É uma das maiores perdas na beleza do jogo. O desaparecimento dos tradicionais número 10. Aqueles que baixavam, recebiam do central e progrediam ultrapassando adversários. Aqueles que no individual ligavam ofensivamente o jogo das suas equipas. Da construção à criação, e tantas vezes na criação a ligarem com a finalização.
Um desgaste imenso porque as equipas concentravam em tal figura todo um processo ofensivo. Apenas compensado pela menor responsabilidade defensiva que lhes era dada, para que pudessem continuar fisicamente aptos a assumir, tantas vezes sós, a despesa de todo um ataque.
A figura foi caindo fruto de uma evolução própria do futebol. Cada vez menos se partem os jogadores por funções específicas, e todos têm de participar activamente em todos os momentos e fases. Defensivamente evoluiu bastante o jogo, e também ofensivamente são hoje dadas outras respostas.
Onde antes, demasiadas vezes se via o portador à procura de desbloquear situações para servir os colegas, hoje vê-se quem rodeia o portador a ser quem assume a iniciativa para desbloquear o jogo com os seus movimentos. Onde antes, um procurava ajudar dez. Hoje, dez procuram ajudar um.
Perdeu romantismo e perdeu beleza. Todavia, é inegável que as melhores equipas têm hoje toda a gente a movimentar-se para garantir sempre opções ao portador. Opções que têm de continuar a ser dadas, mesmo que em espaços diferentes a cada troca de bola. A progressão que hoje não é feita unicamente com a categoria do portador mas também com a movimentação de toda a equipa.
O modelo ofensivo das equipa de Jorge Jesus é um dos que mais gente envolve sempre na zona da bola. Um dos que “obriga” a uma movimentação constante para que o portador nunca fique entregue a si. Também por isso, as suas equipas estão sempre no topo, no que diz respeito à facilidade com que chega às imediações da grande área adversária.
Pequeno demonstrar por Gelson, daquilo que é preciso. Constante movimentação em função da situação de jogo, para garantir opções ao portador nos melhores espaços.
Para mim foi a maior diferença que um adepto consegue ver no primeiro jogo do ano passado, entre Março Silva e JJ