Descodificando o Frankfurt – O Próximo Desafio Europeu de Lage

O Sorteio da Liga Europa colocou o Frankfurt no caminho do Benfica. Ao contrário do que se possa pensar, a equipa alemã é uma equipa super competente e com muita qualidade individual. Com alguma naturalidade, face à grande época realizada pela equipa de Adi Hütter , têm se destacado alguns jogadores como Sébastian Haller, Kostic e Luka Jovic que até está emprestado pela equipa encarnada.

Estruturalmente, a equipa germânica organiza-se num 5x3x2 no momento defensivo e desdobra-se num 3x5x2 no momento ofensivo com os laterais (Kostic e Danny da Costa) responsáveis pela largura e profundidade nos corredores laterais. É um sistema táctico que o Benfica não está habituado a defrontar e, portanto, o impacto estratégico desta eliminatória deverá ser maior. Por exemplo, será importante alterar, do ponto de vista estratégico, a forma como vai pressionar a construção adversária, uma vez que, a equipa alemã coloca muita amplitude na sua saída a 3. É, também, importante de referir que, o posicionamento dos três médios pode variar (1+2 como na imagem ou 2+1) de jogo para jogo.

A equipa de Adi Hütter têm um momento ofensivo preparado para rentabilizar as características dos seus jogadores. A grande sensação da Liga Europa não é uma equipa com grande criatividade em ataque posicional, mas têm grande capacidade para criar oportunidades de golo porque potencia as qualidades dos jogadores mais adiantados. Haller e Jovic são jogadores com grande capacidade em zonas de finalização, enquanto que, nos corredores laterais, moram Kostic e Danny da Costa que têm grande facilidade em criar desequilíbrios pela sua capacidade física e velocidade. A maioria das oportunidades de golo em ataque organizado surge em ações de desequilíbrio pelos corredores laterais que originam cruzamentos para Jovic e Haller, principalmente pelo corredor esquerdo. O Frankfurt é, portanto, uma equipa com um jogo exterior de qualidade. Têm, também, capacidade para criar por dentro mas é, quase sempre, com o intuito de voltar fora para chegar a zonas de cruzamento. Têm, ainda, capacidade para explorar a profundidade através dos movimentos na profundidade de Haller ou Jovic.

Em organização defensiva, o Eintracht têm uma capacidade incrível de condicionar a construção adversária no seu 5x3x2 que se transforma num 3x5x2, pelo posicionamento alto dos laterais, quando vai pressionar a construção adversária. A forma como a equipa alemã pressiona e organiza a sua pressão é impressionante e obriga a uma saída mais longa do adversário ou força o erro. Isto não significa que, o Benfica tenha que sair longo. Mas, terá que reinventar a sua rota ofensiva para conseguir ligar apoiado. Fará sentido “fugir” do corredor central onde o Frankfurt é extremamente agressivo e concede menos espaço ao adversário. Caso contrário, se o Benfica pretender ligar por dentro, pela tremenda capacidade do Frankfurt de pressionar e roubar na construção adversária, surgirão sucessivos ataques rápidos à baliza encarnada. Se o Benfica jogar longo, terá espaço para ganhar as segundas bolas!

O momento defensivo é onde a equipa se sente mais confortável, mas confortável porque o pensa para aproveitar os momentos seguintes à recuperação onde é das equipas mais perigosas da Europa. Isto significa que, terá que ser um Benfica extremamente precavido para os momentos com bola e em transição defensiva. Uma das possibilidades para ferir o Frankfurt em ataque posicional será, na minha opinião, a de começar a construir por fora com a intenção de criar a indefinição no lateral adversário, colocando um médio a receber no lugar do lateral que se projecta ou com os laterais mais baixos na construção e os alas largos para fixar laterais do Eintracht em zonas mais baixas.

