Tecatão e o mandamento de Jesus

Não deixa de ser curioso que ainda com as palavras de Jorge Jesus a ecoarem pela Luz, depois do empate dos encarnados frente ao Nacional (1-1), o FC Porto tivesse tido de usar, frente ao Farense, de um mandamento claramente esquecido pelo rival horas antes. Com o ponto em comum de ambos os jogos terem visto quer Benfica, quer FC Porto, em vantagem, o desperdício dos portistas (com várias oportunidades para dilatarem a vantagem) levou a que o controle do jogo fosse perdido já bem perto do final para, aí sim, seguirem a velha máxima que JJ lembrou horas antes: “Uma equipa que está a ganhar um a zero pode não marcar mais. Não pode é sofrer”. Conseguiu o FC Porto esse desíginio (o de não sofrer neste encontro), o que de alguma forma contrasta com o que tem sido o percurso dos dragões na Liga – que vê o agora 2.ª classificado (de forma isolada) a sofrer uma média de um golo por jogo.

Manafá a explorar o corredor resultou no golo da vitória. Depois desse lance, raramente o lateral teve protagonismo ofensivo (resguardando-se na zona central para evitar transições). Na imagem seguinte pode ver-se Taremi a cumprir o distanciamento social que lhe permitiu espaço para abrir o marcador


Um objectivo (esse, o das clean sheets que têm escasseado) que foi conseguido por vários aspectos. Sendo que um deles possa ter sido o regresso a uma linha defensiva que anda mais perto do entendimento total do jogo que Sérgio Conceição pretende (Marchesín; Manafá, Mbemba, Pepe e Zaidu foram novamente titulares), mas também pela incapacidade dos algarvios em sair das zonas de pressão portistas – bem activas durante a maior parte do jogo. Lá à frente, Taremi e Marega já se sabe, não dão tréguas, sendo que o regresso de Otávio trouxe o equilíbrio naquela zona do qual Conceição não prescinde. Algo que o não balanceamento de Grujic e Uribe (Sergio Oliveira continua indisponível) garantiu na plenitude até o Farense se conseguir soltar definitivamente (mas aí já lá iremos).

Preponderantes nesta vitória portista, o duo Corona-Otávio foi determinante pelas soluções que criavam, pela superioridade que inventavam e pela qualidade como decidiram – fosse na zona central ou mais perto da ala


E se sem bola estava garantida a tal competitividade e equilíbrio, o desvio de Otávio para o meio resultou numa sociedade de bom entendimento entre o brasileiro e o jogador mais do FC Porto. Jesus Corona, fosse no meio, na meia direita, na ala direita (ou na esquerda no começo da 2.ª metade) foi o desestabilizador-mor para a organização defensiva do Farense – criando e abrilhantando com apontamentos de pura classe. E esse entendimento, dos dois criativos, abria um caminho, assim como abriu uma dúvida. É que, visto como um todo, faltou ao jogo do FC Porto uma maior presença dos laterais em zonas de assistência. Facto do qual a excepção que o confirma (Taremi 15′) acabou por valer ao FC Porto uma vitória que poderia, e deveria, ter sido conseguida com outros números. Mas não o sendo, e com a magra vantagem de um golo a perdurar no tempo, os dragões acabariam por ceder o espaço por onde poderia, por um par de vezes, ter surgido o empate. Situações que se antecederam a Sérgio Conceição, que viu a bola bater no ferro duas vezes, antes de lançar os muros (Loum e Diogo Leite, num 541) que garantiriam o mandamento de Jesus.

FC Porto sempre muito atento ao pormenor das primeiras e segundas bolas. Aqui Grujic e Marega criam superioridade na zona onde a bola batida por Marchesín vai (não por coincidência) cair.
Otávio, sempre ligado ao jogo, vai ocupar a posição que Taremi deixou para ganhar uma bola aérea.
Novamente Otávio, desta vez a conduzir transição que poderia ter dado o 0-2. Bola sai curta e faz travar Corona que, ainda assim, não deixa o lance perder-se (temporizando para a entrada de Marega)

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