City-Chelsea: Nas Kovas

Com ferros matas, com ferros morres, é uma ideia que, apesar de fazer generalização fácil, se pode aplicar a um dos jogos mais aguardados da época futebolística. Hoje por hoje Man City e Chelsea (juntamente com Liverpool e Bayern Munique) são a nata do futebol europeu. Daí que os seus confrontos gerem elevado interesse. Não por facilmente se tornarem um daqueles jogos cheios de golos e oportunidades, que ficam eternizados na memória dos adeptos (tal como este último Chelsea-Liverpool), mas por serem a síntese perfeita das voltas que o futebol actual dá à cabeça dos treinadores. E se Tuchel começou melhor – vencendo até a Liga dos Campeões numa final contra os cityzens (jogo que iremos também abordar neste texto), hoje é Guardiola quem volta a ditar as leis. Mas para lá chegar, o técnico catalão viu-se obrigado a repensar as rotas por onde o seu futebol de posse tentava controlar os blues. E olhando para o jogo do passado sábado foi demasiado notório que o City tentou na maior parte do tempo ser bastante paciente e, sobretudo, evitar as zonas de Kanté e Kovacic para evitar perder bolas que validassem o bloco médio/baixo de Tuchel.



Uma ideia que De Bruyne enfatizou na flash depois da vitória conseguida com um belo golo da sua autoria. E foi indo, pacientemente, por fora do bloco que o City foi conseguindo supermacia no jogo. Mas até lá não evitou uns sustos (leia-se umas bolas recuperadas pelo duo dinâmico do miolo blue), transições essas que Tuchel classificou de maneira curiosa. É que normalmente quando uma equipa não acerta os timings de transição, a culpa é atirada para um só lado. São os tempos de passe e não os tempos de entrada os mais visados pela crítica. Mas Tuchel foi peremptório a classificar a actuação do seu tridente ofensivo como desadequada. E para melhor aproveitar esses roubos de bola (que o City não conseguiu evitar ainda o jogo não tinha chegado a meio da primeira metade), garantiu o alemão que seria necessário uma melhor prestação da parte de Ziyech, Lukaku e Pulisic. Ao falharem esses tempos de entrada foram os avançados os visados de um técnico que ainda assim deixaria escapar que também os lançadores não estiveram ao seu nível.



Não se reeditou assim a supremacia dos de Londres que se vinha evidenciando nos jogos da passada época, e que na presente assiste a um declínio evidente dos de Tuchel. E se na primeira volta Thomas enfatizou a falta de atitude, de confiança, de certeza e de espírito ganhador (em detrimento da mudança táctica para 352), desta vez o Chelsea não conseguiu soltar-se e validar a sua estratégia por falta de acerto na transição ofensiva. Algo que, ainda assim, não redundou num massacre dos de Guardiola que, avisados para esse perigo, não foram a equipa de risco com o qual finalizam as suas longas posses. Muita bola por fora, muita bola a evitar o raio de ação dos dois médios do Chelsea e pouquíssimo peso na área, foram redundando sim num chato 0-0 que a estratégia dos dois técnicos não se fartava de desenhar. E enquanto se ia esperando pela subida no campo da pressão do Chelsea (que precisava muito mais de ganhar do que o City) e quando já se viam as movimentações de Hudson-Odoi e Werner para entrarem (e talvez serem eles os porta-estandartes dessa mudança de estratégia) eis que Kevin de Bruyne decidiria o jogo a favor da equipa que, dada a contingência, mais fez do que o jogo pedia. Um golo que puxa para título a qualidade individual do belga, pela forma como passou por Kanté e pela forma como colocou a bola, mas que deixa nas entrelinhas um pormenor que acaba por ser importantíssimo.

E se a final da Liga dos Campeões nos mostrou um Gundogan a chegar atrasado a uma zona nuclear do terreno, aquando do golo de Kai Havertz no Dragão, a história mostra-nos hoje que o Chelsea, Tuchel e Kovacic também podem sofrer do mesmo mal. É que o croata acabou por não conseguir ler a jogada a tempo de fazer uma cobertura que poderia ser preciosa – tal como Gundogan no Dragão. E vendo o vídeo se repara que teve bastante tempo para o fazer – sendo que acelerou e travou duas vezes, confiando mais em Kanté do que em fazer o que realmente tinha para fazer numa jogada desse tipo. E ironia das ironias, não só o City acabou por vencer com o mesmo ferro que havia perdido em maio, mas acabou por vencer também jogando pela zona que evitou a maior parte do tempo. O que nos remete para a opção de Tuchel de recuar o bloco na maior parte do tempo. Veremos mudanças nos próximos jogos entre os dois? Ou a opção do alemão é justificada nas duas derrotas com o City este ano? Olhando para os argumentos (falta de atitude competitiva no primeiro jogo, e falta de timing nas saídas no segundo) é justificada a opção de Tuchel? É que olhando para o tempo em que foi obrigado a subir e a assumir a iniciativa (o tempo que restou depois do golo de De Bruyne) o Chelsea não foi uma equipa que estendeu passadeiras. O jogo continuou equilibrado pelo que será pertinente perguntar: serão os receios de Thomas infundados ou legítimos?

1 Comentário

  1. Lembro-me de um jogo com um enquadramento estrategico parecido em Portugal. O Benfica-Porto de 19/20. O Benfica vinha de ser campeao com o Lage mto atraves de um jogo interior fortissimo. O Sergio Conceicao fechou a zona interior com danilo e uribe e o Benfica nao soube jogar por fora. Levou dois golos em contra ataque/ ataque rapido, e perdeu 2-0. Mesmo tendo muito mais bola

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