Na Bundesliga, dados estatísticos confirmam que o Frankfurt é uma das equipas com mais golos em transição ofensiva. A equipa alemã têm um número considerável de golos marcados e oportunidades criadas pela sua incrível capacidade de sair em contra-ataque, mas sobretudo em ataque rápido. Após recuperação, os germânicos são sempre verticais (às vezes, em excesso) na procura da baliza adversária em transição ofensiva, procurando ligar com um dos avançados que baixa em apoio, enquanto que, os dois alas aceleram pelos corredores laterais. Este é, para mim, o momento do jogo onde mais podem criar perigo. A forma como condiciona a construção adversária e rouba a bola em zonas altas permite, também, chegar rápido à baliza adversária. À semelhança do Liverpool, o emblema alemão têm uma capacidade incrível de contra-atacar seja em bloco baixo ou a recuperar em zonas altas para sair rápido.

À Imagem do seu modelo, o actual quarto classificado da Bundesliga é uma equipa extremamente agressiva na sua transição defensiva. Após a perda, são inúmeras as recuperações em zonas altas, até conseguindo inclusive, chegar ao golo através de contra-transições (momento seguinte à recuperação na transição defensiva) ou criar perigo junto da baliza adversária. Isto significa que, a equipa do treinador austríaco têm uma capacidade fantástica de recuperar rápido na sua transição defensiva. Terá que ser, seguramente, um Benfica capaz de sair da primeira pressão em transição ofensiva. Para tal, terá que aproveitar o espaço nas costas dos médios pela forma como, rapidamente, se aproximam do local da perda.

O Frankfurt de Adi Hütter tem um modelo super completo que potencia as características dos seus jogadores. Com um estilo semelhante ao de Klopp e até a Conceição, a equipa alemã já não perde há 15 jogos oficiais e é uma das melhores defesas da Bundesliga. Na Luz, poderemos voltar assistir a mais um grande duelo táctico e estratégico pela competência de ambas as equipas. O próximo desafio europeu de Lage será, portanto, muito complicado pela qualidade individual e colectiva da grande revelação do campeonato alemão.

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2 Comentários

  1. Interessante ler este post após o jogo e verificar como a análise à equipa do Frankfurt está acertada. Também interessante ver como o Lage preparou o jogo para explorar os espaços na defesa do Frakfurt e como foi feliz 🙂

  2. Por acaso saltou-me à vista um pormenor (é mesmo um pormenor) que me parece incorrecto na análise – pelo menos em relação a ontem, porque eu nunca tinha visto o Eintracht jogar – que foi a suposta dificuldade em atacar no corredor central.

    Ontem os alemães deram muito espaço no corredor central, muito mesmo!

    Não era por ali que o Benfica iniciava a construção (mesmo assim o primeiro golo é uma grande jogada de organização pelo corredor central) mas depois de ultrapassada a forte pressão do Eintracht, que não é especialmente organizada (ou pelo menos ontem não foi) apesar de ser extremamente agressiva numa primeira fase, o corredor central abria-se totalmente cheio de espaço, espaço, espaço, espaço – que o Felix, inspirado desde o primeiro minuto, lhes fez pagar bem caro!

    Por outro lado, senti o Eintracht com uma certa ânsia pré-definida de fazer campo grande, seja qual for o contexto do jogo. Lembrou-me o Lopetegui e a obrigatoriedade de ter quase um homem em cada bandeirola de canto, jogando literalmente no campo todo. O Benfica preparou-se muito bem para atacar estas questões. Na minha opinião, com muito mérito do treinador.

    O campo grande do Eintracht provocou uma série de espaços entre corredor central e lateral e os alemães não sofreram mais golos porque o Benfica não tem jogadores de nível mundial, tirando um ou outro miúdo com potencial para lá chegar. Podiam ter saído da Luz com um saco muito cheio e acabaram por levar a eliminatória viva à conta da aselhice de um ou outro camarada. Também é verdade que a abordagem do jogador expulso foi terrível (o Gedson até podia ter falhado e mesmo se marcasse faltavam 70 minutos) e ofereceu o jogo de bandeja ao Benfica.

    Foi uma partida muito gira e acredito que a segunda mão será ainda mais interessante.

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