O processo de treino e o golo do Paços de Ferreira em Alvalade

white corner field line on artificial green grass of soccer field
As pessoas não têm noção da velocidade a que tudo sucede e da falta de espaço que há no relvado”. Pedro Henriques. Comentador e ex jogador do FC Porto e SL Benfica, em entrevista ontem ao jornal Record.
Desde sempre que o propósito do Lateral Esquerdo foi enfatizar a importância da competência da equipa técnica para se almejar o sucesso. Enfatizar a importância desmedida que a vertente táctica tem no jogo moderno.
Desde que por aqui se “descobriu” um novo método (por imagens sobretudo) de justificar o que antes já se defendia, mas apenas por palavras, que a mensagem que se tenta passar sai mais perceptível, o que por vezes pode causar a sensação errada de que o futebol é um jogo fácil. Não é. É um jogo extremamente complexo.
E é complexo sobretudo pela enorme variabilidade de situações, mas também e muito, pela velocidade a que tudo decorre.
Há dois dias atrás numa troca de impressões sugeria que Rolando, não sendo um central de valor indiscutível seria indubitavelmente um enorme upgrade no centro da defesa leonina. Garantiam-me que o problema do Sporting era colectivo. E é. Desde o início da época que por aqui se apontam erros colectivos, mesmo que com génese em algumas individualidades. O Sporting não é uma equipa de futebol. Não há ideias conjuntas, quer ofensiva, quer defensivamente. 
É nesse sentido que mais do que tudo, o Sporting precisa de uma equipa técnica que perceba a evolução que o jogo teve. Uma equipa técnica que trabalhe a equipa para ser uma equipa e não somente onze pessoas que sobem ao relvado para jogar um jogo. 
Há, porém, quem cometa o erro de crer que bastará uma grande equipa técnica para que o Sporting reentre na luta pelo titulo (mesmo que em épocas vindoiras), mesmo mantendo as actuais peças. Avancei o prognóstico de que mesmo após a entrada em funções de Jesualdo Ferreira como treinador principal, se a aposta continuar a ser no mesmo onze, o Sporting continuará a cometer erros grosseiros no centro da sua defesa. A justificação foi curiosamente algo que Pedro Henriques mencionou numa entrevista um dia depois.  “Uma coisa são pequenos pormenores para corrigires. Outra é não teres noção do que fazes em campo. Cá fora até podes começar a perceber, mas lá dentro é tudo tão rápido que demorará demasiado tempo”.
Com exemplos concretos. São mais que muitos, e já são apontados desde há muito, os erros posicionais de Cédric. No jogo deste fim de semana custaram uma derrota. Mesmo que convenha e muito, perceber como se chega a uma situação de 3×4+GR com espaço para o enorme Josué decidir. Ainda assim, em última instância os últimos a ficarem atrás da linha da bola deveriam ter tido capacidade para dificultar a tarefa dos pacences. Porém, pela posição a que se candidata, o tipo de erros que comete (sobretudo mau controlo da largura) podem ser considerados corrigiveis. Depende sobretudo do saber se o jogador tem capacidade para perceber o que o rodeia à velocidade a que o jogo decorre. No outro lado da segunda circular há um paraguaio que é lateral há seis meses, passa por tantas ou mais situações com apenas quatro atrás da linha da bola quanto Cédric e nunca o vimos mal posicionado como o português. 
Trabalho do treinador. Todavia, importa também perceber se o jogador tem capacidade para interpretar o que cada situação pede à velocidade a que tudo se sucede. Parar a imagem na TV e corrigir posicionamentos é fácil. Lá dentro não será assim, seguramente. 
Aparentemente Marcos Rojo nunca foi defesa central. Como defesa lateral, denotou também imensos erros posicionais. No golo do Paços está tão mal posicionado quanto Cédric. Simplesmente a bola seguiu pela direita, quando poderia igualmente seguir pela esquerda e terminar na baliza de Patrício. Rojo, tal como Cédric poderá ter potencial para jogar com qualidade numa lateral da defesa. E tal como Cédric é no momento um jogador demasiado limitado, mesmo para corredor lateral. Importa perceber o mesmo que importa com Cédric. Para além do ganho de conhecimentos que tanto urge, há que saber como lida com a velocidade a que tem de dar as suas respostas. Já como defesa central, as duvidas sobre a possibilidade de se tornar um jogador interessante são mais do que muitas. Usar referências será sempre mais fácil que ser referência. O seu desconhecimento e a sua falta de experiência é tanta que dificilmente o argentino se tornará num central importante. 
Há treinadores capazes de retirar o potencial máximo de cada jogador. Todavia, se a experiência e capacidade para interpretar a grande velocidade o que os rodeia não tivesse a importância que tem, qualquer jogador de futsal, com o treinador correcto poderia facilmente tornar-se um jogador importante. Tem a técnica, tem a velocidade, tem a força. A táctica dá o treinador, não é? Não. Aprender, ter o conhecimento é determinante, mas saber usá-lo no campo não é para todos.
Boulahrouz foi treinado por José Mourinho. É certo que os conhecimentos deverá ter. Dar respostas é que é pior. E por alguma razão foi defesa lateral nas últimas épocas no Estugarda.
Conforme sugerido no post anterior, aqui fica a sugestão de um posicionamento diferente para defender a situação de jogo que culminou com o golo do Paços de Ferreira. Quatro atrás da bola.
Sugestão próxima (diferença está no posicionamento da bola) da que havia sido dada para a mesma situação (quatro atrás da linha da bola) num post bem antigo, sobre a Premier League
P.S. – Os problemas são colectivos, e importa reforçar que mais do que tudo o Sporting precisa de encontrar urgentemente uma grande equipa técnica. Mas não se pode negligenciar que jogadores diferentes darão resultados diferentes. Não foi por acaso que após o jogo com o SL Benfica aqui referimos que a simples troca de jogador (Dier por Cédric) corrigiu as lacunas posicionais no lado direito da equipa de Alvalade. 
P.S. II – Josué joga muito!
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*