De um artigo antigo, mas bastante recente de Breitner sobre as mudanças do futebol alemão, e uma caixa de comentário onde “o treinador português” não aceita a crítica que lhe é dirigida. Carregue no link, veja a exposição de Breitner, leia a caixa de comentários, e este último depoimento do Pedro Cardoso. Não é nada que não soubéssemos já, porque aqui não se acredita que tão profundas mudanças no perfil dos jogadores formados, na qualidade dos mesmos, não estejam directamente ligadas à qualidade de quem tem a responsabilidade de formar.
“Aqui existe um trabalho de formação a nível nacional, ou seja, começa-se por formar os treinadores em sintonia com as diretrizes fornecidas pela Federeção Alemã de Futebol às Asscociações de Futebol dos vários estados. Começa-se por ter essa formação no âmbito estadual e a partir de certo nível passa-se para a formação a nível nacional. Aqui reside logo uma diferença estrutural em relação a Portugal, uma vez que existem muito mais níveis e o acesso a esses níveis só é concedido com mérito! O número de treinadores habilitados para Treinar nas Ligas profissionais é cerca de 2% de todos os treinadores do país. E não há cá a possibilidade de saltar níveis por experiência etc. à excepção de jogadores que jogaram pelo menos 5 anos na Bundesliga ou tiveram alguma internacionalização pela seleção Alemã. Mas ainda assim, estes, podem ir diretamente para os cursos Federativos, mas com 3 níveis de formação para ultrapassar caso, queiram treinar as ligas profssionais e de referir que esses cursos são avaliados a sério (segundo dizem) e acredito. Depois, os treinadores que trabalham nos escalões de formação são observados por treinadores/formadores das Associações ao longo da sua atividade e uma vez que têm de renovar a sua licença de 3 em 3 anos, essas avaliações feitas têm influência também na renovação de licenças.
As diretrizes da Federação que de certa forma apontam o caminho que eles consideram ser o ideal, são claras, ao nível dos escalões de formação, o treinador não tem de as seguir, mas também dificilmente terá a licença para exercer e dificilmente encontrará trabalho em clubes mais prestigiados. O facto de haver tanta formação de treinadores, provoca também um aumento da qualidade de todos os agentes desportivos. Inclusivamente de pais. O curso é tão barato e com condições tão boas (estadia, alimentação etc…) que até pais vão tirar o curso de nível mais baixo só para poderem acompanhar melhor os filhos. Agora pensem, como todos estes factores conjugados podem influenciar a qualidade do treino e consequentemente do jogador. Depois em termos de incentivos financeiros, claro que a Alemanha é economicamente muito mais forte que Portugal e daí ser possível realizar este investimento. O que permite também, e para mim, esta é a principal condição que inibibe o desenvolvimento do jogador portugues, que o treinaor viva do futebol, nos escalões de formação, sem ser num grande clube da Bundesliga e por não ter de se afirmar taticamente nos escalões de formação para poder subir na carreira e ser treinador profissional.”
Sobre a brilhante mudança de pensamento dos actuais Campeões do Mundo, fica mais uma história. À porta de um Euro de sub19, Meyer e Werner (Schalke e Estugarda) que foram utilizados durante a fase de qualificação foram deixados de fora de Euro. Para quem conhece a qualidade dos jogadores referidos pode parecer estranho, porque eram claramente as estrelas da companhia. Acontece que os dois, nos respectivos clubes, tinham conquistado espaço na equipa sénior e por isso, a decisão de os levar ao Europeu tinha como consequência directa o perder da pré-temporada nos seus clubes. Para que não perdessem espaço nas escolha dos seus treinadores, e conseguissem competir de igual com o restante plantel, a decisão foi óbvia. Nunca nenhuma Federação do Mundo sonhou sequer tomar tal decisão, nem mesmo a espanhola. Mas formação é mesmo isto. Tomar todas e mais algumas medidas que vão ajudar o jogador no futuro. Formar não é ganhar agora, é ganhar no futuro. E na Alemanha pensa-se como em nenhum lado do planeta nisto. Olha-se para Portugal, e quem viu a final do Torneio da Pontinha, percebe que aqui nos encontrámos numa espécie de planeta dos macacos, tal é o atraso ao nível da mentalidade.
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