Jaime Valdés e Pedro Barbosa

white corner field line on artificial green grass of soccer field
Se há algo realmente estranho e passível de ser questionado, é o rumo que a carreira de Pedro Barbosa (não) tomou.
Não interprete mal. Barbosa foi campeão nacional, e é um dos simbolos de um dos maiores clubes nacionais. Porém, quando alguém é realmente tão bom no que faz, tendemos sempre a imaginá-lo num contexto diferente. Barbosa tinha um talento ímpar. De facto, mesmo naqueles jogos em que passava ao lado, parecia sempre que não era por si que a coisa não se fazia. Toda aquela classe na forma como conduzia a bola. Como temporizava. Toda aquela tranquilidade com que passeava a sua classe pelos relvados portugueses, nunca foi bem compreendida. Tendemos a admirar a velocidade e a força. Torcemos o nariz a quem parece menos intenso.
Os entendidos esperavam sempre, e bem, que Barbosa resolvesse cada jogo com a bonomia própria do seu génio. Os outros, aqueles que disto nada percebem, assobiavam-o. Não percebiam toda a genialidade que estava por trás de cada toque seu na bola.
Apenas os inteligentes sentem a sua falta. E agora. Agora há Valdés.
Não vimos mais de cinco, seis jogos do chileno. Com tão poucos dados, compará-lo a Pedro Barbosa pode ser criminoso. Mas, é impossível não verificar algumas semelhanças. A forma como conduz a bola, a paciência com que resolve cada situação, a sua capacidade técnica. Não é fácil perceber o porquê de alguém que aparenta tanta classe não ter tido uma carreira com mais troféus e mais reconhecimento. Talvez os próximos tempos permitam aferi-lo. Ou talvez Valdés seja apenas mais um incompreendido.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

11 Comentários

  1. Uma coisa que nunca percebi no percurso do Pedro Barbosa no Sporting foi a posição que habitualmente ocupava em campo (uma das faixas), quando claramente devia jogar sempre a "10".

    Dos jogadores portugueses com mais classe de sempre.

  2. É / foi único.
    É / foi Sporting, naquilo que é a perfeita mistura vintage de um potente mas elegante Stromp que deixou a sua marca na contemporânea humanidade leonina / futebolística. Foi um mundo, que felizmente e para nosso (ou meu) encanto … fez-se verde. Embora eu suspeite que ele já nascera verde. E sabes porque é que ele nasceu verde PB?
    Porque nada nem ninguém que apresente tamanha categoria a consegue ter se não tiver dentro de si uma espiritual semente leonina pré-genesis desenhada, imaterial portanto, mas concreta, embora anterior à fecundação.

    PB, obrigado, por confirmares aquilo que tentei dizer em comentário uns posts mais abaixo dizer. E como humilde agradecimento ofereço-te algo, por ser para ti.
    É logo o 1º PB, logo o 1º:

    http://www.youtube.com/user/SportingPortugal1906#p/u/3/V4YJ4nFSzmg

    Rende-te PB, rende-te à categoria e à força verde. Rendam-se todos. Rendam-se à força do que é verde, à categoria daquilo que nunca terão ou serão. Admirem o admirável velho mundo do leão branco que nasceu verde e preto em Alvalade, com a marca Stromp, personificado na humana espécie nascida de um átomo muito especial: Pedro Barbosa.

  3. PB,
    Ver o Valdés em Coimbra fez-me também lembrar o Pedro Barbosa, em especial na lentidão / segurança. Lentidão sem que seja aqui usado como atributo negativo. O Valdés serenou com os 2 golos em Leiria, e serenando ficou tudo bastante mais fluido e clarinho sobre o tipo de jogador que é.
    Compreendo também na integra o que queres dizer com o "faz lembrar mas não é". Claro que não é, embora eu seja suspeito porque possuía / possuo um futebolístico amor infinito ao Pedro Barbosa. O Pedro Barbosa nunca foi aquele jogador que só aparecia de vez em quando, não, ele aparecia sempre, havia era jogos em que por algum motivo fazia sempre qualquer coisa mais. Mas mesmo sem essas coisinhas mais (golos, fossem eles de bandeira ou não, ou assistências), a sua utilidade, categoria, bem-fazer, classe, essas estavam sempre lá. A bola nos pés do Pedro Barbosa fazia sempre sentido, e nunca mas mesmo nunca ele errava no jogo.

    O Valdés é mais rápido. Mais enérgico. O Valdés pode jogar depressa ou devagar, sempre bem, mas o Pedro Barbosa tinha toda uma presença e autoridade em campo que o chileno obviamente não pode ter. E nem é por demorar tempo a construir-se um estatuto desses, porque há jogadores que em poucos meses se apresentam ao mundo e não deixam dúvidas sobre aquilo que são. Não pode ter o mesmo estatuto porque simplesmente não pode, é impossível. Não é má vontade, é só mesmo facto da vida.

    PB és o meu herói, e olha que eu tenho muita dificuldade em coleccionar heróis. Isto não te diz grande coisa mas a mim diz, és de facto a partir de hoje um dos meus heróis. Finalmente existe alguém que compreende o universo Pedro Barbosa, sim, porque compreende-lo não é só dizer "era muito bom, tinha classe", não, é muito mais do que isso, porque classe também a tinha o Rui Costa, e o Pedro Barbosa e o Rui Costa eram por exemplo muito muito diferentes. É a tal coisa impossível explicar. O Pedro Barbosa era tão especial que a sua completa compreensão não se faz com o uso do cérebro, ou não se faz só com o uso do cérebro, mas também não se faz com o coração, ou só com o coração. Faz-se com a alma, faz-se com sensibilidade, com o atributo do que é belo e mágico, sem que o seja. Foi um jogador único, porque não houve nunca um igual. Não encaixa em nenhum estereótipo. Não é do tipo João Pinto ou Sá Pinto, mas também não é do tipo Rui Costa ou Riquelme, não é do tipo Hagi ou Zidane, nem Mostovoi, nem Okocha.

  4. Ricardo, ouvi isso há mt mt mt tempo. Era o que os espanhois diziam do Futre. Mas acrescentavam que ele depois n era capaz de encontrar a saida da cabine…

  5. Um dia perguntaram numa entrevista ao "mestre" Maradona, qual era na altura o seu jogador Português de eleição, se Figo, Rui Costa…???
    Ao que ele responde… Pedro Barbosa!!

    Um génio reconhece sempre outro génio..!

    Ao longo dos tempos, houve dois jogadores que me marcaram, um esse tal de Pedro Barbosa, que tal como o outro (Deco, agora na fase descendente da sua carreira), pensava o jogo duas vezes mais rápido que a maioria dos outros jogadores… e depois nem vamos falar de classe 😀

    Abraço.

  6. Crao PB:
    Não sendo benfiquista, podias dar-me uma opinião sobre dois jogadores que não renderam nem metade do que esperava no Benfica? Porque achas que foi? Falo de Karyaka e Marc Zoro.

  7. Ek, o Zoro parece-me um caso claro de falta de qualidade! Ainda não consegui compreender foi como almejou tão grande reputação (se de facto isso é verdade, porque o Benfica nem sequer o consegue colocar…)

    O Karyaka, mt sinceramente já não me recordo bem…

    abraço

  8. Boa noite, se fosse possível corrigir o link do Artte do Futebol na vossa lista de blogues agradecia. O facto é que quando alterámos o domínio, o link antigo deixou de dar feed de notícias, por tal facto agradecia que alterassem para http://arttedofutebol.com

    Com os meus melhores cumprimentos,
    Esimest Korda.

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