Identidades como Pedigree

A discussão não tem qualquer importância para o que realmente importa – Que é o Jogo – mas porque é sempre algo presente quando o jogo se discute seja nas redes sociais seja nos media, resolvi abordá-lo, também numa perspetiva de poder ser melhor elucidado sobre um termo ou tema de difícil entendimento.

O Termo Identidade quando aplicado ao futebol pode ser algo demasiado vago. Na verdade, é um termo inexistente no léxico futebolistico e passou a ser adoptado por quem o comenta seja nas redes sociais ou até nos media. Como é inexistente enquanto conceito do jogo, poderá ser passível de ser interpretado de diferentes formas e com isso gerar discussões insípidas por se discutirem conceitos ou ideias diferentes.

Como é um termo inexistente quando aplicado ao jogo utilizo-o com base naquela que é a sua definição mais lata:

Identidade é o conjunto de características próprias e exclusivas com os quais se podem diferenciar pessoas, animais, plantas e objetos inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das diversidades, quer ante seus semelhantes.

Perante tal definição, creio que Identidade aplicada a uma equipa de futebol deve referir-se às características próprias de cada equipa. Se esta estiver ligada ao LADO TÁTICO do jogo – Porque este é aquele que é passível de identificar, ao contrário de questões volitivas, por exemplo. E o que são as características próprias de uma equipa do ponto de vista tático, se não os padrões dos seus comportamentos? E Comportamentos Táticos são antes de tudo o mais: Posicionamentos – Movimentos.

Perante isto, tenho imensa dificuldade em encontrar aquilo que tantas vezes se afirma seja por onde for. A equipa X não tem identidade. E tenho imensa dificuldade porque cada vez mais todas as equipas a uma escala mundial – longe de ser apenas nacional – têm esses padrões – têm essa identidade.

O termo aplicado ao futebol chega a ser tão vago, confuso e aparentemente a relatar apenas gosto pessoal sem qualquer coerência prática que equipas como o Leipzig que mudam posicionamentos e comportamentos de jogo para jogo são associados ao termo Identidade e outras equipas que repetem sistematicamente posicionamentos e movimentos são tidas como sem Identidade.

Mas, e porque giro é colocar tudo em perspetiva – A não Identidade tática do Leipzig, não poderá ser… a sua Identidade? É que… sendo a identidade “o conjunto de características próprias e exclusivas com os quais se podem diferenciar” e tendo presente que nem todos alteram sistematicamente as suas dinâmicas, aqueles que o fazem também se distinguem por tal.

É óbvio que já todos sentimos que fica a sensação de que se pretende aplicar o termo associando-lhe um certo “Pedigree”. O Ajax tinha uma bela identidade, hoje a Atalanta tem uma bela identidade, e amanhã uma qualquer equipa que volte a surpreender – porque inesperado – pelos bons resultados terá o prazer de se ver reconhecida com tão nobre distinção. Mas, será identidade algo que se refira somente ao jogo que associo como bonito e que vence (muito importante esta questão do vencer – mesmo que nos queiram passar que não importa assim muito, é que é só quando fazem boas campanhas que se reconhecem as boas identidades)? Por vezes parece que é isso que se pretende passar, mas como em nenhum lado tal está definido…

Por cá, enquanto não aparecer bem definido o termo identidade associado ao futebol, continuará a ser algo bem concreto relacionado com o seu significado. E por aí difícil é encontrar as tais equipas Sem Identidade. É que para o mal ou para o bem, padrões de jogo são apanágio de todos.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Viva Maldini!
    Parabéns pelo post (apenas mais um fantástico)
    Concordo plenamente com o que dizes.
    Assisti a essa “discussão”, que estavas a ter num programa estes dias no canal 11 (vejo com especial atenção quando estás presente)
    Acho que o pessoal fala muito na identidade apenas nas equipas que ganham,ou porque está na moda falar disso, quando na verdade hoje em dia todas as equipas têm identidade.
    Podemos é gostar mais, ou menos. Ou as equipas ganharem mais ou menos.
    Vejo como exemplo disso o ATL Madrid.
    Toda a gente discute o futebol apresentado por eles, mas que têm identidade não há dúvida (apesar do que o pessoal diz).
    Abraço e continuação de bom trabalho.
    É ótimo termos pessoas como tu, seja em blogue ou em televisão. Tens ideias (boas quanto a mim), mas acima de tudo respeitas toda a gente e brindas nos com as tuas análises.

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