Como desfrutei como quando era pequeno nunca mais aconteceu…
Thiago Alcantara, quando questionado sobre se atravessava o momento mais feliz enquanto jogador.
Escrevia o genial Ricardo Ferreira no seu texto mais recente:
Cada vez vai ganhando mais força a ideia da importância do Futebol de Rua, das suas características singulares, e da prática sistemática que este promove. Da forma como esse contexto, desprovido de adultos, liberto da pressão que o erro significa para os mesmos, leva a criança a ser o “cientista”, experimentando, aprendendo o jogo com este como o professor, proporcionando-lhe evolução, fazendo emergir o talento e até conhecimento.
O contexto, o envolvimento, as vivências. A prática intensiva e o desenvolvimento da motivação são de facto o que faz a diferença no explorar do potencial do jovem jogador.
No “Código do Talento”, o desconforto do erro é mencionado como determinante no desenvolvimento de talentos. São como “pontos de referência para o aperfeiçoamento”.
Nos dias de hoje em Portugal, há pouco espaço e tempo para as crianças se divertirem e abusarem da prática livre de amarras e condicionalismos. Daquela que tanto contribuiu para o aparecimento de Thiago e do seu irmão Rafinha enquanto jogadores. Numa sociedade que cada vez mais encaminha os jovens para os videojogos, é determinante que no pouco tempo de prática que tantas vezes sobra, que esta para além de dirigida de forma a potenciar o máximo de tempo de empenhamento motor, em contexto de jogo, que possibilite a experimentação, esteja também liberta das ordens que vêm da bancada, que nada mais fazem se não coarctar as posibilidades de desenvolvimento da criança.
Que para além de não aprender e não compreender, não desfruta.
“Um jogo que se quer prazeroso”
Caro Paolo Maldini
Grande contraste com as palavas de Abel Xavier: treina a dor, luta contra a dor e vence a dor.
Brincar nas selecções não só desvaloriza como queima os fusiveis da malta, está visto…
A sociedade não encaminha as crianças para os videojogos, apenas. A sociedade encaminha os pais a encaminharem os filhos para tudo o que é escola de futebol, desde os três anos. É uma estupidez, não tem outro nome. Depois, uma horda de treinadores formatados, cria milhares de jogadores-robot, tudo igual, tudo muito certo, sem pingo de criatividade. Vão surgindo seres raros, que fora das escolas não largam a bola, Bernardo, Gelson, Renato. Poucos mais. A esmagadora maioria é de protótipos do que esses treinadores e pais conhecem e desejam. Até aos 10 ou 12 anos, devia ser proibido jogar futebol em escolas, os miúdos deviam jogar entre eles, arranjem-se espaços e os pais que deixem de ser maricas (aí os pedófilos, ai os carros, ai os cães) ou Donas Dolores em potência e deixem as crianças em paz.