A pior versão de Jesus em Chaves

Os números são estrondosos. Porém, não surpreendentes. Afinal, foi o parco futebol pouco habitual numa equipa de Jorge Jesus que fez ir confirmar se estes batiam certo com a percepção da pior versão dos últimos anos de uma equipa do treinador leonino. Sobretudo no seu processo ofensivo.

A primeira parte em Chaves, reconhecendo o devido e muito mérito à equipa transmontana, personifica o que se transformou o processo ofensivo nada habitual nas equipas de Jorge Jesus. O próprio treinador leonino já havia na semana passada pós vitória perante o Feirense, expressado o estar a viver algo de novo. Falou em poucas ligações e dependência para finalizar. Porque não tem criação ao nível do que nos habituou.

Identificam-se os processos e posicionamentos pretendidos, e não se notam diferenças substanciais. A construção a três, o segundo médio nas costas da primeira linha de pressão adversária, os extremos dentro, e largura e profundidade do laterais. Porém, o perfil de decisões de demasiados jogadores está bastante longe do que idealiza o treinador do Sporting. Demasiados jogadores com pouca cultura para criar ligações. Demasiada tendência para um jogo que foi o próprio Jorge Jesus, um dos primeiros treinadores em Portugal a procurar diferente! O chegar ao corredor lateral e cruzar. Na primeira parte em Trás os Montes, nem três vezes terão os jogadores do Sporting tocado a bola no corredor central, nas costas dos médios adversários. Saída sempre pelo corredor lateral. Procura sempre do desequilibrio individual de Joel e Gelson e do cruzamento à procura do incrível na área Bas Dost.

A Jesus caberá perceber se o “sucesso” que tem tido no jogo que apresenta em organização, não é também a causa do “insucesso”! São míseros treze golos nos últimos doze jogos. Oito de Bas Dost, todos a responder a cruzamentos. O sucesso que o holandês tem tido e a forma como tem tido, parece condicionar a equipa a procurar cada vez mais formas de servir o ponta de lança, e esperar que este resolva na finalização problemas que são de todos.

É o futebol menos aprazível de uma equipa de Jorge Jesus em muitos anos. Coincidentemente ou não, os próprios números acabam por reflectir de forma esmagadora aquela que é a pior versão de Jorge Jesus dos últimos oito anos.

Nos últimos oito anos, por esta altura (dezassete partidas jogadas) em metade das temporadas tinha acima de 40 golos. Numa das quais, bastante próximo dos cinquenta. É a primeira época em oito anos que soma menos de trinta golos em dezassete jogos. E mesmo para a sua segunda época de SL Benfica em que se viu afastado demasiado cedo da luta pelo primeiro lugar, a diferença é enorme. Menos seis golos marcados, menos cinco pontos somados. Curiosidade de ser apenas na sua segunda época de Sporting (34 pontos) e na segunda de SL Benfica (39 pontos) que chega à décima sétima jornada abaixo dos 40 pontos. Chega na presente época ao término da primeira volta com mais dez pontos perdidos do que na temporada transacta.

Independentemente de possíveis quedas de SL Benfica e FC Porto, se o processo ofensivo leonino não crescer para o jogo a que nos habituou, de constantes ligações entre todos, com boa chegada à criação, não só por fora mas também por dentro, dificilmente o Sporting voltará a entrar no comboio do título.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

5 Comentários

  1. Gostava de ver o Sporting com Campbell na direita, Bryan na esquerda e Gelson atrás de Dost… visto que todos os 2ºs avançados se têm demonstrado de uma inutilidade tremenda.

  2. Falta à equipa, além de laterais de jeito, um jogador criativo que possa fazer a zona 10 ligando os extremos ao centro de jogo. Allan Ruiz é o mais próximo disso, mas falta-lhe garra e perde muitas bolas em condução. Acho que a equipa desiste um bocado de lhe passar a bola porque tem medo que ele a perca naquela zona, expondo a equipa a perigosos contra-ataques.

  3. Este é o Sporting de Março Silva.

    Com os resultados a condizer e tudo.
    Jesus a mostrar uma banalidade nada condizente com o seu ordenado. E depois de ver o que o Iuri Medeiros fez ontem, mais se prova que o seu dedo para escolher jogadores é tão bom como a boca do Luis Freitas Lobo a comentar jogos

  4. Este Sporting de Jesus mostra o mesmo que o Porto de Lopetegui, há 2 anos, na medida em que não consegue de forma recorrente aproveitar os deslizes dos rivais. E quando se está com 8 pontos de atraso, é (mais) uma machadada forte nas aspirações à luta pelo título. Não sei quem será o melhor jogador para jogar atrás de Dost, mas se as ordens são ir à linha e cruzar, não será Alan Ruiz. Ontem parece-me que o objetivo de Jesus (que até se queixou de um Sporting Dost-dependente) foi precisamente de explorar a capacidade de Dost dentro da área. Tem resultado em golos (nem tanto em boas exibições ou resultados), e acho que Jesus quis usar precisamente a estratégia que tem vindo a resultar em golos, num jogo que se antevia complicado, e que se tomou um maior sentido de urgência após o empate na Luz. Não consigo arranjar outra explicação para o que vi ontem, numa equipa que tem o dedo do treinador em cada movimentação, onde há diversos aspetos pré-definidos ao mais ínfimo detalhe. Mais uma exibição e resultado que me fazem crer que este Sporting tem os seus dias contados. Esta recorrente incapacidade de aproveitar deslizes alheios, ter jogos seguidos sem ganhar, ao invés da resposta categórica que costumam dar as equipas grandes (quando houve a lesão de Adrien), ou a forma como desperdiçou a vantagem de 0-3 em Guimarães… Não parece de equipa campeã.

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