Ao treinador caberá proporcionar o máximo de organização possível. Mesmo que na “aparente desorganização”. Princípios comuns, que todos percebam e que todos cumpram. Dizia Vitor Pereira:
Se a bola do Kelvin fosse ao poste o trabalho iria por água abaixo porquê? O trabalho estava feito!
Ser um bom treinador não se reflectirá somente nas pontuações e nos troféus. Ainda que seja inegável que fazendo um bom trabalho (na semana, construindo um modelo de jogo que sirva os interesses do clube e das individualidades ao dispor), estará mais próximo de ter os tais resultados. Mas, não se ignore que não se podem fazer comparações entre uns e outros quando os contextos são díspares. O pior treinador do mundo nunca perderia com o melhor se liderasse um Barcelona contra o Reguengo de Monsaraz. E como tal, poderá ser bastante pernicioso pegar no resultado para determinar competências.
Muito do papel do treinador passa por retirar ao máximo possível o lado caótico do jogo. Ou pelo menos, dentro do caos, haverem normas, situações e formas de actuação bem identificadas e comuns por todos. Estarão melhor preparadas pelo seu treinador, as equipas que tenham o conhecimento sobre uma boa parte do que se passará, e saibam como intervir em função do que está a acontecer.
Todavia, nunca o jogo perderá o seu lado aleatório. As dez ocasiões criadas que não entram, contra a única que o adversário cria para uma derrota injusta. Ou o controlo e domínio do jogo, sem influência no resultado por um livre a meio do meio campo que acaba dentro da baliza. O erro técnico aqui e ali. E nenhum treinador do mundo controla o aleatório. E se hoje perde um e ganha outro por imponderáveis, amanhã trocarão de papeis o vencedor e o derrotado, porque não há “sorte” ou “azar” que dure eternamente quando não é construída em cima de uma organização competente.
Num dos “piores” El Classicos da história recente, adiantou-se um insípido Barcelona, numa bola parada, quando até então a sua competência sobre o jogo e sobre o adversário havia sido bem diminuta.
Entra o inigualável Andrés Iniesta, e todo o jogo muda. Controlo, domínio, criação. Um Barcelona que até então nada tinha de Barcelona, a fazer adivinhar que o placard cresceria. Termina a partida com o empate.
Duas formas de tentar entender o(s) jogo(s):
a) partir do resultado, e crer que o domínio, e a forma como o Barcelona circulou e criou na última meia hora é pouco relevante porque não tem (teve) reflexo no resultado, e portanto pouco interessante de se recriar tal dinâmica;
b) perceber que o certo, que o que guiará mais vezes ao bom resultado é o processo demonstrado na última meia hora, cujo resultado foi de 0 a 1. E não o que apresentou na primeira hora, em que venceu por 1 a 0.
Aquilo que mais me frustra quando discuto futebol com alguma da minha malta.
A célebre dicotomia jogar vs resultado. É muito difícil fugir à ditadura do resultado.
Um à parte.
Muitas vezes utilizamos a expressão “jogador tal sabe tudo do jogo”, aplica-se, na liga Portuguesa, ao Jonas, ao Bryan, ao Oliver, etc…
Acho que temos um critério muito lato.
Ver Iniesta jogar é qualquer coisa, um autêntico tratado de futebol, esse sim, sabe tudo do jogo, sabe tanto que nem precisa da notoriedade para ser o mais importante da sua equipa.
Que me perdoem os fans de Xavi, de Zidane, etc… Mas Iniesta é o melhor médio que alguma vez vi jogar, um prazer.
Um abraço,
“Que me perdoem os fans de Xavi, de Zidane, etc… Mas Iniesta é o melhor médio que alguma vez vi jogar, um prazer.”
Completamente de acordo.
E a esses pode juntar centenas de outros, incluindo Bergkamp.
Viu Laudrup jogar? É como Iniesta mas pior, porque jogou há 25 anos (Iniesta e Laudrup são como Messi e Maradona, nesse quadro relativo. O tempo em que jogaram é a única que para efeitos de qualidade os destrinça.)
Vi pois, gostava de ambos os manos Laudrup, havia outro gajo muito bom na Dinamarca da altura, o Kim Vilfort.
Mas eram outros tempos, um bocado mais românticos, onde o Riquelme teria a visibilidade que nunca conseguiu.
Mas o MM negligenciou outro génio da altura, o Enzo Francescoli.
Enfim, nunca mais saíamos daqui, mas de facto, Don Andres supera tudo o que eu já vi, e já vi algumas coisas lol
Maldini, sem dúvida, à escala planetária os que referi em Portugal não entram. Com excepção de Oliver, ainda hoje mais uma Master class sobre futebol.
O substituto de Iniesta no Barcelona?
Um abraço
Claro, Gonçalo. Tudo é dito em função do contexto onde estão. Quando se elogia Ruiz ou Pizzi é sempre comparando com quem joga na Liga Portuguesa. Quando se fala de jogadores de Barcelona, Real ou Manchester…ai sim, fala-se à escala global…
Maravilha.
acho que estás a ser muito simpático ao dizer “um dos piores” clássicos. eu nasci em 77, já vi alguns, e não hesito em dizer que foi o pior, foi confrangedor, foi ao ponto de dar vontade de ir buscar uma colher de gelados para arrancar os olhos de tão mau que foi. tacticamente e tecnicamente. o iniesta lá deu um soprozito à coisa, mas foi terrível.
até o messi andou a falhar recepçºoes e passes fáceis.
movimentos colectivos? nulidade das duas equipas. repelões constantes. posses de bola de 3 segundos sucessivas. atroz. trágico. dramático. vomitoso. comatoso.
apetecia continuar a desfilar adjectivos para desabafar.
por analogia dos equipamentos parecia mais o pior chaves da época contra o pior vitória sport clube da época. e mesmo assim…