Não foi estranho, na verdade.
Mantendo o olhar somente sobre a bola, Javi perdeu a referência dos colegas da defesa, que baixaram e bem no relvado, quando perceberam que o portador da bola adversário estava sem pressão, e se preparava para realizar um passe longo. Perdida essa referência, manteve-se na mesma posição, não respeitando o ‘abaixamento’ da linha de quatro, acabando por ficar demasiado longe da mesma, e impossibilitado de respeitar o tradicional movimento colectivo defensivo, que garante em todos os momentos uma linha de quatro, atrás de quem saiu para a contenção pressionando o portador da bola. Ou seja, ficou impossibilitado de garantir os habituais cinco jogadores atrás da linha da bola, e foi um dos principais responsáveis pela forma como o Benfica consentiu o primeiro golo.
Foi a única distracção em noventa minutos de jogo, e não reflecte minimamente a opção táctica diferente da habitual nas equipas de Jesus. Foi um erro individual, de quem por ser extremamente culto na ocupação dos espaços, não nos habituou a tal. Somente isso.
Mas afinal, de que forma jogou o SL Benfica?
Imagine o losango. Retire-lhe o interior esquerdo. Javi jogou na posição de trinco, Witsel jogou como interior direito, Aimar a dez, dois extremos e um ponta de lança. Ou seja, sem médio interior esquerdo.
Foi pela ausência de alguém no espaço à esquerda de Javi que por diversas vezes, foi possível ver o espanhol a ocupar espaços muito pouco habituais em si. Fê-lo sempre bem e quando assim se impunha. Verificou-se, todavia sempre que saía sobre o lado esquerdo do meio campo, um vazio no espaço imediatamente à frente dos dois centrais. E é nessa coordenação que o Benfica terá de crescer, se o sistema táctico estiver para durar. Quando Javi sai, Witsel deve ocupar o espaço imediatamente à frente dos centrais. Não o fez, contudo. Permaneceu sempre a jogar ao lado do espanhol, e não baixando um pouco para trás deste, e para a frente dos defesas centrais, quando Javi não estava na posição 6.
Ou seja. É possível garantir um bom equilíbrio defensivo da forma como Jesus jogou na Holanda. Há, todavia, que preencher sempre de forma correcta o espaço. A posição seis, terá de ser sempre ocupada, e a de interior do lado da bola também. Com a bola sobre o corredor lateral esquerdo do adversário, Witsel permanece e bem na sua posição de interior direito, e Javi na posição de seis. Se a bola roda até ao outro lado, Javi terá de sair para a posição de interior esquerdo, e Witsel terá de descer ainda mais e ocupar a posição seis, impedindo um vazio numa zona tão decisiva do campo de jogo.
Foi essencialmente pela ausência de permutas por parte do belga, que por vezes pareceu que jogavam ao lado um do outro. Quando tal não aconteceu. Apenas momentaneamente, e fruto de erros posicionais de Witsel.
O 4+1 defensivo de Jorge Jesus é muito peculiar, e para continuar a jogar desta forma assimétrica relativamente ao lado esquerdo e direito do meio campo, o treinador do Benfica precisa de ensinar a Witsel a especificidade da posição seis no seu modelo de jogo. Quando tal acontecer, será possível vermos o belga num momento na linha defensiva, e segundos depois, a aparecer junto à grande área adversária. Nada de extraordinário para alguém com tamanha qualidade.
O 4x3x3, com Aimar e Witsel à frente de Javi (na esquerda o argentino, na direita o belga), seria também uma opção incrivelmente interessante. Por não querer abdicar de dois jogadores a pressionarem desde logo a saída de bola dos centrais, Jesus optou por manter Aimar mais próximo do avançado. Diferente do que se tinha por aqui idealizado, mas ainda assim, passível de ser muito bem sucedido. Assim Witsel coordene melhor as permutas com Javi.
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