corredor direito com exploração das costas do lateral adiantado (exemplo abaixo)

Não acontece sempre mas os golos na 2ª parte são o espelho fiel destas ideias. No 3º, o efeito Foden no half space/Cancelo profundo ajuda a desmontar a defesa do Southampton. E mostra também porque quase inguém abdica de uma linha de 5 a defender baliza vs City

O 4º é o golo com mais passes realizados na respectiva posse de bola antes de entrar na baliza. Aqui a parte “final”. Novamente a desorientação do Southampton, jogadores já sem capacidade para pressionar e os posicionamentos e ideias que Pep trouxe para a 2ª parte

Nota para dinâmica de aproximação no último terço e o aproveitamento das costas do lateral

Sobre Lahm 42 artigos
De sua graça Diogo Laranjeira é treinador desde 2010 tendo passado por quase todos os escalões e níveis competitivos. Paralelamente realiza análise de jogo tentado observar tendências e novas ideias que surgem no futebol. Escreve para o Lateral Esquerdo desde 2019. Para contacto segundabola2012@gmail.com

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*