Jogar bem para vencer

Muitos são os que defendem uma dicotomia entre o jogar bem e o resultado. Em suma, duvidam de que aquele tipo de jogar mais conotado com uma beleza estética (bola no chão, circulação constante e bom trato da bola) seja o mais eficiente quando se trata de tentar vencer jogos. Muito provavelmente pelo hábito muito português de se apoiar o “coitadinho”. Tantos são os que acabam a torcer pelo David (que poderá não ser David nenhum, mas que pelo tipo de jogo a que se sujeita sem bola, assim o dá a entender e assim se torna) quando o Golias domina com bola as partidas. É provável que a cada cinco vitórias do Golias lá apareça uma do David. Que é reproduzida como bestial e assente numa premissa de resultadismo. Mesmo que os resultados que não os momentâneos o desmintam.

Estar próximo de vencer implicará sempre inteligência para cada momento do jogo. Obviamente que sem bola há que ser organizado. Há que cumprir princípios, garantir superioridades, promover coberturas e concentração sobre a bola. E obviamente que dependendo das armas ao dispor, nem sempre se conseguirá tê-la. Mas, há que tentar e há que ser criterioso com ela! Tomar decisões que aproximem a equipa do sucesso e não que apelem a uma qualquer dádiva como um possível erro adversário para que se possa chegar ao golo.

Es fundamental que las superioridades se vayan construyendo desde atrás, de la primera línea; por eso, es un principio fundamental de su idea de juego: que el balón salga limpio desde los defensas.

No Paradigma Guardiola, Mattias Manna reforça o que na realidade aproxima a equipa da vitória.

Não é uma questão de estética. É uma questão de aumentar as probabilidades de vencer. Será sempre mais fácil chegar de forma sistemática a situações de finalização em boas condições se desde trás se for construindo e aproveitando a habitual superioridade numérica nas zonas defensivas, para ir progredindo atraindo oposição e mantendo superioridades. Será sempre mais fácil de no último terço ter mais ocasiões com bola mais fácil de dominar para finalizar, se se for progredindo e entrando nas zonas de criação bom bola mais fácil de receber e enquadrar.

Terminar rápido las jugadas. Es la desesperación por culminar cuanto antes las jugadas: habrá menos control en el juego, un equipo estirado, las líneas separadas y posiciones impertinentes

Na própria forma inteligente como se ataca garantir o controlo de cada jogo. Manter a equipa próxima para que após a perda se possa recuperar mais rápido e não deixando partir a equipa em bloco para defender e outro para atacar. Perder a bola num passe mais curto e rasteiro, e o jogo menos aleatório na transição defensiva, beneficiando de uma chegada conjunta de todas as linhas à frente. “Viajar juntos”. Bem diferente do tradicional bater na frente bem desde cá de trás, que obrigará sempre a sprints rápidos da linha da rectaguarda para manter a equipa junta.

Ter a bola e tê-la no chão, não se trata de estética. Mas sim, tudo fazer para se poder aumentar as probabilidades de vencer.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

2 Comentários

  1. Concordo basicamente com tudo o que está no texto, essa dicotomia não faz grande sentido e uma equipa vai ter sempre mais controlo do jogo e deixar a aleatoriedade mais fora do mesmo quando joga “bonito”.

    No entanto, essa crença popular existe também por culpa de alguns dos treinadores que de facto têm ideias ofensivas de grande qualidade e que eu admiro, mas que depois não trabalham minimamente a parte defensiva do jogo. E confesso que isso me custa imenso, custa-me muito olhar para Jemez, Berizzo, Bielsa e Sampaoli( confesso que não conheço com enorme detalhe o processo defensivo deste último, mas também me pareceu fraquinho) e ver que as ideias geniais que me entusiasmam no processo ofensivo, andarem de mãos dadas com ideias defensivas tão rudimentares, que se baseiam na pressão alta, na marcação individual e na agressividade. Esta dicotomia acaba por ser alimentada pela quantidade de treinadores muito bons no plano ofensivo, horríveis no plano defensivo.

    E acho que no futebol atual é mais fácil ganhar( aqui estou a falar de ganhar uma ou outra vez, um troféu, uma competição, não estou a falar de ganhar sustentadamente), quando se tem uma grande organização defensiva e se aposta muita na transição de que sendo genial ofensivamente e dando todo o tipo de facilidades à equipa adversária defensivamente. Obviamente que a equipa que defende bem e sai bem não vai ser uma equipa a ganhar sempre e a ter sucesso duradouro como se quer, não vai ser uma equipa cujo treinador vou adorar mas acho mesmo que na maneira como as equipas se organizam hoje em dia, acaba por ser mais fácil ter melhores resultados do que uma equipa que se organize muito mal e que ataque irrepreensivelmente bem. Mas atenção que é uma opinião e aceito que se defenda o contrário.

    Agora, treinadores como Pochettino, Sarri e outros, esses sim aproximam verdadeiramente as suas equipas do sucesso, porque aliam as duas coisas, mesmo que arrisquem mais ofensivamente, os principios defensivos de qualidade estão lá também, mesmo que a prioridade seja o processo ofensivo( o que eu acho que deve ser), percebem que sem bola é importante ser organizado. Começo a ter dúvidas que os treinadores que não percebam isto, como os que mencionei anteriormente, ainda que sejam referências para mim, possam levar as suas equipas a um grande sucesso.

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