O ataque do City visto de cima – jogar em função uns dos outros

Informação prévia: o jogo analisado neste post ocorreu no dia 3 de Dezembro de 2017. O Manchester City recebeu, e venceu, o West Ham  por 2-1 com o golo da vitória a ser marcado já dentro dos últimos 10 minutos. O post justifica-se pela câmara de filmagem estar sempre em ângulo superior, permitindo ver sempre todo o campo necessário para análise. O West Ham apresentou-se, grande parte do tempo, em 5x4x1 com duas linhas muito juntas, e em bloco baixo. Esta partida foi uma das primeiras em que o City encarou um adversário a defender desta forma (ainda que fosse a 3ª consecutiva após Huddersfield e Southampton, jogos que ganhou com muita dificuldade), e ainda hoje na liga inglesa é uma das mais utilizadas para tentar contrariar a equipa de Guardiola.

Não sendo, de todo, novidade, o que é particularmente visível nesta perspectiva é a forma como os jogadores do City, independentemente da qualidade da ideia, jogam em função do espaço que o colega liberta, tendo a preocupação de libertar espaço também para os outros.

O West Ham começou o jogo em 5x3x2, em bloco médio-baixo, com Lanzini perto de Michael António na frente. O City, que pendeu claramente para a esquerda, conseguiu jogar nas costas de Kouyaté, médio que basculava para esse lado, com relativa facilidade, até porque o senegalês estava com frequência em inferioridade numérica. 

A partir daqui, o City apresentou bastante dinâmica no corredor esquerdo, evidenciando 3 preocupações, nas combinações entre Danilo-David Silva-Sané (e ocasionalmente Aguero): 

– alguém a ir na ruptura, quer para bola entrar nesse espaço, quer para arrastar adversário

– alguém a repor largura quando colega vai de fora para dentro

– alguém como apoio por trás a juntar a Delph (pivô na 1ª parte)

Com esta dinâmica o City conseguiu chegar a cruzamento de duas formas: mais à largura, arrastando lateral e e ala para dentro com os movimentos dos seus jogadores ou com bola inicialmente mais à largura e  a entrar no espaço entre central e lateral onde, regra geral, Silva apareceu para cruzar. 

Pese embora, não tenha criado uma situação flagrante de golo, o domínio e a facilidade em entrar no último terço, levaram o West Ham a mudar cedo a estrutura defensiva. Lanzini passou a fechar rapidamente o lado direito e a distribuição defensiva passou para 5x4x1. Duas linhas muito compactas que tinham como primeiro e grande objectivo impedir o jogo entre linhas no corredor central.

Os ataques do Manchester City passaram a durar mais tempo e houve bem maior dificuldade em progredir. Guardiola respondeu ao bloco baixo do West Ham com uma distribuição ainda hoje utilizada para enfrentar este tipo de situação: laterais recuados e em zona interior ligeiramente dentro, dois médios interiores permanentemente entre linhas e extremos bem abertos e profundos.

Como é facilmente perceptível na imagem, os jogadores da linha defensiva têm especial protagonismo na construção. Com o adiantamento dos médios e a largura dos extremos, que acaba por arrastar adversários tornando-os muito compactos, é com naturalidade que laterais mas sobretudo  centrais, dirijam o jogo nesta fase. A circulação foi naturalmente paciente mas realizada muito por fora e com dificuldades em entrar no bloco do West Ham

Ao contrário do que seria expectável pela quantidade de jogadores nesse espaço, esta distribuição com a respectiva dinâmica não favorece especialmente o aparecimento do entre linhas. Isto porque a presença em permanência dos médios ali faz com que as duas linhas fiquem ainda mais compactas, também porque não há quem faça movimentos para arrastar a linha defensiva, que com 5 elementos fica confortavelmente de frente para o jogo, sendo que um dos elementos pode sair à pressão e contará, pela proximidade, com a ajuda dos médios. Ligação entre linhas nesta fase aconteceu essencialmente por central-Aguero. O argentino recebia fruto da abertura dos interiores mas não tinha com quem ligar por dentro, limitando-se a devolver para trás.

O posicionamento dos laterais ligeiramente por dentro parece ter como intenção, além de assegurar o equilíbrio em transição, atrair os alas do adversário (que andavam muito por dentro) para o extremo receber à largura com algum espaço e tempo (vindo a bola do lateral ou central). E aqui é decisivo o posicionamento dos interiores. Como estão naturalmente à frente do seu opositor directo, começam as jogadas nas suas costas, tendo assim condições propicias para combinar com o extremo, ora em tabela para extremo ganhar a frente ao lateral, ora aparecendo no espaço entre central e lateral para cruzar/desequilibrar. Caso não fosse possível progredir, os passes entre interior e extremo tinham a vantagem de atrair o West Ham a um lado, ganhando o corredor contrário mais espaço/tempo para jogar.

