A que horas joga Portugal?

Dos seis jogadores em risco de falharem o decisivo confronto com a Sérvia, Fernando Santos deixou cinco de fora. Apenas Palhinha foi a jogo, e tal permitiu desde logo perceber-se que a prioridade seria sempre o jogo final. Até porque na Irlanda, vencer ou empatar daria igual.

O Triângulo do meio campo luso foi variando os seus vértices pela mobilidade de Matheus e Bruno Fernandes. Palhinha foi o elemento que ficou sempre mais recuado, Bruno Fernandes e Matheus posicionavam-se como interiores no momento ofensivo de Portugal, alternando a configuração tática nos momentos em que perdia a bola, baixando por diversas vezes Nunes para o lado de Palhinha enquanto Bruno Fernandes beneficiava de maior liberdade para defender em zonas mais altas.

As escolhas iniciais de Fernando Santos promoveram essencialmente a dimensão física do jogo de Portugal, abdicando de maior capacidade talentosa na relação com a bola e com o jogo. Se no meio campo Bruno Fernandes poderia ser o homem que carregasse o jogo para as zonas de definição, na frente a junção Guedes, Ronaldo e André Silva (que defendeu como extremo enquanto Cristiano se posicionou defensivamente como o número 9), retirou possibilidades de jogo em espaços reduzidos e de criatividade em ataque posicional.

Com Dalot e Nelson Semedo sem a desenvoltura ofensiva necessária para desequilibrarem nos corredores laterais, e sem ligações e capacidade para entre linhas receber e definir com criatividade, Portugal entregou-se a um jogo pouco condizente com o talento que tem à sua disposição. A primeira parte ficou marcada pela construção e sobretudo criação insuficiente. E quando tal acontece, naturalmente poucas oportunidades para se poder ser feliz surgem.

Danilo e Pepe foram os melhores jogadores portugueses da etapa inicial e tal revela o quão incaracterístico foi o jogo luso. Não impusemos o nosso talento, mas antes quisemos igualar os aspectos condicionais. Se não ficámos a perder, também não tirámos qualquer vantagem de tal opção.

Os primeiros dez minutos da segunda parte não foram melhores, e sem demonstrar capacidade de se assumir em posse, Fernando Santos promoveu as primeiras mudanças. As entradas de Moutinho e Rafael Leão trouxeram maior velocidade de decisões e de circulação da posse, mas as melhorias não foram significativas.

Nasceu de uma transição o único lance de relevo na primeira metade do segundo tempo. Bruno Fernandes conduziu o lance até André Silva que do corredor direito cruzou para o remate de cabeça de Cristiano, que passou próximo da baliza de Bazunu.

Para os últimos quinze minutos estavam guardados João Felix e Renato Sanches. As trocas com Bruno Fernandes e André Silva pretendiam trazer mais talento para a frente ofensiva, e maior irreverência na condução dos ataques a partir do sector intermédio. Não descurando a necessidade de resguardar Bruno para a partida decisiva com a Sérvia.

Se a intenção de dotar a selecção de maior dose de irreverência e talento depois de tamanho aborrecimento, dois disparates inacreditáveis de Pepe que lhe valeram uma expulsão, remeteram Portugal para a sua rectaguarda, agora organizado num 4x4x1. Fonte rendeu o entrado Rafael Leão, Renato fechou o corredor direito e Felix o esquerdo, enquanto Moutinho e Palhinha preencheram a zona central do sector intermédio.

Os minutos finais foram de aperto sobre a última linha. A Irlanda tomou conta do jogo em Organização Ofensiva, e procurou carregar pelos corredores laterais, servindo a área num estilo de jogo que tão propício lhes é.

Sem jogar e a sofrer, mas conseguiu a equipa de Fernando Santos garantir um dos resultados que importava para partir em vantagem assim que se iniciar o confronto decisivo contra a Sérvia. Novo empate garantir-nos-à a presença no Mundial do Qatar.


Rating: 5 out of 5.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*