Zona pouco (im)pressionante

Há treinadores que celebrizam expressões, ideologias e conceitos, termos tácticos e afins. E se bem que haja a certeza que a pressão alta já existia antes de José Mourinho, (talvez pela idade) não me recordo do termo ter sido tão recorrentemente usado em Portugal antes dos anos dourados do setubalense no FC Porto. Com Derlei à cabeça, todo aquele FC Porto era uma máquina de roubar bolas o mais à frente possível. Pois bem, os tempos mudam e para cada conceito que vai vingando se arranjam contra-conceitos ou, se quisermos, soluções. Assim, a cada jogo que a pressão alta foi evoluindo e castigando adversários, surgiu um jogo-directo para um jogador ou zona previamente planeada, como foi surgindo, pela mão do Barça de Pep Guardiola, uma evolução imensa do sair a jogar de trás com critério. E tal é hoje essa evolução que a pressão alta desperta agora mais dúvidas aos treinadores que no antigamente. Se quisermos, usá-la contempla agora muitos mais riscos que nos tempos que José Mourinho a celebrizou em Portugal.

Zaniolo, tal como Cuadrado na Juventus, tinha a missão híbrida de fechar no meio e na linha defensiva. Sistema da Juve criou dilema pressionante a Mourinho que via difícil fechar a saída adversária sem abrir a ala direita contra uma equipa que se sente imensamente confortável a construir a partir de trás. Em vantagem então…



E tal fica claro quando, quase 20 anos depois de pegar no FC Porto, a Roma de José Mourinho revelou uma crise de identidade nos momentos para pressionar a Juventus de Max Allegri. E num jogo onde as organizações defensivas se superiorizaram no último terço, a balança pendeu para os bianconeri na hora de condicionar ações do adversário. A Roma, pelo contrário, nunca foi intensa o suficiente para colocar em causa a gestão do jogo que Danilo, Bonucci e Chiellini faziam, algo que depois do golo de Kean (16′) se tornou um problema gravíssimo para qual os gialorossi não arranjaram solução.

Se com o resultado a zeros tal não se revelou um enorme problema, com a vantagem no marcador a Vecchia Signora geriu o jogo a seu bel-prazer. E a única coisa que a poderia incomodar seria a Roma arranjar maneira de condicionar as suas saídas. Sendo que a maneira mais fácil de o fazer seria sempre atrair para a ala e encurralar. Mas ao contrário da Juventus, quando a bola entrou nessa zona, a equipa de José Mourinho nunca mostrou a organização e a intensidade suficiente para retirar máximo partido de poder deixar a outra ala livre para pressionar essa zona. E não o fazendo, as soluções foram escasseando e os minutos foram correndo. Outra solução seria fazer o 3v3 para o encaixe total na saída da Juve, algo no qual Mourinho não quis apostar e que pelas expressões mostradas Tammy Abraham pareceu discordar – ele que não escondia a frustração da saída da Juventus sair tão fácil.



E a prova que este foi um momentochave no jogo, é que o golo da Juventus surge numa dessas saídas que ficaram por abafar, assim como a melhor oportunidade da Roma nasce do único erro na saída-de-bola dos de Turim. Parece então certo que este foi um dos handicaps da Loba neste clássico. Algo que contempla, ainda assim, maior discussão do que o certo ou errado, o competente ou incompetente, que se costuma atirar facilmente quando uma equipa perde. Há realmente um dilema no futebol de hoje no que concerne pressionar saídas. E aquilo que pode parecer resolver um problema, pode facilmente vir a arranjar outro. No entanto, sem querer criar uma teoria que sairia vitoriosa (porque eu não tive de jogar este jogo) notei que o golo da Juventus criou reação adversa na equipa de José Mourinho. É que mesmo quando o encaixe era possível, poucas vezes se notou intensidade, crença e confiança para ir ao duelo com tudo. Algo que se viu mais na Juventus (ainda que também a espaços) e que parece ser a âncora de Allegri para criar a sua nova versão da Velha Senhora. Não me parece, assim, que a Juventus sofresse neste jogo um golo igual ao que marcou. Um golo que como sabemos decidiu o jogo, mas que – como os vídeos demonstram – não nasceu do acaso.

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