Uma certa rigidez da distribuição e a falta de movimentos na profundidade fizeram com que, aquando à inserção de um dos jogadores de trás, em condução, no espaço entre linhas, ficasse sem apoio próximo. Os jogadores do City demonstraram, na minha opinião, alguma preocupação excessiva em ser apoio por trás e o portador da bola ficou isolado como é perceptível no exemplo abaixo.

Apesar das ideias, o West Ham com a linha de 5 sentiu-se confortável quando assumiu os 4 médios, porque garantia boa presença na área e o City a chegar por fora não era especialmente perigoso. Ainda que em alguns lances uma melhor definição do portador da bola teria sido o suficiente para criar bem mais dano, ficava a sensação de controlo da equipa de Moyes. Sem surpresa, Guardiola alterou na 2ª parte.

(Abaixo alguns lances da 1ª parte)

Na 2ª parte o City entrou com dois avançados. Jesus substituiu Danilo e juntou-se a Aguero na frente de ataque, ligeiramente descaído para a esquerda). Delph foi para lateral esquerdo, enquanto De Bruyne assumiu o papel de 6. Silva continuou como interior à direita. A outra novidade passou por Sterling, que fez constantes movimentos de fora para dentro, dando liberdade a Walker para subir. Os centrais também apareceram mais adiantados, não raras vezes, bem dentro do meio-campo do West Ham.

Num primeiro momento, Silva auxiliava De Bruyne na construção com Sterling à largura, mas rapidamente os dois jogadores iam para o espaço entre linhas, onde o City passou a ter 4 jogadores. Estes, entre si protagonizaram, movimentos de arrastamento e aproximação a quem recebia no espaço entre linhas. A consequência imediata dos arrastamentos passou pelo deslocamento da última linha do West Ham, fazendo com que o espaço entre sectores passasse a ser à entrada da área ou já junto dela. 

No exemplo abaixo, Sterling recebe bola de Walker com espaço e algum tempo (o possível dentro de área) pela forma como Silva e Jesus fixam defesas. Depois o espanhol irá ser apoio e acabará por rematar. Atacantes mais próximos fazem também criar dúvida aos defesas.

A paciência e a maior mobilidade com que o City moveu a bola durante grandes períodos da 2ª parte, fez abrir espaços entre a linha média do West Ham. Na dúvida se haviam de recuar com a maior presença entre linhas, acompanhando Silva-Sterling ou se saiam à pressão a De Bruyne que gozou de espaço e tempo para dirigir jogo fruto do movimento dos colegas, os hammers tiveram dificuldades. Se na 1ª parte a linha de médios sentiu-se confortável com a circulação à largura, agora para lá disso, tiveram de lidar com o movimento nas suas costas.  Nota para De Bruyne, que fez um excelente jogo nesta posição e naturalmente define melhor (e com mais criatividade) de frente para o bloco adversário que os seus colegas da linha defensiva, além do contexto colectivo que lhe foi bastante favorável

A partida passou por uma fase de indefinição após os primeiros 25 minutos. O jogo partiu um pouco por dois motivos: o West Ham passou a sair para o ataque com mais gente, o que levou a ataques mais rápidos, e por vezes precipitados, do City que acabaram com remates à entrada da área, de perigo questionável.

O golo da vitória é resultado de toda a abordagem para a 2ª parte. Numa altura em que o West Ham já colocava 6 jogadores na última linha, David Silva atraiu a si os 3 médios, a conduzir da direita para o meio e a ir colocar-se entre linhas. Entregou atrás em Delph (no meio) que rapidamente devolveu a bola à direita, o que fez com que De Bruyne, em espaço interior, pudesse cruzar com todo o espaço do mundo. Na área estavam 4 jogadores do City e foi David Silva que nas costas do defesa desviou para a baliza.



Sobre Lahm 42 artigos
De sua graça Diogo Laranjeira é treinador desde 2010 tendo passado por quase todos os escalões e níveis competitivos. Paralelamente realiza análise de jogo tentado observar tendências e novas ideias que surgem no futebol. Escreve para o Lateral Esquerdo desde 2019. Para contacto segundabola2012@gmail.com

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