Jorge Jesus. Estratégia e método.

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E achei que nos últimos 45 ou última meia hora, lançando o Podence com o espaço… porque de certeza que iria haver mais espaço… como aconteceu, o Daniel face às suas características… então sim, mais capaz de meter velocidade no seu jogo

Jorge Jesus

Há onze que são melhores que os outros, e como tal esses onze deverão integrar sempre o onze. É este o pensamento de uma grande maioria. Todavia, há milhares de variáveis que só quem está no processo conhece. Há jogos, ou momentos específicos dentro de um jogo que são mais propícios a uns jogadores do que a outros. Há quem consiga ser mais útil quando o jogo parte. Há quem esteja a incrementar níveis de condição física e sabendo o treinador que não há condições para actuar a nível alto o tempo todo, há que priorizar o período em que mais poderá fazer a diferença. É o lado estratégico do jogo!

Recordo um episódio pessoal. Na final da Taça de Portugal feminina de 2016, optámos por deixar de fora do onze aquela que pela qualidade técnica e capacidade para decidir era a médio que mais garantias nos dava que pudesse contribuir ofensivamente para vencermos o jogo. Porque tinha parado um sem número de meses por lesão, e estava ainda a readquirir os melhores índices físicos, sabíamos que não tinha condições para mais de 30, 35, 40 minutos a grande nível, e o restante tempo dificilmente conseguiria fazer a diferença. Sabendo que íamos jogar num estádio de dimensões enormes (Jamor) e de relva natural (maior desgaste), imaginámos bem antes da partida que a segunda parte iria trazer um jogo mais partido, com mais espaço, e portanto se havia momento em que o impacto da nossa tal médio se pudesse fazer sentir seria na última meia hora. Cinco minutos depois de entrar em campo e com o jogo empatado, faz o passe para o golo que valeria o troféu.

 

A semana tem sete dias, jogamos ao sábado ou ao domingo, e portanto durante seis dias treinamos. Durante seis dias fazemos experiências, essa sua pergunta… nós não fazemos testes ou experiências nos jogos, fazemos durante a semana e lançamos no jogo…

Recordar um texto  com dois anos:
“Há poucos dias atrás Bebé, afirmava “Penso que merecia mais. Se não tiver oportunidades não consigo mostrar valor”.
Tal pensamento parte logo de uma premissa errada e demonstra desde logo a percepção que o português tem do jogo. Acabando quase desde logo por justificar ter tido poucos minutos. Totalmente diferente de não ter tido oportunidades para mostrar valor.
É isto que ainda hoje tantos jogadores não percebem. As oportunidades eles têm. Todos os dias têm oportunidade de mostrar no treino ao treinador que são melhores que os colegas. Essa é a verdadeira oportunidade. Colocar alguém em campo apenas porque de X em X tempo um remate seu pode terminar no fundo da baliza, quando em todas as outras acções só prejudica, não é uma questão de mera fé do treinador. É mesmo parvoíce.
Todos os dias Bebé tem oportunidade de mostrar valor. Mesmo que não ao grande público.”

Tudo o que lançamos no jogo, qualquer treinador, qualquer equipa… trabalhamos durante a semana. O treino é isso. Treinar em cima de uma ideia para lançar no jogo. Não é no jogo que vai ser trabalhada…

 

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

6 Comentários

  1. Entendo o objectivo do post e a ideia que JJ tinha para Podence. Mas não concordo que alguma vez Bruno Fernandes, perante adversários que defendem com linhas tão cerradas seja uma mais valia face a Podence.

    Entendo que essa mudança no 11 inicial tenha subjacente uma ideia estratégica e já trabalhada, n acho é que, mediante as escolhas, faça muito sentido.

    Abraço

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